Foto: Reprodução/Redes Sociais
O capitão da reserva do Corpo de Bombeiros, R.S.B, de 59
anos, é suspeito de cometer uma sequência de abusos sexuais por quase 10
anos. As vítimas: a própria filha, desde
os 6 até os 15 anos, e os netos – um menino, de 9, e uma menina, de 10. Nesta
terça-feira (17), ele foi preso preventivamente, no apartamento dele, em um
condomínio fechado em Águas Claras, pelos investigadores da 24ª Delegacia de
Polícia (Setor O).
O Correio conseguiu, com exclusividade, acesso a detalhes de
depoimentos fortes da filha e ex-mulher do capitão, que detalham a violência
cometida por ele durante anos. A polícia vinha monitorando o acusado há cerca
de um ano e meio. Cada do passo do militar era vigiado até que houve a decisão
judicial pela prisão preventiva após a denúncia de estupro dos netos.
A primeira denúncia contra R.S.B partiu de uma das filhas
dele, em abril de 2023. Em depoimentos obtidos com exclusividade pelo Correio,
a jovem relatou ter sofrido abuso sexual por parte do pai dos 6 aos 15 anos. Os
estupros só terminaram em 2011, quando o bombeiro se divorciou da mulher e saiu
de casa. As ameaças e agressões sexuais ocorriam quando a vítima estava sozinha
em casa, ou durante a noite, quando a mãe dormia.
Em um dos episódios, a mãe da jovem acordou na madrugada e
flagrou o bombeiro na cama da filha, tirando a roupa dela. Ela perguntou sobre
o que estava acontecendo e o homem disse que estava retirando a etiqueta da
calcinha da filha, pois estava a incomodando. Com medo da reação do pai, a
menina acenou a cabeça, concordando com a história.
Após a separação do casal, o bombeiro passou a morar em
Águas Claras. Mesmo distante, R.S.B continuou com as investidas contra a filha:
enviava mensagens pedindo para ela mandar fotos nuas. Até os 27 anos, a jovem
guardou para si os abusos sofridos e evitou contar à mãe por medo. Mas o pior
estava por vir.
Descoberta
A jovem teve dois filhos, que conviveram boa parte da
infância ao lado do avô. Em abril de 2023, em uma conversa com a filha mais
velha, de 10 anos, a menina confessou que o avô pedia para ver as partes
íntimas dela e para roçar os genitais dele nela.
A menina narrou, então, os fatos à avó e usou a seguinte
frase: “Ele fazia comigo igual namorado faz com namorada”. A avó levou a neta
até à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam 2) para o registro
da ocorrência e lembrou de um episódio suspeito. No depoimento, a idosa contou
que a criança passou a rejeitar, inclusive, as aulas de ballet e pediu para que
outra pessoa — exceto o avô — a levasse.
Os policiais da Deam 2 iniciaram as investigações e
representaram pela prisão preventiva do autor à época. O Ministério Público foi
favorável à prisão, mas a Justiça impôs apenas medidas cautelares, como o
distanciamento das vítimas.
Nova investigação
Em 20 de novembro, outra denúncia, novamente feita pela avó
das crianças fez a polícia intensificar o monitoramento. A mulher contou que,
agora, o neto de apenas 9 anos reclamou do avô. Segundo o menino, as investidas
ocorriam desde que ele tinha 5 anos. A
idosa disse que a mãe, ao dar banho no filho, viu que o menino não parava de
chorar. Ao colocá-lo na cama, deu um beijo na orelha e o garoto respondeu: “Não
gosto dessas brincadeiras.” Estranhando a situação, a mãe da criança o
questionou e o filho disse que avô “colocava a boca na minha íntima (em alusão
às partes íntimas).
Para a avó, o menino perguntou: “Sabe o que aconteceu (com
minha irmã)? Meu avô também brincava com minha (parte) íntima, só que eu não
gostava porque me machucava”. Novamente, os familiares foram à delegacia e
registraram outro boletim de ocorrência.
Ao Correio, o delegado-chefe da 24ª DP, Fábio Farias,
explicou que, com base no relato da avó, foi instaurado um inquérito para as
investigações. Os elementos colhidos, segundo ele, foram suficientes para o
indiciamento e o deferimento do mandado de prisão preventiva pelo Judiciário.
“Colhemos, além das oitivas de familiares das vítimas, o depoimento especial
das crianças, onde ficou claro o cometimento do crime de estupro de vulnerável
por várias vezes de ambas as crianças.”
A delegada-adjunta da Deam 2, Mariana Almeida, ressalta a
importância da denúncia rápida ao observar qualquer comportamento ou alegação
suspeita da vítima. “Quando se tem essa suspeita, é bom evitar fazer perguntas
para as crianças, pois isso pode fazê-la a criar repulsa e até constrangê-la.
Deve-se levar o menor à delegacia, pois lá ela passará por um protocolo
especial de depoimento”, enfatiza.
O mandado de prisão foi cumprido na manhã desta terça-feira,
em um condomínio residencial de Águas Claras. O acusado pode pegar entre 8 e 15
anos de prisão por cada abuso sexual cometido.
A reportagem tentou contato com o advogado de R.S.B, mas,
até o momento, não obteve resposta. O espaço está aberto a manifestações.
Correio Braziliense