E se existisse um interruptor da ansiedade, que você pudesse
ligar e desligar a hora que quisesse? Pois é nisso que alguns cientistas da
Universidade da North Carolina estão trabalhando. O foco da pesquisa são
pequenas proteínas cerebrais que podem ser a resposta para tratar várias
doenças mentais, sendo a ansiedade a principal delas.
Essas tais proteínas, chamadas receptores de opioides Kappa
(KORs, na sigla em inglês), têm um papel importante na liberação de um
neurotransmissor ligado à dor e às alterações de humor, o glutamato. As KORs
são justamente a porta desse neurotransmissor: é como se elas fossem um portão
que regula a sua saída do cérebro para o corpo. O que os cientistas descobriram
é a chave para abrir e fechar este portão.
O problema é que os pesquisadores ainda não compreendem
totalmente como essa chave funciona, e nem os possíveis efeitos desse abre e
fecha no organismo. Eles só sabem que funciona. Eles usaram ratos de
laboratório para estudar o mecanismo: os bichinhos tiveram as KORs ligadas e
desligadas em situações com diferentes níveis de stress, como, por exemplo, ser
colocado em um campo aberto — o que é bastante assustador se você tiver o
tamanho de um rato.
A partir daí, eles perceberam que o comportamento das
cobaias mudava bastante de uma situação para a outra. Quando as proteínas
estavam desligadas, os ratinhos mostravam sinais de estar menos ansiosos: eles
permaneciam mais tempo no espaço aberto, e não ficavam tão agitados buscando abrigo.
Quando os neurotransmissores saíam do cérebro de uma forma normal, acontecia o
oposto: eles entravam em pânico e ficavam o tempo todo tentando achar abrigo.
Os resultados indicam que as proteínas em questão podem
realmente ser portas que fecham o caminho da ansiedade no cérebro. Ainda não se
sabe se elas funcionam da mesma forma no cérebro dos ratos e no dos humanos,
mas como as estruturas das duas espécies são similares, e como nós também temos
as KORs, os cientistas estão confiantes para começar testes em humanos em
breve.
O próximo passo para o estudo dessas portas é explorar as
diferentes formas de ansiedade, suas causas e seus diferentes impactos no
organismo humano. Essa fase é importante para que os cientistas possam
identificar os usos mais corretos das proteínas em cada neurotransmissão, já
que as quantidades de glutamato que saem do cérebro são diferentes em cada
situação.
As KORs são conhecidas há pelo menos 20 anos na ciência e
são, inclusive, a base para o funcionamento de alguns analgésicos e de
medicamentos. Mas foi a primeira vez que os cientistas conseguiram estudar os
efeitos dessas proteínas sobre as variações de humor — e, efetivamente,
desligar essas pequenas portas.
Mas então, por que a gente não desliga tudo de uma vez?
Afinal, ninguém gosta de ficar suando frio. Acontece que a ansiedade tem um
papel muito importante nas nossas vidas: ela nos avisa sobre situações de
perigo, nos ajuda a ficar espertos e prepara nossa cabeça para importantes
eventos futuros. É só imaginar o que poderia acontecer com um ratinho desses se
ele não ficasse ansioso em espaços abertos — ele seria uma presa muito fácil.
O problema real, que é o que os cientistas buscam
solucionar, é quando os sintomas da ansiedade são constantes e interferem nas
atividades do dia a dia e na nossa capacidade de viver uma vida normal. Essa
situação configura o transtorno de ansiedade, termo guarda-chuva que abrange
várias doenças, como a síndrome do pânico, a fobia social e as fobias
específicas. Para dar uma ideia, só no Brasil, cerca de 47 milhões de pessoas
sofrem com o transtorno em suas diferentes formas. Por isso, a descoberta, se
levada adiante, pode ajudar muita gente a ter uma vida mais equilibrada – Super
Interessante.
Carlos Magno