A escolha do futuro ministro da Educação do governo de Jair
Bolsonaro (PSL) gerou uma crise da equipe de transição do presidente eleito com
a bancada evangélica no Congresso.
O nome de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton
Senna, definido por Bolsonaro para assumir o cargo, causou reação de deputados
contrários à seleção - Ramos é tido como moderado entre funcionários do
ministério.
Com a pressão por uma desistência do educador, o colombiano
Ricardo Vélez Rodriguez foi chamado às pressas de Juiz de Fora (MG) para
conversar com Bolsonaro nesta quarta-feira (21). O nome do professor já
circulava entre os cotados para a pasta.
Rodriguez é formado em filosofia pela Universidade
Pontifícia Javeriana e em teologia pelo Seminário Conciliar de Bogotá. Hoje é
professor associado da Universidade Federal de Juiz de Fora.
A informação da escolha de Mozart vazou na quarta (21), um
dia antes da reunião marcada com Bolsonaro para selar a indicação. Em nota, o
Instituto Ayrton Senna disse que Mozart não foi convidado e que terá reunião
com Bolsonaro nesta quinta-feira (22).
Nas redes sociais, após a veiculação do nome de Mozart e a
reação da bancada, o presidente eleito disse que "até o presente momento
não existe nome definido para dirigir o Ministério da Educação".
Ao site O Antagonista, Bolsonaro afirmou que "não
existe essa possibilidade", ao comentar a nomeação do diretor do
instituto.
Segundo relato à Folha de S.Paulo de pessoas próximas ao
educador, ele foi sim procurado na semana passada e acenou ao futuro governo
federal que aceitaria o posto.
O plano da equipe do presidente eleito era de que o nome
fosse oficializado nesta quinta após a reunião, em Brasília, quando Mozart e
Bolsonaro discutiriam condições para ele assumir a pasta.
Membro da bancada evangélica no Congresso, o deputado
federal Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ) disse que os parlamentares levaram a
insatisfação ao futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS).Onyx,
segundo ele, confirmou que teve conversas com Mozart, mas que nada havia sido
definido.
Cavalcanti afirmou que o nome de Mozart "desagradou e
muito". "Para nós, o novo governo pode errar em qualquer ministério,
menos no da Educação, que é uma questão ideológica para nós", disse.
O perfil do educador é classificado por servidores do
Ministério da Educação como moderado. Em nenhum momento, por exemplo, ele deu
declarações a favor do projeto da Escola sem Partido ou contra discussões sobre
gênero em sala de aula.
Os dois temas, em debate no Congresso contra o que seria uma
doutrinação partidária por professores, serviram para alavancar o nome de
Bolsonaro no cenário nacional bem antes de sua pré-candidatura presidencial.
Com apoio dos evangélicos, o presidente eleito foi um dos
líderes do movimento contra a discussão do que chamam de "ideologia de
gênero" nas escolas.
No governo Dilma Rousseff (PT), ele denunciou a entrega para
alunos do que, segundo ele, seria um kit em que se ensina a ser homossexual, o
"kit gay", e de um livro de educação sexual para crianças.
A campanha envolvendo esse tema serviu de motor político
para Bolsonaro, como o próprio reconheceu.Mozart chegou a ser sondado pelo
presidente Michel Temer (MDB) para o mesmo cargo em 2016, mas, na época,
recusou. Da mesma forma, declinou de um convite de João Doria (PSDB) para
integrar o secretariado da Prefeitura de São Paulo.
Antes de assumir o cargo no instituto, Mozart foi presidente
do Movimento Todos pela Educação e professor e reitor da Universidade Federal
de Pernambuco. Ele também foi secretário de Educação daquele estado.
Em 2010, em entrevista à Folha, ele disse ser necessário
criar uma agenda para a educação que não seja de governo, mas de Estado.
"Há uma clareza muito grande de que, após a
redemocratização do país, após a economia ficar sólida, a terceira revolução
que a gente tem de fazer é a da educação: é preciso envolver toda a sociedade
nisso", disse.
O desejo inicial do presidente eleito era ter à frente da
pasta a presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, mas ela demonstrou
resistência a assumir o posto.
Na semana passada, em um encontro sigiloso, Viviane e Mozart
se reuniram com o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Após a
reunião, Mozart negou à Folha que tivesse havido sondagem para o cargo
ministerial durante a reunião.
Caso a nomeação se confirme, ela representará um ponto para
a deputada eleita Joyce Hasselmann (PSL-SP), que foi quem apresentou Viviane a
Bolsonaro. Ainda na campanha, Viviane visitou Bolsonaro em sua casa, no Rio de
Janeiro.
Outra deputada federal com ascendência sobre Bolsonaro, Bia
Kicis (PRP-DF), no entanto, reprova a nomeação de Mozart por considerá-lo
"globalista", ou seja, não alinhado ao Escola sem Partido.
Viviane é irmã de Ayrton Senna, piloto tricampeão brasileiro
de Fórmula 1 que morreu em acidente em 1994, enquanto competia na Itália – com informações
da Folhapress.
Carlos Magno