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18/06/2025

Vereador confessa ter colocado laxante na água de colega e renuncia ao cargo após fato virar caso de polícia



Foto: Divulgação/Câmara Municipal de Santa Rita do Sapucaí


O vereador Gato da Corrida (União Brasil) apresentou, nessa terça-feira (17/6), uma carta de renúncia ao mandato na Câmara Municipal de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais. Ele estava sendo investigado por ‘batizar’ a água do colega, o vereador Dito Pistola (PL), durante uma sessão na Casa.

 

Carlos Roberto Dias, conhecido como Gato da Corrida, chegou a gravar um vídeo confessando ter colocado laxante no copo de água. Como é unilateral, a carta de renúncia não precisa ser aceita ou votada. O documento foi lido durante sessão ordinária.

 

No documento, Gato cita que não encontrou segurança jurídica na Câmara da cidade. Ele critica a Comissão de Ética, à frente da investigação do caso, dizendo ter praticado um "verdadeiro show midiático, com absoluto desrespeito ao devido processo legal", e ainda cita ausência de perícia, da entrega de imagens para sua defesa, de perícia nas imagens e de observância ao Rito Processual, que ele cita ser o adequado.

 

Ainda na carta, Gato agradeceu aos eleitores que confiaram seus votos nele e cita que a ausência de segurança jurídica na Câmara é o único motivo para sua renúncia, pois isso, segundo ele, agravará suas condições de saúde no momento.

 

 Relembre o caso

 

Durante a 15ª Sessão Ordinária na Câmara de Santa Rita do Sapucaí/MG, realizada no dia 20 de maio, o vereador Benedito Raimundo Ribeiro (PL), conhecido como Dito Pistola, denunciou que sua água estava "batizada". Ele usou a tribuna para denunciar a suspeição e acionar a Polícia Militar (PMMG), que enviou uma viatura para o plenário e apreendeu o copo de água.

 

Cinco dias depois, o vereador Carlos Roberto Dias, conhecido como Gato da Corrida (União Brasil), admitiu ter colocado laxante na água do colega. Gato publicou um vídeo nas redes sociais, de cerca de quatro minutos e meio, dizendo que queria abrir o jogo, falar a verdade, pois tinha errado. Ele citou raiva, impulso, perseguições e deboches para fazer o que fez.

 

Após a repercussão nas redes sociais, o presidente da Câmara, vereador Antônio Longuinho (PDT), abriu uma sindicância administrativa para apurar o caso, nomeando três servidores para a comissão sindicante. Em vídeo, o presidente disse que já tinha apurado quem seria o responsável por batizar a água.

 

O presidente citou ainda que, durante a apuração, foram colhidos depoimentos de vereadores e servidores, e que a Sindicância demonstrou não ter havido nenhum envolvimento de servidores da Câmara Municipal com o caso. Depois, o assunto seguiu para comissão de ética. Toda documentação chegou a ser enviada para a Polícia Civil (PCMG), que abriu um inquérito para investigar o caso.

 

Advogados de defesa citam desespero e guias espirituais

 

A reportagem teve acesso a um documento enviado pelos advogados do vereador Gato da Corrida à Câmara. Nele, os advogados criticam a comissão de Ética da Casa Legislativa, em várias situações, além de citar a relatora do caso, Vereadora Carla Almeida (PDT).

 

Primeiro, os advogados citam que o vereador foi notificado em casa sobre a investigação, enquanto estava de atestado médico de 30 dias (por ansiedade e quadro depressivo, segundo o documento). E acrescentam que o nome do vereador não constava na notificação, o que chamaram de "claro e amador serviço prestado por esta Comissão".

 

Depois, os advogados criticaram a ausência de perícia na água, de perícia nas imagens de câmeras de segurança e da entrega das imagens para que o vereador pudesse construir sua defesa. Eles ainda disseram que o vereador teria colocado açúcar na água (e não laxante), que gravou o vídeo onde confessava, por desespero e receito que terceiros fossem acusados, e que ele teria colocado o ‘açúcar’ orientado por seus guias espirituais.

 

 "A água, fruto deste imbróglio, foi enviada para análise e torna-se impositivo que se aguarde a perícia, que certamente comprovará que continuava própria para o consumo. O Vereador, em estado de perturbação mental completo, com receio que terceiros inocentes fossem acusados, gravou um vídeo afirmando ter colocado "laxante" na água do outro vereador. O vídeo foi apenas medida de desespero; na realidade, orientado por seus guias espirituais, o Vereador apenas colocou açúcar na água, como sendo um "trabalho espiritual", sem qualquer possibilidade de ocasionar danos" , cita o documento.

 

Ainda no documento, os advogados afirmam que houve imparcialidade da relatora, vereadora Carla Almeida. Eles citam marketing pessoal com a situação e afirmam que a vereadora tenta transformar o episódio em espetáculo teatral.

 

"Conforme será provado, fica clara a vontade da Ilustre Relatora (ocupante irregular desta posição) em promover ataques ao acusado, adiantar seu voto, fazer marketing pessoal com a situação, entre outras questões. Como Juíza indiscreta, transformou sua atuação em espetáculo midiático. Fato é que a relatora tenta transformar o episódio em espetáculo teatral, quando não passa de pequena apresentação circense aos olhos do Direito. Frustrada com a tentativa de alguns meses em ignorar completamente o rito procedimental em tentativa de cassar o vereador Benedito, a relatora passa doravante a atacar qualquer alvo: se for denunciado, seu parecer deve ser pela cassação, não importa quem, nem o fato, o importante é trazer engodo para a população que a Comissão está trabalhando. De fato, está, mas em formato claramente questionável" , diz o documento.

 

Eleito com quase 400 votos

 

Carlos Roberto Dias (Gato da Corrida) tem 64 anos. Ingressou na política em 1988, quando foi candidato a vereador pela primeira vez. Disputou diversas eleições para a Câmara Municipal até ser eleito, em 2020, pelo Cidadania. Passou também por partidos como PTB, PDT, PFL/DEM, PMDB e PTdoB.

 

Estava no segundo mandato, reeleito pelo União Brasil em 2024, com 396 votos. Fazia parte das seguintes comissões permanentes da Câmara: Finanças, Justiça e Legislação (presidente); Segurança Pública (relator); Defesa dos Direitos da Mulher (relator); Educação, Cultura e Saúde (vogal); Ética e Decoro Parlamentar (vogal) e Esportes (vogal).

 

Quem assumirá a vaga?

 

De acordo com a Câmara de Santa Rita do Sapucaí, com a saída de Carlos Roberto, a cadeira do Legislativo será ocupada pelo primeiro suplente do União Brasil, José Márcio Cunha. Ele assumirá seu segundo mandato, após ser eleito também em 2012. Ainda não há detalhes de quando o novo vereador tomará posse.

 

 

Vereadora foi procurada

 

A reportagem procurou a Câmara Municipal de Santa Rita do Sapucaí, que ficou de emitir uma nota sobre a situação, mas ainda não retornou. Também procuramos a vereadora Carla Almeida, relatora da comissão de ética, que foi citada no documento dos advogados de defesa de Gato da Corrida. Ela também disse que retornaria em breve.

 

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