O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) encerrou
intempestivamente uma entrevista coletiva no 1º Distrito Naval, no centro do
Rio de Janeiro, na manhã desta sexta-feira, 16. Ele estava sendo questionado
sobre a continuidade dos atendimentos de saúde no Programa Mais Médicos, já que
cerca de 8,3 mil profissionais podem deixar o País com decisão de Cuba de
interromper a parceria.
Bolsonaro respondeu somente uma pergunta após ser
questionado sobre o Mais Médicos – não comentou, por exemplo, a indicação do
economista Roberto Campos Neto para a presidência do Banco Central (BC).
"Como o assunto saiu da área militar, quero agradecer a todos vocês
aqui", disse ele, pondo fim à coletiva, que durou menos de 4 minutos.
O presidente voltou a criticar os termos do acordo com Cuba
no Mais Médicos, que prevê o repasse direto ao governo caribenho de 70% dos
salários dos profissionais de saúde. Repetiu que a situação dos profissionais
de saúde cubanos é “praticamente de escravidão” e questionou a qualidade dos
serviços prestados.
“Nunca vi uma autoridade no Brasil dizer que foi atendido
por um médico cubano. Será que devemos destinar aos mais pobres profissionais,
entre aspas, sem qualquer garantia de que eles sejam realmente razoáveis, no
mínimo? Isso é injusto, é desumano”, disse.
O presidente defendeu o exame presencial de validação do
diploma dos médicos incluídos no programa. “O que temos ouvido, em muitos
relatos, são verdadeiras barbaridades. Não queremos isso para ninguém no
Brasil, muito menos para os mais pobres. Queremos o salário integral e o
direito de trazer a família para cá. Isso é pedir muito? Isso está em nossas
leis, que estão sendo desrespeitadas”, resumiu o presidente eleito, antes de
encerrar a entrevista, que durou menos de cinco minutos.
Bolsonaro também prometeu asilo político para todos os
médicos cubanos que pedirem. “Há quatro anos e pouco, quando foi discutida a Medida
Provisória (que criou o Mais Médicos), o governo da senhora Dilma disse, em
alto e bom som, que qualquer cubano que, por ventura, pedisse asilo, seria
deportado. Se eu for presidente, o cubano que pedir asilo aqui, se justifica
pela ditadura da ilha, terá o asilo concedido da minha parte”, afirmou o
presidente eleito.
Bolsonaro permaneceu no 1º Distrito Naval por
aproximadamente duas horas, reunido com o comandante da Marinha, almirante
Eduardo Barcellar Leal Ferreira. O presidente eleito disse que o comandante da
Marinha chegou a ser convidado para o Ministério da Defesa, mas declinou do
convite por razões familiares. “(O almirante Leal Ferreira) não se afastará do
meu radar. Sempre o procurarei para que boas decisões sejam tomadas, em
especial na área aqui da Marinha”, disse o presidente eleito.
Questionado sobre os futuros comandantes de Marinha,
Exército e Aeronáutica, Bolsonaro disse que o tema está sendo tratado pelos
generais (Augusto) Heleno (futuro ministro do Gabinete da Segurança Institucional)
e Fernando (Azevedo e Silva, futuro ministro da Defesa).
“Não é uma escolha minha. Quem realmente vai trabalhar com
os comandantes será o general Fernando. A ele cabe a grande responsabilidade de
indicar. Obviamente, como é praxe em nosso meio das Forças Armadas, eles vão
ouvir os atuais comandantes para escolher, não digo o melhor, porque todos os
quatro estrelas são competentes e estão aptos a cumprir a missão, mas aquele
que melhor se encaixa no atual cenário nacional”, completou.
Questionado sobre a carta que os governadores enviaram ao
futuro governo, com reivindicações, Bolsonaro disse que ainda não teve tempo de
estudá-la. “A carta dos governadores ainda não tive a oportunidade de estudar,
juntamente com o Paulo Guedes. Li, mas não estudei com o Paulo Guedes ainda
para dar uma resposta aos senhores”, afirmou o presidente eleito, na última
resposta antes de encerrar a entrevista.
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, saiu em defesa dos
médicos cubanos que participaram do programa Mais Médicos, no Brasil, encerrado
unilateralmente pelo governo do país caribenho nesta quarta-feira, 14. Sucessor
de Raúl Castro, ele afirmou que os médicos prestaram um “valioso serviço ao
povo brasileiro” e que atitudes assim devem ser “respeitadas e defendidas”.
O convênio com o governo cubano é feito entre Brasil e a
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). "Diante desta realidade
lamentável, o Ministério da Saúde Pública (Minasp) de Cuba tomou a decisão de
não continuar participando do programa Mais Médicos e assim comunicou a
diretora da Organização Panamericana da Saúde (OPAS) e aos líderes políticos
brasileiros que fundaram e defenderam esta iniciativa", anunciou o governo
cubano em comunicado.
Contratação
O Ministério da Saúde realizará nesta sexta-feira uma
reunião com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) para a definição da
saída dos médicos cubanos do programa Mais Médicos e a entrada de profissionais
brasileiros a serem selecionados por edital.
Segundo informações do ministério, ainda será finalizada a
proposta de edital para a seleção dos profissionais para as 8.332 vagas que
serão deixadas pelos médicos cubanos. O governo de Cuba anunciou nesta semana o
rompimento unilateral da participação no programa Mais Médicos. O motivo para a
decisão foram as declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro com críticas
ao programa.
De acordo com o Ministério da Saúde, no início da próxima
semana, será dada entrevista à imprensa para esclarecer os detalhes sobre o
edital de seleção e chamada para inscrições. A seleção de profissionais
brasileiros em primeira chamada do edital será realizada ainda no mês de
novembro, de acordo com a Pasta, e o comparecimento aos municípios,
imediatamente após a seleção – Estadão.
Carlos Magno