Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados
O pastor Silas Malafaia, um dos maiores apoiadores de Jair
Bolsonaro (PL), disse estar decepcionado com o ex-presidente pela falta de
posicionamento nas eleições municipais de São Paulo, que aconteceram no último
domingo (6/10).
Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.
Paulo, Malafaia afirmou que Bolsonaro se omitiu e foi "covarde" por
ter tido medo de que Pablo Marçal (PRTB) derrotasse seu candidato, o prefeito
Ricardo Nunes (MDB), com quem o ex-presidente firmou uma aliança e indicou um vice
à chapa.
Para o pastor, não é papel de um líder se guiar
exclusivamente pelas redes sociais. "Bolsonaro foi covarde, omisso. Para
ficar bem sabe com quem? Com seguidores. Que político é esse, meu Deus?",
questionou.
Ele disse ainda que enviou "mais de 30 mensagens
duríssimas" para Bolsonaro, que não o respondeu em consideração ao apoio
que o ex-presidente recebeu de Malafaia nos momentos cruciais da vida, como
quando "perto de ser preso", "chorou por cinco minutos ao
telefone sem parar", segundo contou pastor em entrevista.
Se até 2026 Bolsonaro seguir inelegível, Malafaia afirmou
que pretende apoiar a candidatura do atual governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), à presidente da República.
Malafaia também contou à jornalista que teve "duas
alegrias e quatro decepções" durante as eleições deste ano. A postura de
Tarcísio teria sido a primeira alegria.
"Ele mostrou que um líder não anda atrás do povo. Um
líder guia, anda na frente. Você não é um verdadeiro líder até que não ande sozinho.
Tarcísio ganhou muito comigo. Liderança é sobre propósitos. Um líder não está
preocupado com redes sociais, se vai perder ou se vai ganhar seguidores. Sofri
um bombardeio dos robôs e da milícia digital do Pablo Marçal como ninguém mais
sofreu. Não foi uma brincadeira. Eu perdi 1,5% de seguidores", falou.
A segunda alegria foi com a posição do deputado federal
Gustavo Gayer (PL-GO), que se recusou a apoiar Pablo Marçal depois que o
candidato divulgou um falso laudo médico acusando Guilherme Boulos (PSol) de
ser usuário de cocaína. "Quando o documento médico forjado foi divulgado,
ele disse: 'Aí, não'. Ele dá um passo atrás. É neste momento que um homem
mostra o seu caráter", afirmou.
Sobre as decepções, Malafaia contou que a primeira delas foi
com o senador Magno Malta (PL-ES). "Eu o bombardeava, 'você tem que
posicionar, você tem que falar [contra Marçal]'. E ele ficou calado, 'essa
guerra não é minha'", relatou.
Para o pastor, as redes sociais ditam o comportamento dos
políticos de hoje, de forma que muitos tenham medo de ir contra o fluxo, contra
o que a maioria considera o certo.
A segunda decepção veio com o deputado Marco Feliciano
(PL-SP). "Um dia desses ele pregou na minha igreja. Disse: 'Malafaia é
como um pai que me dá conselhos, que me puxa a orelha'. Conversei com ele.
Detalhei quem é Pablo Marçal. E esse cara faz um vídeo tentando me desmerecer,
apoiando Pablo Marçal".
A terceira decepção, "em ordem de grandeza", foi
com o deputado federal por MG Nikolas Ferreira.
"Você sabia que nós temos agora bolsominions e
nikolominions? É! O Nikolas, um garoto bom, um garoto de futuro, teve uma
atitude de politiqueiro velho. Ele pertence ao PL. Ele tem que, no mínimo,
ficar de boca fechada [sobre a eleição em São Paulo] porque o líder dele estava
apoiando o [prefeito Ricardo] Nunes. E ele vem com uma história de que são dois
copos: um [Ricardo Nunes] está cheio de veneno, e o outro [Marçal] você não
sabe, 'então vou arriscar', relatou à jornalista.
Descontente com a atitude de Nikolas, ele diz que chegou a
enviar mensagem para o deputado, que o ignorou.
"Agora vamos para a maior decepção: Jair Messias
Bolsonaro. Um político é reconhecido por seus posicionamentos. Qual foi a
sinalização que o Bolsonaro passou? 'Eu não sou confiável em meus apoios
políticos'. Quem vai fazer aliança com um cara que não é confiável? O que ele
fez em São Paulo e no Paraná [onde se comprometeu anteriormente com alianças]
foi uma vergonha", criticou.
"Em São Paulo ele ficou em cima do muro. No Paraná,
tendo candidato [indicado pelo PL] a vice [de Eduardo Pimentel, que concorre a
prefeito], declarou para a mulher lá [Cristina Graeml, que concorria contra
Pimentel] 'pode usar meu nome'. Sinalizou duplamente. Gente! Isso não é papel
da direita de nível maior. Eu apoio Bolsonaro. Mas eu já disse: sou aliado, e
não alienado. Bolsonaro foi covarde, omisso. Para ficar bem sabe com quem? Com
seguidores. Que político é esse, meu Deus?", continuou o pastor.
Correio Braziliense