Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
A Justiça Federal do Rio Grande do Norte condenou o deputado
Eliéser Girão (PL), conhecido como General Girão, por danos morais coletivos ao
incentivar atos antidemocráticos após as eleições de 2022. O parlamentar deverá
pagar R$ 2 milhões em danos morais coletivos. Girão também deve apagar
postagens no Instagram, no X (antigo Twitter) e Facebook em até dez dias. A
ação civil pública tramita na 4ª Vara da Justiça Federal no RN e ainda cabem
recursos da decisão.
Conforme afirmado na sentença, a atitude de Girão “afronta o
Estado de Direito, a ordem jurídica e o regime democrático, pondo em ameaça a
legitimidade do processo eleitoral e a atuação do Poder Judiciário, além de
configurar discurso de ódio contra as instituições democráticas com divulgação
de notícias falsas (fake news) acerca do resultado das eleições, confundindo e
incitando o povo e as Forças Armadas à subversão contra a ordem democrática”.
Segundo o MPF, General Girão usou ativamente suas redes
sociais, em claro abuso da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar,
para encorajar condutas que atentavam contra a ordem democrática, inclusive a
continuidade do acampamento existente à época em frente ao 16° Batalhão de
Infantaria Motorizada em Natal.
De acordo com o Ministério Público, as ações do parlamentar
não estão protegidas pela liberdade de expressão nem pela imunidade
parlamentar. “Em postagem feita um mês antes da invasão dos prédios do STF, do
Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, o réu já instigava a violência
contra as instituições, especialmente o Congresso”, ressalta o MPF.
O MPF ressaltou também que Girão, na condição de deputado
federal e general da reserva do Exército, desempenhou um papel significativo na
articulação e incitação de atividades criminosas. "A vontade do réu em ver
a concretização de um golpe de Estado, como se sabe, quase se consumou pouco
mais de um mês de tal postagem, havendo nexo de causalidade entre conduta e
dano", afirmam os procuradores do MPF.
Justiça também condenou a União e o RN
A decisão também condena a União, o estado do Rio Grande do
Norte e a cidade de Natal, por omissão a democracia ao permitir a continuidade
dos acampamentos e a obstrução irregular da via em frente ao 16º Batalhão de
Infantaria Motorizado (Batalhão Itapiru), localizado na capital potiguar.
De acordo com o MPF, "a sentença determina o pagamento,
entre todos os réus, de R$ 5 milhões em indenizações e a exclusão de
publicações em redes sociais do deputado, além da realização de evento público
e ações educativas para coibir atos contra o Estado Democrático de
Direito".
A ação do MPF também evidenciou que os então líderes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, que fazem parte da União, emitiram uma
declaração em novembro de 2022 incentivando os acampamentos. Além da
indenização de R$ 2 milhões, a União será responsável por realizar, em até 60
dias, uma cerimônia pública de pedido de desculpas, com a presença dos
comandantes.
Além disso, a União terá o dever de oferecer um curso de
formação para os militares de todo o país, com a finalidade de reavaliar os
atos antidemocráticos ocorridos em 2022 e ressaltar a importância do respeito,
por parte dos integrantes das Forças Armadas, aos princípios que fundamentam o
Estado Democrático de Direito.
O Correio tenta contato com o deputado General Girão e com a
assessoria do Ministério da Defesa, mas até o momento da publicação da matéria,
não obteve resposta.
Correio Braziliense