O segurança Davi Amâncio, que matou o jovem Pedro Henrique
Gonzaga, no supermercado Extra na quinta-feira (15), não poderia estar
trabalhando como vigilante. Segundo o "Fantástico" apurou, Davi já
foi condenado a três meses de prisão em regime aberto por lesão corporal depois
de agredir uma ex-companheira.
Segundo relato da mulher, após uma discussão por ciúmes, ele
a agrediu com vários socos no rosto na frente dos seus filhos.
Pela lei, a condenação de Davi o impede de trabalhar como
vigilante. Ele fez o curso de vigilante em maio de 2017 e foi contratado em
dezembro do mesmo ano. A condenação pela agressão saiu dias depois da
contratação.
Segundo a Polícia Federal, a documentação de Davi seria
revista no curso de reciclagem previsto para maio de 2019. A PF afirma que não
tem como saber que algum vigilante foi condenado neste intervalo.
O advogado da empresa de segurança Groupe Protection diz que
a checagem da ficha criminal é uma responsabilidade da Polícia Federal.
"Quem tem a atribuição legal de normatizar todo o processo de formação e
posteriormente manter a reciclagem desses indivíduos e monitorar se ele está
habilitado ou não, apto ou não, é de atribuição da Polícia Federal", disse
André França.
França diz ainda que Davi permanece na empresa, mas foi
afastado enquanto a investigação apura o que aconteceu.
Davi foi solto depois de pagar fiança de R$ 10 mil e deve
responder por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A polícia tem
30 dias para concluir a investigação.
Protestos pelo país
Neste domingo (17), manifestantes no Rio de Janeiro, São
Paulo e Pernambuco se reuniram em lojas da rede de supermercados para atos
repudiando a morte de Pedro Henrique.
No Rio, cartazes com dizeres como “Vidas negras importam” e
“Minha cor não é um crime” foram colados na grade de proteção do local.
Confusão antes do
crime
Na sexta (15), a TV Globo teve acesso a imagens de câmeras
de segurança do supermercado que mostram o início da confusão que terminou com
a morte do rapaz.
O vídeo mostra Pedro correndo em direção ao vigilante, que
está parado junto a outro funcionário do supermercado próximo à entrada do
estabelecimento. Eles parecem conversar por alguns instantes e uma mulher se
aproxima. Em seguida, Pedro Henrique cai no chão.
O funcionário do estabelecimento e o segurança levantam o
rapaz, mas a confusão continua e ele cai uma segunda vez. Em outro vídeo
compartilhado em redes sociais é possível ver o jovem sendo imobilizado.
Bombeiros ainda tentaram reanimar Pedro Henrique, mas o jovem não resistiu.
Família em silêncio
O corpo de Pedro Henrique Gonzaga, de 25 anos, foi enterrado
no sábado (16) no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, na Zona Oeste do
Rio. Muito abalada, a mãe dele não foi ao enterro e familiares que estiveram na
cerimônia preferiram não conversar com a imprensa.
Parentes e pessoas próximas contaram que a vítima tinha um
filho pequeno, de apenas oito meses.
Segurança alega
defesa
O segurança Davi Amâncio disse em depoimento à polícia que
Pedro Henrique estava nervoso e ameaçava matar todos que estavam no local. Na
declaração, o segurança alega que o rapaz falava repetidamente: "Vou
matar! Vou matar!".
O vigilante afirmou em depoimento não ter apertado Pedro
pelo pescoço e disse que "permaneceu apenas com seu peso por cima da
vítima".
"Eles fazem a contenção, retiram a arma e o garoto
desmaia. O que se acredita que tenha sido uma simulação naquele momento. O
próprio segurança reporta. 'Ele está mentindo, ele está mentindo, ele está
simulando um desmaio como anteriormente havia simulado'", diz a defesa.
Extra diz repudiar
atos de violência
Em nota, a rede de supermercados Extra informou "que
não aceita qualquer ato de violência, excessos e repudia toda forma de
racismo".
Também no texto diz que "não vai se eximir das
responsabilidades diante ocorrido" e que tem "interesse em esclarecer
a situação o mais rápido possível". "Estamos colaborando com as
autoridades fornecendo todas as informações disponíveis", informa a nota.
O Extra também afirmou que "os seguranças envolvidos na
morte do jovem foram imediatamente e definitivamente afastados" e "a
companhia instaurou uma sindicância interna e acompanha junto à empresa de
segurança e aos órgãos competentes o andamento das investigações".
"Nada justifica a perda de uma vida. A companhia se
solidariza com os familiares de Pedro Henrique de Oliveira Gonzaga nesse
momento de dor e de tristeza", diz a manifestação – G1.
Carlos Magno
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