![](https://www.carlosmagno.com.br/fotos_do_sistema/capa/croppedImg_1190297590.jpeg)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
A audiência do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o
tenente-coronel Mauro Cid, no último dia 21 de novembro, trouxe novidades que
foram fundamentais para o elenco de provas que levou o general Walter Braga
Netto à prisão, neste sábado (14).
A tentativa de obter dados sigilosos da delação de Mauro
Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi caracterizada
como ação de obstrução da Justiça, ao “impedir ou embaraçar as investigações em
curso”, apontou o relator do inquérito, o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com o relatório da Polícia Federal, há “diversos
elementos de prova” contra Braga Netto, que teria atuado para impedir a total
elucidação dos fatos e “com o objetivo de controlar as informações fornecidas,
alterar a realidade dos fatos apurados, além de consolidar o alinhamento de
versões entre os investigados”.
“Intensa troca”
Para chegar a essas provas, os policiais federais realizaram
perícia no celular do general Mauro César Lourena Cid, pai do coronel que
trabalhava com Jair Bolsonaro. Havia “intensa troca de mensagens” via
aplicativo de mensagens, que foram apagadas e depois recuperadas pela PF. O
tema principal era a respeito do desvio de joias por parte de Bolsonaro, em
agosto de 2023.
A PF identificou que o nome de Braga Netto estava salvo na
agenda do general Lourena Cid como “Walter BN”.
Outras conversas recuperadas ocorreram em 12 de setembro,
quando o general Mário Fernandes disse ao coronel reformado Jorge Kormann que
os pais de Mauro Cid ligaram para os generais Braga Netto e Augusto Heleno,
ex-ministro na gestão Bolsonaro, informando que a divulgação do conteúdo da
deleção por parte da imprensa era “tudo mentira”.
Perguntas e respostas
A PF argumenta que Braga Netto tentou obter os dados do
acordo por meio de familiares do coronel Cid, o que foi determinante para a
prisão. Outra prova encontrada foi na sede do Partido Liberal (PL), em
Brasília, na mesa do coronel Flávio Peregrino, assessor direto do general Braga
Netto.
Era uma folha com perguntas (supostamente feitas por Braga
Netto) e respostas (que seriam de autoria de Mauro Cid).
Entre as perguntas: “O que foi delatado?”, com a seguinte
resposta: “Nada. Eu não entrava nas reuniões. Só colocava o pessoal para dentro”.
Há outras cinco questões pedindo mais informações sobre o que a PF dispunha.
O ex-ajudante de ordens disse, em depoimento à PF, que as
respostas não foram escritas por ele.
“Talvez intermediários pudessem estar tentando chegar perto
de mim, até pessoalmente, para tentar entender o que eu falei, querer
questionar, mas como eu não podia falar, eu meio que desconversava e ia para
outros caminhos, para não poder revelar o que foi falado”, disse Cid para o
delegado da PF Fábio Shor.
Conversa com o pai de Mauro Cid
O ministro Alexandre de Moraes argumentou na decisão pela
prisão que, na oitiva, realizada na Polícia Federal, Mauro Cid havia confirmado
que Braga Netto tentou obter os dados sigilosos com o pai, Lourena Cid. No
depoimento para o delegado Fábio Shor, Mauro Cid disse que o contato ocorria
por telefone, já que o pai mora no Rio de Janeiro, e Braga Netto estava em
Brasília.
O general Cid, no último dia 6 de dezembro, também confirmou
que foi procurado por Braga Netto.
Operação "Punhal Verde e Amarelo"
A PF defendeu que, além das novas provas indicarem a atuação
criminosa do general, o novo depoimento de Mauro Cid apontou que o candidato a
vice-presidente, na chapa de Bolsonaro em 2022, financiou os recursos
necessários para a organização e execução da operação “Punhal Verde e Amarelo”
(plano golpista elaborado por militares para impedir a posse do presidente
Lula).
Dinheiro em sacola de vinho
“O general repassou diretamente ao então major Rafael de
Oliveira dinheiro em uma sacola de vinho, que serviria para o financiamento das
despesas necessárias à realização da operação”, apontou a PF, que constatou que
o dinheiro foi utilizado para compra de celular (para a ação criminosa) e de
chips para a comunicação entre os integrantes do grupo. Os pagamentos também
foram realizados em espécie.
Ainda, de acordo com as investigações, Braga Netto foi um
protagonista para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado, o que
incluía a detenção ilegal e possível execução do ministro Alexandre de Moraes
(então presidente do Tribunal Superior Eleitoral), “com uso de técnicas
militares e terroristas, além de possível assassinato dos candidatos eleitos
nas eleições de 2022 (Lula e Alckmin)”.
Papel de liderança
Segundo Moraes, os desdobramentos da investigação, a partir
da operação “Contragolpe”, e os novos depoimentos de Mauro Cid “revelaram a
gravíssima participação de Walter Souza Braga Netto nos fatos investigados, em
verdadeiro papel de liderança, organização e financiamento, além de demonstrar
relevantes indícios de que o representado atuou, reiteradamente, para embaraçar
as investigações”.
O ministro do STF argumenta na decisão que, pelas provas
obtidas, a atuação do general está relacionada, “especialmente, com as ações
operacionais ilícitas executadas pelos investigados integrantes de Forças
Especiais”.
Moraes ainda recorda que, na casa de Braga Netto,
reuniram-se os militares com formação em forças especiais do Exército, no dia
12 de novembro de 2022, para planejar as ações de monitoramento contra as
autoridades.
Defesa do general
A defesa do general Walter Braga Netto divulgou uma nota, na
tarde deste sábado (14), em que nega obstrução nas investigações e que irá se
manifestar no processo.
Luiz Cláudio Ferreira/Carolina Pimentel – Agência Brasil