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10/12/2018

7 assessores de Flávio Bolsonaro fizeram depósitos para ex-motorista. MPF foi alertado sobre “movimentação suspeita”


O levantamento foi feito por VEJA com base em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, mas que irá para a pasta da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, pai de Flávio. Segundo o relatório, esses servidores transferiram no total 116.556 reais para a conta de Queiroz entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017.

 

O ex-PM trabalhou durante cerca de dez anos com Flávio e foi motorista dele na Alerj. Além desses sete servidores, o próprio Fabrício Queiroz depositou outros 94.812 reais nesta conta, mantida em uma agência do banco Itaú no bairro da Freguesia, zona oeste da capital fluminense.

 

O relatório foi produzido no âmbito da Operação Furna da Onça, que levou à prisão dez deputados estaduais do Rio em 8 de novembro. Flávio não é investigado pela operação. Contudo, todos os servidores da Alerj tiveram suas contas bancárias esmiuçadas pelo Coaf, a pedido da Polícia Federal.



 

O Coaf alertou ao Ministério Público Federal (MPF) que havia uma movimentação suspeita de 1.236.838 reais na conta de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. No documento, foram listadas as transferências dos servidores que passaram em diferentes momentos pelo gabinete de Flávio.

 

Os nomes citados no relatório são os da filha do ex-PM Nathalia Melo de Queiroz – que trabalhou no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados -, o de sua mulher, Márcia Oliveira Aguiar, e dos servidores Agostinho Moraes da Silva, Jorge Luís de Souza, Luiza Souza Paes, Raimunda Veras Magalhães e Wellington Servulo Rômulo da Silva.

 

O Coaf não informa as datas exatas dos repasses, apenas que eles foram feitos no período investigado, entre 2016 e 2017. O órgão chama atenção para a “recorrência de transferências envolvendo servidores da Alerj”.

 

No caso de Queiroz, o Coaf explica que as movimentações são suspeitas por três razões: 1) “pagamentos habituais a fornecedores ou beneficiários que não apresentam ligação com a atividade ou ramo de negócio da pessoa jurídica”; 2) “movimentações em espécie realizadas por clientes cujas atividades possuem como característica a utilização de outros instrumentos de transferência de recursos, tais como cheques, cartões de débito ou crédito”; e 3) “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente”.

 

Para o Coaf não há justificativa financeira para haver reiterados depósitos em conta bancária de uma pessoa sem vínculo profissional com quem depositou o dinheiro. Uma das transações suspeitas apontadas pelo órgão é a emissão de um cheque de 24.000 reais para a futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

 

Procurado, o Coaf afirmou que não se manifesta sobre relatórios produzidos para a Polícia Federal devido a questões de sigilo bancário. Segundo um porta-voz da instituição, o conselho apenas recebe informações bancárias, compila os dados e produz relatórios para os órgãos de investigação. Na tarde de quinta-feira, 7, o Ministério Público Federal confirmou a validade do relatório do Coaf.

 

Movimentações e Remunerações

 

O maior depósito alertado pelo Coaf, de 94.812 reais, foi feito pelo próprio Fabrício Queiroz em sua conta. Na sequência, aparecem as transferências feitas pelos familiares do ex-motorista: sua mulher, Márcia, no valor de 18.864 reais, e sua filha, Nathalia, no montante de 84.110 reais (veja tabela completa de depositários abaixo).

 

A remuneração mensal de Fabrício Queiroz, em junho deste ano, era de 9.190 reais, segundo a Alerj. Nathalia recebia 7.586 reais em fevereiro de 2016 e Márcia ganhava 8.968 reais também em fevereiro do ano passado.

 

A partir disso, os valores caem. Raimunda, exonerada em 14 de novembro deste ano e que recebia mensalmente 5.124 reais, depositou 4.600 reais. Luiza, cujo último vencimento encontrado foi de 2015, no valor de 2.726 reais, depositou 3.542 reais. Jorge depositou na conta 3.140 reais, enquanto que, em junho deste ano, ganhava 4.847 reais. Wellington, que ficou com Flávio até 1º de setembro de 2017, e que também ganhava 4.847 reais, depositou 1.500 reais. Por fim, Agostinho, que substituiu Wellington, mas que recebeu remuneração de 7.085 reais em fevereiro deste ano, pagou 800 reais.

 

Transferências alertadas pelo CoafNome do servidor Valor,em R$Agostinho Moraes da Silva    800Wellington Servulo Romulo da Silva  1.500Jorge Luis de Souza  3.140Luiza Souza Paes  3.542Raimunda Veras Magalhães  4.600Marcia Oliveira Aguiar 18.864Nathalia Melo de Queiroz 84.110Fabrício Melo de Queiroz 94.812Total 211.368Fonte: Coaf

 

Defesa

 

Na tarde da sexta-feira, 7, ao chegar ao condomínio onde o presidente eleito Jair Bolsonaro mora, na Barra da Tijuca (Rio), Flávio falou com jornalistas sobre o relatório do Coaf. “Não tenho nada a esconder de ninguém, não é mais que minha obrigação vir aqui para pelo menos relatar o que na minha cabeça está acontecendo”, disse.

 

Segundo o senador eleito, Fabrício Queiroz e ele conversaram. “Fui cobrar esclarecimentos dele sobre o que está acontecendo. A gente não tem nada a esconder de ninguém. Ele me relatou uma história bastante plausível [para a origem do dinheiro] e me garantiu que não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações”, afirmou. “Portanto, ele, assim que for chamado ao Ministério Público, vai dar os devidos esclarecimentos. Só que quem tem que ser convencido não sou eu, é o Ministério Público.”

 

Flávio não quis dar detalhes sobre as alegações de Queiroz e negou ter praticado qualquer irregularidade. “O acusado é ele, não sou eu, ele vai dar os esclarecimentos”. Embora Flávio tenha falado que o ex-motorista é acusado, não existe inquérito aberto especificamente para isso.

 

Por fim, ele disse concordar que o montante movimentado na conta de Queiroz “é muito dinheiro”, mas diz confiar no ex-servidor, exonerado em outubro da Alerj, “até que provem o contrário”.

 

Procurado pela reportagem, Fabrício Queiroz não atendeu aos pedidos de esclarecimento – Veja.

 

Carlos Magno