Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
A Polícia Federal (PF) concluiu que a disseminação de
narrativas golpistas durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro
propiciou o recente atentado com um homem-bomba no Supremo Tribunal Federal
(STF) e os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
A conclusão está no relatório no qual a PF indiciou
Bolsonaro e mais 36 acusados por golpe de Estado e abolição violenta do Estado
Democrático de Direito. O sigilo foi derrubado nesta terça-feira (26) pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do
chamado inquérito do golpe.
Na avaliação dos investigadores responsáveis pela conclusão
do inquérito, a difusão de "forma rápida e repetitiva" de narrativas
golpistas mantiveram o desejo de grupos extremistas de consumação do golpe que
teria sido planejado pelo ex-presidente e seus aliados, mas não foi aplicado
pela falta de adesão do Exército e da Aeronáutica.
"Esse método de ataques sistemáticos aos valores mais
caros do Estado democrático de direito criou o ambiente propício para o
florescimento de um radicalismo que, conforme exposto, culminou nos atos do dia
8 de janeiro de 2023, mas que ainda se encontra em estado de latência em
parcela da sociedade, exemplificado no atentado bomba ocorrido na data de 13 de
novembro de 2024 na cidade de Brasília", diz a PF.
Além do atentado do dia 13 deste mês e os atos de 8 de
janeiro, a PF citou a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, ocorrida
em Brasília, no dia 12 de dezembro de 2022; e a tentativa de explosão de um
caminhão-tanque no aeroporto de Brasília no dia 24 de dezembro daquele ano.
Bolsonaro
No relatório, os investigadores afirmam ainda que Jair
Bolsonaro atuou de "forma direta e efetiva" nos atos executórios para
tentar um golpe de Estado em 2022.
"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação
demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, Jair
Messias Bolsonaro, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva
dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a
concretização de um golpe de estado e da abolição do estado democrático de
Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua
vontade", diz o relatório.
Segundo a PF, Bolsonaro tinha conhecimento do chamado Punhal
Verde e Amarelo, plano elaborado pelos indiciados com o objetivo de sequestro
ou homicídio do ministro Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Tanques
Conforme a PF, o almirante Almir Garnier, então comandante
da Marinha, anuiu com a articulação golpista, colocando as tropas à disposição
do então presidente Jair Bolsonaro.
O plano de golpe de Estado não foi consumado por falta de
apoio dos comandantes do Exército e da Aeronáutica.
"Lula não sobe a rampa"
Um documento manuscrito apreendido pela Polícia Federal (PF)
na sede do Partido Liberal (PL) propõe ações para interromper o processo de
transição de governo, “mobilização de juristas e formadores de opinião”.
O documento encerra com o texto “Lula não sobe a rampa”.
Segundo a PF, em uma clara alusão ao impedimento de que o vencedor das eleições
de 2022 assumisse o cargo da presidência.
O material foi apreendido na mesa do assessor do general
Walter Braga Netto, coronel Peregrino, faz um esboço de ações planejadas para a
denominada “Operação 142”. O nome dado ao documento faz alusão ao artigo 142 da
Constituição Federal que trata das Forças Armadas e que, segundo a PF, era uma
possibilidade aventada pelos investigados como meio de implementar uma ruptura
institucional após a derrota eleitoral de Bolsonaro.
PGR
Após a retirada do sigilo, o inquérito do golpe foi enviado
para a Procuradoria-Geral da República (PGR). Com o envio do relatório, o
procurador-geral da República, Paulo Gonet, vai decidir se o ex-presidente e os
demais acusados serão denunciados ao Supremo pelos crimes imputados pelos
investigadores da PF.
André Richter/Carolina Pimentel – Agência Brasil