
Foto: Rosinei Coutinho/SCO-STF
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), disse nesta quinta-feira (24) não ter dúvida de que o ex-presidente Jair
Bolsonaro violou a proibição de utilizar as redes sociais, mas que o episódio
foi pontual e não seria o bastante para decretar a prisão preventiva.
Moraes apontou para publicação do deputado licenciado
Eduardo Bolsonaro na rede social Facebook, feita momentos depois de uma ida do
ex-presidente ao Congresso, onde Bolsonaro mostrou a tornozeleira eletrônica
que foi obrigado a usar e deu declarações à imprensa.
“Na presente hipótese, na veiculação pelas redes sociais de
discurso proferido por JAIR MESSIAS BOLSONARO na Câmara do Deputado por seu
filho, também investigado, momentos após o acontecimento, constata-se a
tentativa de burlar a medida cautelar”, escreveu Moraes.
O ministro reiterou que “não há dúvidas de que houve
descumprimento da medida cautelar imposta, uma vez que, as redes sociais do
investigado EDUARDO NANTES BOLSONARO foram utilizadas à favor de JAIR MESSIAS
BOLSONARO dentro do ilícito modus operandi já descrito”.
No entanto, Moraes afirmou que a violação foi “isolada”, sem
notícias de outros descumprimentos. Ele também disse ter levado em consideração
as explicações da defesa de Bolsonaro. Os advogados negaram qualquer intenção
do ex-presidente de violar medidas cautelares e afirmou que ele “vem observando
rigorosamente as regras de recolhimento impostas”.
Ele advertiu, contudo, que "se houver novo
descumprimento, a conversão será imediata" das cautelares em prisão
preventiva.
Burlar proibições
Sobre o alcance das medidas cautelares impostas a Bolsonaro,
o ministro esclareceu que em nenhum momento o ex-presidente foi proibido de
conceder entrevista ou fazer manifestações públicas, mas que isso não significa
que ele possa se valer de situações “pré fabricadas” para que sejam publicadas
por terceiros de forma coordenada, burlando a proibição de usar as redes
sociais.
“JUSTIÇA É CEGA MAS NÃO É TOLA!!!!!”, exclamou Moraes. O
ministro destacou ser esse o modo de operar típico de milícias digitais que
atacam a democracia, coordenar publicações nas redes sociais para disseminar
eventuais crimes cometidos por Bolsonaro.
Soberania nacional
Moraes acrescentou que tais entrevistas e atos públicos de
Bolsonaro são planejados “sempre com a finalidade de continuar a induzir e
instigar chefe de Estado estrangeiro a tomar medidas para interferir
ilicitamente no regular curso do processo judicial, de modo a resultar em
pressão social em face das autoridades brasileiras, com flagrante atentado à
Soberania nacional”.
A referência do ministro diz respeito a sanções do governo
de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, impostas contra ele próprio e
outros sete ministros do Supremo e seus familiares, que tiveram seus vistos de
entrada nos EUA canceladas.
O anúncio de medida foi feito pelas redes sociais pelo
secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. O motivo dado foi a suposta violação
da liberdade de expressão e dos direitos humanos na condução dos processos
sobre a trama golpista bolsonarista.
Neste mês, Trump também anunciou um tarifaço de 50% sobre
todos os produtos brasileiros importados pelos EUA, a se tornar efetiva em 1º
de agosto.
Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também
publicada primeiro nas redes sociais, Trump deu como justificativa central para
a medida o que disse ser uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
Inquérito
Bolsonaro e Eduardo são investigados pelo que seria uma
tentativa de intimidar o Supremo Tribunal Federal (STF) a arquivar o processo
no qual ele é acusado de ter tentado um golpe de Estado para se manter no poder
após derrota eleitoral.
Ao impor medidas cautelares contra Bolsonaro, na última
sexta-feira (18), Moraes afirmou que Bolsonaro faz uma “flagrante confissão”
dos crimes de coação no curso do processo e obstrução de Justiça, ao dizer que
o recuo de Trump do tarifaço está condicionado a uma anistia da trama golpista.
O ministro apontou que Bolsonaro confessou em juízo ter
enviado R$ 2 milhões recebidos numa campanha de arrecadação para que Eduardo se
mantenha nos EUA, onde percorre um périplo político para conseguir sanções
internacionais contra os ministros do Supremo e o próprio Brasil.
As medidas cautelares impostas a Bolsonaro foram confirmadas
na segunda (21) pela Primeira Turma do Supremo, por 4 votos a 1. Votaram a
favor, além do próprio Moraes, os ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e
Cristiano Zanin. O ministro Luiz Fux foi o único a divergir, por não ver risco
de fuga do ex-presidente.
Felipe Pontes/Aécio Amado – Agência Brasil