Na sequência de confissões que tem feito à Justiça em
processos a que responde na Operação Lava Jato, o ex-governador do Rio de
Janeiro Sérgio Cabral (MDB) afirmou na última sexta-feira, 5, ao juiz federal
Marcelo Bretas que o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella, “vendeu” seu
apoio à campanha de Eduardo Paes (MDB) no segundo turno da eleição à prefeitura
carioca em 2008. De acordo com Cabral, a seu pedido, o empresário Eike Batista
pagou 1,5 milhão de dólares a Crivella, que naquele ano ficou fora da parte
final da disputa, entre Paes e o ex-deputado federal Fernando Gabeira.
O depoimento de hoje, um reinterrogatório, foi feito a
pedido do próprio Cabral em uma ação penal que apura o pagamento de propina por
empresas de ônibus durante seus governos. Na primeira oitiva, Cabral se manteve
em silêncio. Preso desde novembro de 2016 e condenado a quase 200 anos de
prisão, o emedebista mudou de advogado e passou a colaborar com a Justiça,
confessando crimes.
Segundo Cabral, após o fim do primeiro turno de 2008,
Marcelo Crivella ligou para ele e pediu uma reunião no Palácio das Laranjeiras.
No encontro, o atual prefeito carioca teria relatado que o economista Armínio
Fraga, ligado à campanha de Gabeira, havia lhe oferecido 1 milhão de dólares e
que apoiaria o então candidato do PV se o grupo dos emedebistas “não fizesse
nada”. O ex-governador afirma que não houve testemunhas do pedido.
Em seguida, conforme Sérgio Cabral, ele ligou para o José
Carlos Lavouras, ex-conselheiro da Federação das Empresas de Transportes de
Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), que passou a ligação a
Jacob Barata Filho, dono de empresas de ônibus. Ele pediu que o empresário
“cobrisse” a oferta de Armínio Fraga, mas Barata não aceitou, dizendo que ou
ajudava a campanha de Eduardo Paes no segundo turno ou faria o pagamento a
Marcelo Crivella. Segundo Cabral, Paes recebeu 6 milhões de reais da “caixinha
da Fetranspor” na eleição de 2008, via caixa-dois.
Com a negativa de Jacob Barata, Sérgio Cabral afirma ter
procurado Eike Batista e pedido que ele pagasse 1,5 milhão de reais a Marcelo
Crivella. “’Preciso de 1,5 milhão de dólares para dar ao Crivella e tem que ser
amanhã’, porque o segundo turno estava correndo. Aí ele falou ‘tudo bem, não
tem nenhum problema’”, contou o emedebista. A “oficialização” do acordo,
segundo Cabral, foi selada em uma reunião entre ele, o empresário, Paes,
Crivella e Mauro Macedo, primo de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do
Reino de Deus, da qual Crivella é bispo.
Cabral admitiu ainda que a “caixinha da Fetranspor” injetou,
sempre em caixa-dois, 5 milhões de reais em sua campanha ao governo estadual em
2006 e outros 20 milhões de reais na de 2010, além de 30 milhões de reais à do
ex-governador Luiz Fernando Pezão em 2014.
O dinheiro destinado à contabilidade paralela da campanha de
Pezão, segundo Sérgio Cabral, veio de um acordo com a Fetranspor em troca de um
ato do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro
(Detro) que beneficiou as empresas de ônibus.
Da parte que lhe caberia no acerto, 40 milhões de reais,
Cabral afirmou que repassou 1 milhão de reais a cada um dos dez conselheiros do
Tribunal de Contas do Estado (TCE), 4 milhões de reais a Jonas Lopes, 2 milhões
de reais ao ex-secretário da Casa Civil Régis Fitchner, 300.000 reais a 400.000
reais ao operador de propinas Carlos Miranda. Em função do repasse aos membros
do TCE, Sérgio Cabral relatou ter pedido à Fetranspor que o valor total de sua
parte chegasse a 60 milhões de reais.
Segundo Sérgio Cabral, ele ainda repassou 1,5 milhão de
reais da Fetranspor e 1,5 milhão de reais da empreiteira OAS à campanha de
Aécio Neves à presidência da República, todos recursos de caixa-dois. O
ex-governador contou que Aécio estava “muito deprimido, muito para baixo”
porque a ex-ministra Marina Silva (então no PSB) o havia ultrapassado e ocupava
a segunda posição nas pesquisas do primeiro turno presidencial. O acerto que
beneficiou a campanha do tucano foi feito, de acordo com Cabral, com um homem
chamado Oswaldo “que era a pessoa que cuidava do dinheiro dele”. Aécio Neves
teria ligado ao emedebista depois, para agradecer.
O ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
(Alerj) Jorge Picciani (MDB) também recebeu 1,5 milhão de reais da Fetranspor –
Veja.
Carlos Magno
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