O prefeito Marcelo Crivella se irritou com perguntas da
repórter Larissa Schmidt, na entrevista coletiva que concedeu nesta
quinta-feira (11) sobre o decreto de calamidade, e a afastou dos outros
jornalistas.
Crivella disse que, na cobertura do temporal da última
segunda-feira (8), a Globo fez "drama" com coisas
"corriqueiras".
"É impressionante como a Rede Globo de Televisão é
absolutamente contra a cidade do Rio de Janeiro. É a televisão que anuncia, o
tempo todo, os problemas do Rio, que faz drama sobre coisas corriqueiras que
acontecem nas nossas vidas desde que eu nasci aqui", diz o prefeito.
A repórter questiona: "O senhor acha que o aconteceu
foi um drama corriqueiro? Perdão, prefeito, o senhor acha que o que aconteceu,
a pior chuva em 22 anos, foi um drama corriqueiro"?
Neste momento, Crivella vira de costas para a repórter:
"Dá licença, dá licença, vou falar para cá", disse, olhando para
outros jornalistas.
A repórter insiste: "Dez pessoas mortas, prefeito,
desculpa".
"A cidade do Rio de Janeiro... Não, não, não, não quero
falar com vocês. É um direito que eu tenho", diz Crivella, afastando a
repórter com a mão.
Pouco depois, o prefeito diz: "O que a Globo quer é
dinheiro na sua propaganda. O que ela quer é que a gente faça uma festa no
carnaval, e ela possa vender R$ 240 milhões com a prefeitura pagando todo o
carnaval".
Globo repudia
Em relação às declarações do prefeito Marcelo Crivella, a
Globo divulgou a seguinte nota:
"A Globo repudia a atitude do prefeito Marcelo Crivella
de afastar a repórter Larissa Schmidt dos jornalistas que cumpriam a obrigação
de entrevistá-lo.
A Globo também repudia a afirmação de Crivella de que a
emissora fez drama com coisas corriqueiras na cobertura jornalística do
temporal de segunda-feira.
A Globo cobriu uma tragédia que tirou a vida de dez
cariocas. E cumpriu a obrigação jornalística de mostrar que a prefeitura
demorou a acudir a população. Um fato reconhecido pelo próprio prefeito, num
momento raro de autocrítica.
A Globo lamenta também as declarações descabidas de Marcelo
Crivella quanto ao carnaval.
A Globo compra os direitos de transmissão das escolas de
samba – e paga um valor quase seis vezes maior do que aquele que elas recebem
de subvenção da prefeitura.
A Globo se solidariza com a repórter Larissa Schmidt e, mais
uma vez, com os cariocas. Em especial, com as famílias dos mortos na
tragédia."
Sindicato lamenta
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do
Rio de Janeiro enviou nota em que "lamenta a atitude do prefeito".
"Cabe a toda e qualquer autoridade atender aos
questionamentos da imprensa, que visa esclarecer à população sobre as medidas
do poder público. Eventuais atitudes que cerceiem o trabalho das equipes de
reportagem comprometem o direito de a população avaliar o trabalho da
administração municipal, tanto no que diz respeito aos aspectos positivos,
quanto aos negativos.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do
Rio de Janeiro se solidariza com todos os profissionais de imprensa presentes à
entrevista coletiva, que se viram prejudicados com a suspensão repentina da
prestação de contas à população carioca, por parte do prefeito Marcelo
Crivella."
Abraji
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo também
emitiu nota de repúdio. No texto, Abraji diz que Crivella é "sobrinho de
Edir Macedo, proprietário da Record TV, emissora concorrente da TV Globo"
e que considera a atitude do prefeito diante dos questionamentos de Larissa
Schmidt "incompatível com seu cargo".
"Agentes públicos têm o dever de fornecer informações
sobre suas atividades e de respeitar o trabalho dos jornalistas de levar tais
informações ao público. Discriminar meios de comunicação é antidemocrático e
fere a liberdade de imprensa." – G1.
Carlos Magno
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