Apesar dos avanços notáveis em estudos sobre o estado de
coma e de outros distúrbios de consciência, os médicos continuam com
ferramentas limitadas para determinar o prognóstico de um paciente nessa
condição. Uma solução pode vir de um trabalho de pesquisadores do Instituto
Nacional Francês de Pesquisa (Insern U825).
Eles descrevem, na edição da revista Neurology, como
identificar por exames de imagem marcadores mais precisos da atividade cerebral
residual durante o coma. Dessa forma, seria possível, segundo eles, prever as
chances que um paciente tem de recobrar a consciência. Pesquisa pode ajudar o
humorista Shaolin, que luta há quatro anos para recobrar a consciência, após um
grave acidente automobilístico.
A equipe liderada pelo venezuelano Stein Silva utilizou
exames de ressonância magnética para determinar a extensão de danos na
comunicação de diferentes áreas do cérebro. Após comparar o funcionamento
cerebral de 27 pacientes em coma provocado por lesões cerebrais graves com o de
um grupo de 14 pessoas saudáveis e na mesma faixa etária, Silva notou que
aqueles que não conseguiram recobrar a consciência após três meses tinham as
atividades do córtex cingulado posterior e do córtex pré-frontal diferentes das
dos demais, incluindo os que saíram do quadro.
Silva chegou a essa conclusão após submeter todos os
participantes do estudo à ressonância magnética funcional (fMRI). Nenhum estava
sob efeito de sedativos no momento do exame. Faz sentido que os pacientes
comatosos tenham disfunções maiores nessas duas áreas porque o córtex cingulado
posterior e o córtex pré-frontal desempenham, sobretudo, funções ligadas ao
sistema límbico — relacionado com o estado emocional dos indivíduos. Além
disso, ambos têm conexões com o sistema ativador reticular ascendente, responsável
pelo estado de vigília do corpo humano.
Os resultados, considera o cientista, aumentam a compreensão
do problema e as perspectivas para novos tratamentos. “Crucialmente,
descobrimos que lesões cerebrais responsáveis pelo coma agudo causam uma grande
reorganização de redes cerebrais. A partir desses resultados, pode-se sugerir
que o grau de perturbação da comunicação de neurônios entre algumas
regiões-chave poderia ser utilizado como o marcador mais preciso da atividade
cerebral durante o coma, mesmo em casos de ausência completa de comportamento
motor evidente”, detalha Silva.
Pela primeira vez, foi possível observar, ainda nas
primeiras fases do coma, que o nível de perturbação nessa rede tem um valor
prognóstico. Ou seja, ajuda a embasar as análises médicas de recuperação. A
identificação desse biomarcadores por neuroimagem poderia, acredita o autor,
auxiliar médicos a tomarem decisões e facilitar o desenvolvimento de novas
ferramentas terapêuticas que modulassem a comunicação dessas áreas-chave do
cérebro.
“Os achados podem representar uma enorme mudança na forma
como os cuidados médicos são feitos hoje, pois podem evitar danos secundários
ao cérebro a partir de tratamentos mais personalizados e centrados na
restauração da rede cerebral”, acrescenta o pesquisador venezuelano sediado na
França há mais de 20 anos. Antes disso, porém, o trabalho precisa ser mais
aprofundado, ressalta Silva. Em nenhum momento da pesquisa, os autores
interferiram nos cuidados dos pacientes. “Mas estudos futuros com maior número
de pessoas precisam ser feitos para comprovar esses resultados promissores”,
pondera.
Análise clínica – Tiago
Freitas, presidente da Sociedade Brasileira de Neuromodulação, explica que
existem alguns fatores clínicos e escalas para auxiliar os médicos a darem um
prognóstico de pacientes com coma. Uma dessas medidas é a escala de Glasgow
(ECG), que varia de três a 15. Um paciente com trauma de crânio que tem escala
menor que oito é considerado em coma. “Além das escalas neurológicas, fatores
pessoais como a idade, o uso de substâncias que podem lesar o cérebro (drogas e
álcool) e a natureza da lesão podem influenciar na chance de recuperação”,
completa o também neurocirurgião do Hospital Santa Lúcia e neurocirurgião
funcional do Instituto da Dor de Brasília (Indor).
Os tratamentos variam conforme a lesão que provocou o coma.
Em caso de acidente vascular cerebral causado por uma ruptura de aneurisma, por
exemplo, a terapia consistirá em fechar o aneurisma. Além do tratamento da
condição que desencadeou o problema, existe uma série de medidas utilizadas na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para proteger o cérebro de sequelas:
controle da pressão intracraniana, indução de coma para diminuição do
metabolismo cerebral e, consequentemente, diminuição das lesões por isquemia
(falta de sangue) ou hipóxia (falta de oxigênio). Há ainda o uso de substâncias
que diminuem o inchaço do cérebro, completa Tiago Freitas.
Shaolin começa a
apresentar sinais de melhora – Desde o dia 18 de janeiro de 2011, o
humorista está em uma cama, sem fala e sem movimentos. Desde que iniciou o
tratamento, Shaolin apresentava um déficit de atenção que, agora, quatro
anos depois do acidente, começa a apresentar melhoras.
Durante a recuperação pós-acidente, Shaolin ganhou uma máquina
especial da apresentadora Ana Hickmann na qual ele pode se comunicar – Jornal de
Verdade / Insern U825.
Blog Carlos Magno
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