A equipe de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro
(PSL) anunciou nesta terça-feira o deputado federal Luiz Henrique Mandetta
(DEM-MS) como o futuro ministro da Saúde, a partir do dia 1º de janeiro de
2019. O anúncio ocorreu no começo da tarde, no hall do Centro Cultural do Banco
do Brasil (CCBB) de Brasília, onde trabalha o grupo de transição.
Coube à deputada Carmen Zanotto (PPS-SC) fazer o anúncio.
"O nome dele (Mandetta) já tinha sido ventilado pelo Bolsonaro como
possível ministro, na imprensa, há alguns dias. Na semana passada, a Frente
Parlamentar da Saúde (FPS) e outras frentes da área se reuniram na Câmara para
discutir. Ele tem o apoio das frentes. Tem também o apoio dos hospitais
filantrópicos e das entidades médicas", disse ela à BBC News Brasil,
depois do anúncio oficial.
Sul-matogrossense da capital Campo Grande, Mandetta é médico
formado pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro (RJ). Em seguida, no
começo dos anos 1990, fez residência no serviço de Ortopedia da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS) - o serviço era chefiado pelo pai dele, o também
ortopedista Hélio Mandetta, que foi vice-prefeito de Campo Grande, nos anos
1960.
Poucos anos depois, fez uma especialização em ortopedia
infantil em Atlanta (EUA). Ainda nos anos 1990, trabalhou durante um ano como
médico do Exército, no posto de tenente - o período correspondia ao serviço
militar obrigatório da época.
Mandetta entrou para a política em 2005, assumindo a
Secretaria de Saúde da cidade de Campo Grande, no governo de Nelson Trad Filho
(MDB), conhecido como Nelsinho Trad. Antes, de 2001 a 2004, foi presidente da
Unimed de Campo Grande. Em 2010, candidatou-se para seu primeiro cargo público,
o de deputado federal.
Foi eleito com 78,7 mil votos. Já no primeiro ano de
mandato, foi escolhido por seus pares como presidente da Comissão de Seguridade
Social e Família (CSSF), uma das mais importantes da Câmara.
Em 2014, Mandetta reelegeu-se deputado federal com 57,3 mil
votos. Naquele ano, o deputado recebeu uma doação de R$ 100 mil da Amil, uma
operadora de planos de saúde - o valor representa menos de 5% dos R$ 2,1
milhões que ele declarou ter arrecadado naquele ano.
Como Mandetta chegou
ao cargo?
Politicamente, Mandetta integra o grupo político da futura
ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS). Pesaram na indicação dele os
apoios de entidades da área médica e de hospitais filantrópicos, como as Santas
Casas, além de deputados ligados à área da saúde e que apoiarão o governo
Bolsonaro.
Além de Cristina, Mandetta teve o aval do ministro
extraordinário da transição, Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Apesar disso, o
Democratas trata as indicações como escolhas pessoais de Bolsonaro.
A indicação de Mandetta foi oficializada numa reunião com
representantes do setor de saúde e parlamentares ligados ao tema, no CCBB.
Em sua primeira entrevista a jornalistas depois do anúncio,
Mandetta atribuiu sua indicação ao apoio das entidades. "Praticamente todo
o setor organizado (estava presente). Dos enfermeiros, dos médicos, de todas as
demais profissões (...). Tiveram, pela primeira vez, um presidente que chamou o
setor, dialogou com o setor para que a gente possa iniciar os trabalhos de
recuperação da saúde brasileira", disse.
O futuro ministro comandará a pasta com um dos maiores
orçamentos da Esplanada. O Orçamento de 2019 reserva cerca de R$ 128 bilhões
para a Saúde.
Por conta de seu trabalho como secretário de Saúde de Campo
Grande, Mandetta responde a um inquérito que investiga suposta fraude em
licitação, tráfico de influência e caixa dois - a investigação gira em torno da
implementação de um sistema de prontuário eletrônico. Segundo uma auditoria da
Controladoria-Geral da União de 2014, o pagamento foi feito, mas o sistema não
foi instalado.
O futuro ministro nega irregularidades. Em entrevista nesta
terça, disse que exigia auditorias frequentes do contrato enquanto era
secretário, e que a implementação do projeto foi descontinuada por uma decisão
posterior da prefeitura.
"E aí um deputado de um partido de oposição resolveu
fazer essas denúncias. A gente se sente desconfortável, mas quem é uma pessoa
pública tem de se submeter a essas situações", disse. Ele disse também que
alertou Bolsonaro sobre o inquérito antes ainda de ter seu nome ventilado para
o cargo.
Mandetta também será o primeiro ministro da Saúde fumante em
vários anos. Assim como vários outros deputados, frequentava o
"fumódromo" em frente ao Salão Negro da Câmara nos intervalos das
sessões.
Cubanos vieram em
'navio negreiro do século XXI'
Em 2013, Mandetta notabilizou-se como um dos principais
opositores ao programa Mais Médicos, criado na gestão da ex-presidente Dilma
Rousseff (PT). Num texto em primeira pessoa publicado em seu site, Mandetta diz
que o programa era "muito eleitoreiro".
"O governo não mais exigiu provas, tratou esses
trabalhadores, não como trabalhadores individuais, mas como trabalhadores de um
país como uma commodity, atingindo os trabalhadores, retendo seus salários
retendo seus documentos, proibindo seu deslocamento livre no território
brasileiro permitindo que supervisores do regime de Cuba fizessem esse tipo de
fiscalização política de suas atividades e isso mereceu de minha parte a mais
veemente condenação", escreveu ele.
Durante a votação que aprovou a criação do Mais Médicos,
Mandetta disse que o convênio do governo brasileiro com a OPAS (Organização
Pan-Americana de Saúde) era um "gato" (como os de energia), e um
"navio negreiro do século XXI". Disse também que o programa era uma
"peça de marketing" da gestão de Dilma.
Na semana passada, quando o governo cubano decidiu retirar
os cerca de 8,4 mil médicos do programa, Mandetta envolveu-se em uma nova
polêmica: propôs que o governo usasse um dispositivo da Lei do Serviço Militar para
obrigar os estudantes recém-formados em Medicina a atuar no programa.
"Você coloca os médicos recém-formados como médicos militares
aspirantes", disse ele.
"Este era um dos riscos de terceirizar uma área tão
essencial. Me parece que era muito mais um convênio entre Cuba e o PT, e não
entre Cuba e o Brasil (...). Nós precisamos de políticas que sejam
sustentáveis. As improvisações em saúde costumam terminar mal", disse ele
a jornalistas em sua primeira entrevista após a indicação – BBC News.
Carlos Magno