O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República,
Gustavo Bebianno, deixa o governo Bolsonaro, mas não vai sair “atirando” ou
fazendo qualquer denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro ou seus
familiares, como chegou a se cogitar nos bastidores da política em Brasília.
“Bebianno vai sair quieto. Não vai atirar em ninguém, mas vai sair de cabeça
erguida”, disse uma fonte ligada ao secretário-geral da Presidência.
Ou seja, Bebianno não vai aceitar nenhuma estatal (Bolsonaro
chegou a sugerir a presidência de Itaipu) ou mesmo a Embaixada de Roma, como
chegou a circular hoje em Brasília. Na verdade, Bebianno chegou a um estágio no
qual não tem mais como ficar no governo. Bolsonaro e seus filhos não o querem
desde o final da semana passada e mesmo os militares que queriam sua
permanência, já não querem mais que ele fique.
Assim, Bebianno fez um acordo com Bolsonaro. Vai voltar à
militância política no PSL, partido do qual é vice-presidente. Além disso,
Bebianno, que é advogado, voltará para seu escritório de advocacia e voltará a
exercer a profissão, ao lado da mulher Renata. Mais cedo, Bebianno deu
declarações de que estava cansado de ameaças que lhe eram feitas e que ele
poderia retrucar as ameaças. “Devolverei as ameaças ao triplo”.
Todo mundo sabe em Brasília que Bebianno é um homem que sabe
demais. No início da campanha, em 2017, quando Bolsonaro ainda não era nada,
quem andava com o então pré-candidato para cima e para baixo era Bebianno. Os
dois eram unha e carne. Bebianno, portanto, tornou-se um homem-bomba. Sabe
muito e pelo jeito até coisas que não deveria saber. Tanto sobre a campanha de
Bolsonaro, como as campanhas dos filhos (Carlos, Flávio e Eduardo), como também
sobre como as campanhas foram financiadas, etc. Sabe muito.
Por isso, quando ele diz que não tem medo de ser demitido,
que está tranquilo, é porque ele tem Bolsonaro nas mãos por vários motivos.
Afinal, Bebianno anda mostrando que tem um arsenal nas mãos. Disse no final de
semana para O Globo que o problema não era o “pimpolho” (o vereador Carlos
Bolsonaro, que o detonou), mas o problema era o Jair Bolsonaro. Disse também
que vai ter que pedir desculpas ao país por ter ajudado a eleger Jair
Bolsonaro.
Ou seja, por tudo o que ele falou, já deveria ter sido
demitido. Mas Bolsonaro deixou vazar no final de semana que Bebianno seria
demitido no Diário Oficial desta segunda-feira. E nada saiu. Depois, fontes do
governo informaram que Bebianno estaria no Diário Oficial extra ainda hoje. E
nada saiu. Mas deve sair. A decisão já está tomada. O problema é o que
aconteceu nesse meio tempo.
O que Bolsonaro negociou com Bebianno para ele sair calado,
“sem atirar” em Bolsonaro, se o próprio Bebianno disse domingo na porta do
hotel em que está hospedado em Brasília que iria falar muita coisa, por que
agora resolve sair calado, sem atirar? O que foi conversado com ele? O que ele
não vai revelar mais? Qual o acordo que foi feito?
Tudo bem, Bebianno sai quieto, volta a advogar e retoma a
vice-presidência do PSL. Pelo menos não morre politicamente. Ainda fica vivo.
Ele e os segredos que carrega. Bolsonaro ficará eternamente refém de Bebianno.
Um problema que Bolsonaro e seus filhos não precisariam ter criado. Agora,
Bolsonaro fica refém não só de Bebianno, mas também de toda a classe política.
Sabendo que Bolsonaro tem a guarda descoberta, os políticos vão chantageá-lo do
jeito que puderem. Cargos aqui, uma emenda ali, e logo estaremos restabelecendo
a velha política do toma-lá-dá-cá. O rei está nu – Istoé.
Carlos Magno
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