
Foto: Fellipe Sampaio/STF
O ex-presidente Jair Bolsonaro depôs nesta terça-feira (10)
na ação penal da trama golpista. Ele é um dos oito réus do núcleo 1 da denúncia
apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os acusados de
planejar medidas inconstitucionais para tentar reverter o resultado das
eleições de 2022 e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O interrogatório foi conduzido pelo ministro Alexandre de
Moraes, que é relator da ação no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com a acusação da procuradoria, Bolsonaro tinha
conhecimento da minuta golpista que previa a decretação de medidas de estado de
sítio e prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outras
autoridades.
Além disso, as acusações foram corroboradas pelos
depoimentos de delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro,
tenente-coronel Mauro Cid.
Veja abaixo alguns trechos do depoimento de Bolsonaro:
Plano de golpe de Estado
O ex-presidente afirmou que a possibilidade de golpe de
Estado nunca foi discutida em seu governo, ao ser questionado sobre as
acusações de que teria planejado medidas inconstitucionais para tentar reverter
o resultado das eleições de 2022 e impedir a posse do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Segundo ele, a medida seria danosa para o Brasil.
"Da minha parte, nunca se falou em golpe. Golpe é
abominável. O golpe até seria fácil começar. O afterday é imprevisível e danoso
para todo mundo. O Brasil não poderia passar por uma experiência dessa. Não foi
sequer cogitada essa hipótese de golpe no meu governo", disse.
Minuta do golpe
Bolsonaro também negou ter feito uma minuta de golpe para
justificar a intervenção militar após as eleições de 2022.
Nesta segunda-feira (9), o ex-ajudante de ordens de
Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, foi interrogado por Moraes na condição de
delator e disse que o ex-presidente presenciou a apresentação do documento
golpista, enxugou o texto original e propôs alterações para constar a
possibilidade de prisão de ministros, entre eles de Moraes.
"Não procede o enxugamento. As informações que eu tenho
é de que não tem cabeçalho nem o fecho [parte final]", comentou. "Da
minha parte, eu sempre tive o lado da Constituição. Refuto qualquer
possibilidade de falar em minuta de golpe e uma minuta que não esteja
enquadrada na Constituição", completou.
Tropas da Marinha
Perguntado pelo ministro Moraes se o ex-comandante da
Marinha Almir Garnier colocou as tropas à disposição para executar medidas
golpistas, Bolsonaro afirmou que a informação não procede.
"Em hipótese alguma. Não existe isso. Se nós fossemos
prosseguir em um estado de sítio e de defesa, as medidas seriam outras. Não
tinha clima, não tinha oportunidade e não tinha uma base minimamente sólida
para fazer qualquer coisa", afirmou.
De acordo com a investigação da Polícia Federal, o almirante
teria colocado suas tropas à disposição de Bolsonaro durante uma reunião em
2022 com os comandantes das Forças Armadas. Durante o encontro, Bolsonaro
apresentou estudos para decretação de medidas de estado de sítio e de
decretação de operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para impedir a posse
de Lula.
Pedido de desculpas
O ex-presidente também "pediu desculpas" após ser
questionado sobre declarações nas quais afirmou, sem provas, que ministros do
STF estariam "levando dinheiro" para fraudar o processo eleitoral.
"Não tem indício nenhum. Me desculpe, não tinha essa
intenção de acusar qualquer desvio de conduta", disse.
Urnas eletrônicas
Em outro momento do depoimento, Bolsonaro foi questionado
por Moraes sobre falas nas quais o ex-presidente deslegitimou o processo
eleitoral e insinuou que há fraudes na urna eletrônica.
Em resposta ao ministro, o ex-presidente afirmou que sempre
teve uma retórica a favor do voto impresso, mas nunca tomou nenhuma medida
inconstitucional.
"Em nenhum momento eu agi contra a Constituição. Joguei
dentro das quatro linhas o tempo todo, muitas vezes me revoltava, falava
palavrão, falava o que não deveria falar. No meu entender, fiz aquilo que tinha
quer ser feito", afirmou.
De acordo com Bolsonaro, não houve pressão ao ex-ministro da
Defesa Paulo Sergio Nogueira para apresentar um relatório ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) para insinuar que não é possível descartar fraudes nas urnas
eletrônicas.
"Jamais eu pressionei. Não houve pressão em cima dele
para fazer isso ou aquilo", declarou.
Voz de prisão
Bolsonaro disse não ter recebido voz de prisão do
ex-comandante do Exército Freire Gomes durante reunião com os comandantes das
Forças Armadas para adesão das tropas à tentativa de golpe, em 2022.
"As Forças Armadas sempre primaram pela disciplina e
hierarquia. Aquilo falado pelo brigadeiro Baptista Júnior não procede, tanto é
que foi desmentido pelo próprio comandante do Exército. Se dependesse de alguém
diferente para levar avante um plano ridículo desse, eu teria trocado o
comandante da Aeronáutica", afirmou.
A declaração contradiz o ex-comandante da Aeronáutica
Baptista Júnior, que estava no encontro, e afirmou em depoimento à Polícia
Federal que a ameaça de prisão de Bolsonaro ocorreu durante a reunião.
Depoimentos
Em dois dias seguidos de audiência, os oito réus acusados de
participar do "núcleo crucial" de uma trama golpista foram
interrogados. São eles:
- Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin);
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de
segurança do Distrito Federal e
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI).
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil
e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022.
O interrogatório dos réus é uma das últimas fases da ação
penal.
A expectativa é que o julgamento que vai decidir pela
condenação ou absolvição do ex-presidente e dos demais réus ocorra no segundo
semestre deste ano.
Carolina Pimentel – Agência Brasil