Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
A escola de samba Unidos da Viradouro é a campeã do Carnaval
do Rio de Janeiro de 2024. No ano em que a Marquês de Sapucaí comemora o 40ª
aniversário, a Viradouro teve o melhor desempenho entre as 12 escolas de samba
carioca do Grupo Especial: 270 pontos. Foi o terceiro título da escola. O
último havia sido em 2020.
Esse ano, havia uma tensão quanto ao resultado final, antes
mesmo da divulgação das notas. No início da apuração, Jorge Perlingeiro,
presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa),
organizadora do Grupo Especial, disse que estava em análise recurso apresentado
pela Grande Rio, Imperatriz, Mocidade e Beija-Flor contra a Viradouro. Elas
pediram para a escola ser punida com a perda de 0,5 ponto por uma
irregularidade na comissão de frente. A alegação é que o limite de 15 integrantes
visíveis durante a apresentação foi ultrapassado. Mas como a Viradouro ficou
0,7 ponto à frente da segunda colocada, nem o recurso, caso seja aprovado,
poderá tirar o título da escola.
Com um samba que homenageia o culto ao vodum serpente, que
nasceu na Costa ocidental da África, a Viradouro foi a última escola a entrar
na Sapucaí na segunda-feira (12), o segundo dia de desfiles. As outras cinco
melhores colocadas foram, nessa ordem: Imperatriz Leopoldinense, Grande Rio,
Salgueiro, Portela e Vila Isabel. Elas se juntam à Viradouro para o Desfile das
Campeãs, que acontece no Sambódromo, no próximo sábado (17). Com 264,9 pontos,
a Porto da Pedra foi rebaixada e vai disputar a Série Ouro em 2025.
Disputa
Os quesitos foram julgados na seguinte ordem: Alegorias e
adereços, Bateria, Evolução, Mestre-sala e porta-bandeira, Comissão de frente,
Enredo, Harmonia, Samba-enredo e Fantasias. Caso fosse necessário, o critério
de desempate seria Fantasias, em sorteio definido horas antes da apuração. Pela
primeira vez, a apuração ocorreu na Cidade do Samba, região portuária do Rio.
Até o ano passado, a contagem de votos era feita na Praça da Apoteose, na
Marquês de Sapucaí. A mudança de local de apuração atendeu a um desejo do
presidente da Liesa. Outra novidade esse ano, foi que a escola vencedora fez um
cortejo na pista onde estão localizados os barracões.
Ao fim do primeiro quesito, Grande Rio, Vila Isabel e
Viradouro largaram na frente. E mantiveram a posição, e a disputa pelo primeiro
lugar, até o quarto quesito, Mestre-sala e porta-bandeira, quando a Vila Isabel
perdeu alguns décimos e caiu para o quinto lugar. A Imperatriz passou a
perseguir as líderes com 3 décimos a menos. No quinto quesito, Enredo, a Grande
Rio perdeu 3 décimos e a Viradouro, ainda intocada, assumiu a liderança isolada
pela primeira vez. A escola de Niterói descolou 5 décimos para a Grande Rio no
quesito Harmonia. No penúltimo quesito, Samba-enredo, a Viradouro abriu 7
décimos de vantagem para a Imperatriz, então segunda colocada. Na terceira nota
do último quesito, Fantasias, um 10 garantiu finalmente o troféu para a escola.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Samba campeão
Liderada pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, a escola de
Niterói apresentou enredo com o título “Arroboboi, Dangbé”. O objetivo foi
apresentar a força da mulher negra, por meio de um culto africano à cobra
sagrada vodum. O samba foi escolhido em setembro do ano passado, composição de
Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson
Lemos, Vinícius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno.
A história remonta ao século XVIII em Benin, na Costa
ocidental da África, onde o culto nasce por meio durante uma batalha, das
guerreiras Mino, do reino Daomé. Elas foram iniciadas espiritualmente pelas
sacerdotisas voduns, dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé. Também foi
contado como o culto chegou ao Brasil, em terreiros na Bahia, sob a liderança
da sacerdotisa daomeana Ludovina Pessoa, que espalhou a fé nos voduns pelo
território.
O carnavalesco Tarcisio Zanon celebrou a vitória. Ele fez
menções aos outros dois títulos da escola, conquistados em 1997 e em 2020.
"É o meu segundo título pela Viradouro, uma escola que
me fez amar carnaval. Mas a primeira vez que eu vi e me apaixonei pelo carnaval
foi em 1997, quando eu vi aquele carro negro do [carnavalesco] Joãozinho
Trinta. Eu tinha 9 anos de idade. E hoje estar aqui é um sonho realizado. Eu
estou muito feliz".
Zanon acompanhou a apuração ao lado de diversos patuás. Ao
fim da apuração, ele deu uma explicação. "São presentes que eu ganhei das
lideranças Jejes. Eu guardei comigo porque fico muito feliz de poder trazer um
enredo tão importante e tão necessário, para desmistificar e desdemonizar essa
religião tão linda".
Confira o trecho inicial do samba:
“Eis o poder que rasteja na terra
Luz pra vencer essa guerra, a força do vodun
Rastro que abençoa Agojiê
Reza pra renascer, toque de Adarrum
Lealdade em brasa rubra, fogo em forma de mulher”.
Rafael Cardoso/Sabrina Craide – Agência Brasil