
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta
(Republicanos-PB), voltou a defender a chamada PEC da Blindagem, ou PEC das
Prerrogativas, nesta segunda-feira (22), dia seguinte aos protestos que levaram
milhares de pessoas às ruas de todas as capitais do Brasil.
Para Motta, o debate foi distorcido e a PEC não teria sido
articulada para blindar parlamentares de processos por “crimes comuns”, como
afirmam os críticos, mas sim para conter supostos excessos do Judiciário contra
deputados.
“Nós temos deputados sendo processados por crimes de
opinião, temos deputados sendo processados por discursos na Tribuna, temos
deputados sendo processados por uso das redes sociais. Essa é a realidade do
país hoje”, disse Motta durante evento promovido pelo banco BTG Pactual.
Os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por
tentativa de golpe de Estado, têm sustentado que eles estão sendo “perseguidos”
por apenas “emitir opinião” no contexto do julgamento do STF da trama golpista.
O argumento é rejeitado por ministros da Corte, que
qualificam o movimento golpista como tentativa de anular uma eleição legítima e
manter Bolsonaro no poder contra a vontade popular, crimes previstos na
legislação.
Ainda segundo Motta, a discussão da PEC da Blindagem foi
“distorcida” e atualmente, com a força das redes sociais, o Parlamento não
seria blindado contra crimes comuns.
“Quando é que vamos ter um crime comum cometido por quem
quer que seja, sair impune, ainda mais por um parlamentar? É claro que a Câmara
não vai aliviar para um parlamentar que cometa um crime comum, seja ele qual
for”, completou.
O advogado e jurista Marco Aurélio de Carvalho, coordenador
do Grupo Prerrogativas, ponderou à Agência Brasil que a imunidade parlamentar
não pode ser usada para proteger pronunciamentos que envolvam calúnia, injúria,
ataques à democracia ou tentativa de obstrução de ação penal, como é o caso de
alguns deputados.
“Não podemos, evidentemente, criminalizar a opinião que é
fruto do debate político honesto, franco, transparente e direto. Mas opiniões
que, na verdade, de alguma forma, carregam ódio, intolerância, crimes contra a
honra, como calúnia, difamação, injúria e outras tantas coisas, têm que ser
examinadas à luz da legislação. E o mandato não pode ser, digamos, uma
salvaguarda para cometimento de crimes”, comentou.
Os protestos desse domingo tiveram, entre os principais
alvos, o atual presidente da Câmara por seu papel na aprovação da PEC da
Blindagem. Os críticos argumentam que a proposta foi costurada para proteger os
parlamentares contra processos criminais.
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado pautou
a PEC para próxima quarta-feira (24), com expectativa de rejeitar o projeto
após a repercussão negativa.
Anistia e dosimetria
Motta também defendeu a redução de penas para os condenados
pelos eventos que culminaram no 8 de janeiro de 2023. Para ele, se esse debate
não for superado, “muito dificilmente a Câmara vai produzir normalmente”.
“O que a Câmara quer construir é dentro das regras legais do
país, reconhecendo o papel que o Supremo cumpriu naquele episódio triste que
foi o 8 de janeiro, procurando sim imputar àquelas pessoas que foram lá
quebrar, depredar, aquelas pessoas que armaram, por exemplo, planos para matar
pessoas”, ponderou.
Para Motta, é possível uma mudança na lei penal para rever
penas que o Congresso entende que foram exageradas.
“[Caso essa solução seja aprovada] que o próprio Poder
Judiciário [possa] fazer uma reinterpretação dessas penalidades e, quem sabe,
mandar essas pouco mais de 180 pessoas que estão presas hoje para casa”, disse.
O presidente da Câmara concluiu que essa é uma boa solução
para “distensionar um pouco esse ambiente político e poder, a partir daí, ter
outra pauta” que, segundo ele, não seja “tóxica” para o país.
O relator do projeto de lei sobre o tema, deputado Paulinho
da Força (Solidariedade-SP), tem dado declarações de que o texto não deve
discutir a anistia, que seria um perdão dos crimes, mas sim uma redução das
penas por meio de nova dosimetria dos crimes cometidos.
Blindagem ou Prerrogativas
A PEC da Blindagem ganhou força na Câmara, após ações do
Supremo Tribunal Federal (STF) contra parlamentares envolvidos na tentativa de
golpe de Estado que culminou no 8 de janeiro de 2023 e também com o crescimento
de inquéritos para investigar a execução de emendas parlamentares, recursos
públicos da ordem de RS 50 bilhões anuais sob controle do Legislativo.
Com a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, a
oposição ocupou os plenários da Câmara e do Senado, impedindo os trabalhos da
Casa e exigindo, entre outras pautas, o aumento das prerrogativas dos
parlamentares contra ações do STF.
Por outro lado, especialistas e organizações que atuam no
tema do combate à corrupção alertam que a proposta pode barrar ações contra
corrupção no uso das emendas parlamentares.
O fim da exigência de autorização prévia do Parlamento para
processos criminais contra deputados e senadores foi aprovada por Emenda
Constitucional em dezembro de 2001, após centenas de casos de impunidade
chocarem a opinião pública ao longo de toda a década de 1990.
Lucas Pordeus León/Graça Adjuto – Agência Brasil