
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), votou nesta quinta-feira (12) a favor da responsabilidade civil das
plataformas que operam as redes sociais.
O voto do ministro foi proferido na ação na qual a Corte
julga a constitucionalidade do Artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014),
norma que estabeleceu os direitos e deveres para o uso da internet no Brasil.
De acordo com o dispositivo, "com o intuito de
assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura", as plataformas só
podem ser responsabilizadas pelas postagens de seus usuários se, após ordem
judicial, não tomarem providências para retirar o conteúdo.
A Corte discute se as plataformas podem ser
responsabilizadas civilmente na Justiça pelos conteúdos ilícitos, como
postagens antidemocráticas e contra o sistema eleitoral, discursos de ódio,
incitação de crimes contra autoridades e por transmissão lives que induzem ao
suicídio e à automutilação de crianças e adolescentes.
Até o momento, o placar do julgamento está 7 votos a 1 a
favor da inconstitucionalidade da norma e possibilidade de punição civil contra
as empresas.
Após o voto de Moraes, o julgamento foi suspenso e será
retomado na quarta-feira (25).
Apesar da maioria formada, ainda não foi aprovada a tese
jurídica com os detalhes da decisão. A tese é necessária para estabelecer as
regras que as plataformas deverão seguir para a retirada dos conteúdos ilegais.
Voto
Ao votar pela responsabilização, Moraes exibiu no telão do
plenário mensagens com conteúdo racista, homofóbico e antissemita que estão
ativas nas redes sociais e não foram retiradas pelas plataformas.
Moraes disse que as grandes empresas de tecnologia impõem
seu modelo de negócio "agressivo", sem respeitar as leis do
Brasil. Para o ministro, as plataformas
não podem ser uma "terra sem lei".
"Somente uma mente doente e criminosa posta isso e
outras mentes doentes e criminosas dão like. Somente mentes omissas não lutam
para retirar isso das redes sociais. Isso não é liberdade de expressão, isso é
crime", afirmou.
8 de janeiro
O ministro mostrou imagens dos atos golpistas de 8 de
janeiro de 2023 e disse que os acusados "instrumentalizaram" as redes
sociais para combinar as invasões aos prédios públicos de Brasília e transmitir
os atos.
"Destruíram, pediram intervenção militar e postavam no
mesmo momento, e as redes sociais sem nenhuma autorregulamentação. A falência
da autorregulamentação das redes sociais é que fez com que a gente tenha que
julgar isso nestas sessões", disse.
Desafios nas redes
Moraes também acusou as plataformas de permitirem a
exposição de vídeos sobre ataques a escolas e de automutilação de crianças e
adolescentes.
"O direcionamento dos algoritmos não é randômico. A
partir do momento em que uma criança ou adolescente consulta esse tema, é
bombardeada por esses temas, incentivando a prática criminosa", comentou.
Desinformação
O ministro disse que a verdade está sendo manipulada nas
redes sociais e reafirmou que "liberdade de expressão não é liberdade de
agressão".
"As pessoas vêm sendo bombardeadas e submetidas a uma
verdadeira lavagem cerebral. A verdade, a mentira, o que é falso vem sendo
manipulado para ganhos econômicos e a obtenção do poder político",
completou.
Maioria
Na sessão de ontem, a Corte formou maioria de seis votos
pela responsabilização das redes.
Votaram nesse sentido os ministros Gilmar Mendes, Cristiano
Zanin, Luiz Fux, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso.
Gilmar Mendes considerou que o Artigo 19 é
"ultrapassado" e que a regulamentação das redes sociais não
representa uma ameaça à liberdade de expressão.
Para o ministro, o "modelo de irresponsabilidade das
plataformas" não poder ser mantido.
Zanin votou pela inconstitucionalidade do artigo e afirmou
que o dispositivo não é adequado para proteger os direitos fundamentais e impõe
aos usuários o ônus de acionar o Judiciário em caso de postagens ofensivas e
ilegais.
Fux e Toffoli votaram para permitir a exclusão de postagens
ilegais por meio de notificações extrajudiciais, ou seja, pelos próprios
atingidos, sem decisão judicial prévia.
Barroso diz que a ordem judicial é necessária para a remoção
somente de postagens de crimes contra a honra (calúnia, difamação e
injúria"). Nos demais casos, a notificação extrajudicial é suficiente para
a remoção de conteúdo, mas cabe às redes o dever de cuidado para avaliar as
mensagens estão em desacordo com as políticas de publicação.
O único voto divergente foi proferido pelo ministro André
Mendonça, que votou a favor pela manutenção das atuais regras que impedem a
responsabilização direta das redes.
Casos julgados
O STF julga dois casos concretos que envolvem o Marco Civil
da Internet e que chegaram à Corte por meio de recursos.
Na ação relatada pelo ministro Dias Toffoli, o tribunal
julga a validade da regra que exige ordem judicial prévia para
responsabilização dos provedores por atos ilícitos. O caso trata de um recurso
do Facebook para derrubar decisão judicial que condenou a plataforma por danos
morais pela criação de perfil falso de um usuário.
No processo relatado pelo ministro Luiz Fux, o STF discute
se uma empresa que hospeda um site na internet deve fiscalizar conteúdos
ofensivos e retirá-los do ar sem intervenção judicial. O recurso foi
protocolado pelo Google.
André Richter/Aline Leal - Agência Brasil