
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
A taxa de desocupação no trimestre encerrado em agosto ficou
em 5,6%, repetindo o menor patamar já registrado pela série histórica da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
No mesmo período do ano passado, o índice estava em 6,6%. Os
dados foram divulgados nesta terça-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). A maior taxa já registrada foi de 14,9%, atingida
em dois períodos: nos trimestres móveis encerrados em setembro de 2020 e em
março de 2021, ambos durante a pandemia de covid-19.
O país tinha, no fim de agosto, 6,1 milhões de pessoas
desocupadas, o menor contingente da série. Isso representa 605 mil pessoas a
menos na procura de trabalho, em relação ao trimestre móvel anterior, terminado
em maio. O número de ocupados chegou a 102,4 milhões.
Com esse resultado, o nível da ocupação, que mede o
percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, ficou em
58,1%, se mantendo no nível mais alto da série histórica.
O número de empregados com carteira assinada também foi
recorde e alcançou 39,1 milhões de pessoas, com alta de mais 1,2 milhão em
relação ao mesmo período do ano passado.
Setores
De acordo com o analista da pesquisa William Kratochwill, a
queda na desocupação passa pelo setor de educação pública. "A educação
pré-escolar e fundamental fazem contratações ao longo do primeiro semestre. São
trabalhadores sem carteira, com contratos de trabalho temporários",
explica, acrescentando que essas contratações se concentram nas prefeituras.
O pesquisador frisa que no setor de trabalho doméstico houve
redução de ocupados, menos 174 mil em relação ao trimestre móvel terminado em
maio. Kratochwill afirma que isso pode ser reflexo de mercado de trabalho
aquecido.
“As pessoas deixam de fazer serviço doméstico e migram para
outros tipos de serviço.”
Mercado de trabalho
A pesquisa do IBGE apura o comportamento no mercado de
trabalho para pessoas com 14 anos ou mais e leva em conta todas as formas de
ocupação, seja com ou sem carteira assinada, temporário e por conta própria,
por exemplo. Pelos critérios do instituto, só é considerada desocupada a
pessoas que efetivamente procura uma vaga. São visitados 211 mil domicílios em
todos os estados e no Distrito Federal.
A taxa de informalidade - proporção de trabalhadores
informais na população ocupada - ficou em 38%, acima dos 37,8% do trimestre
móvel anterior. O aumento é explicado pelo crescimento do trabalhado por conta
própria sem CNPJ, que chegou a 19,1 milhões de pessoas, 1,9% a mais que no
trimestre até maio.
"Isso é um sinal de que as pessoas estão apostando no
trabalho autônomo, são trabalhadores com menor de escolaridade, geralmente nas
atividades de comércio e alimentação. Uma parcela de desalentados [pessoa que
não procura emprego por achar que não conseguirá vaga] pode ter migrado, em
parte, para a informalidade."
Renda
No trimestre terminado em agosto, o rendimento médio do
trabalhador ficou em R$ 3.488, estável em relação ao trimestre anterior e alta
real – acima da inflação – de 3,3% ante o mesmo período do ano passado. O valor
está bem próximo o recorde já registrado, de R$ 3.490, no fim de junho.
A massa de rendimento, o total que os trabalhadores recebem,
chegou a R$ 352,6 bilhões, alta de 1,4% frente ao trimestre até maio e de 5,4%
ante o mesmo trimestre de 2024.
Segundo Kratochwill, os resultados da Pnad revelam mercado
de trabalho forte, a despeito da política monetária restritiva – juros altos –
para combater a inflação.
“O mercado de trabalho está, de fato, aquecido, com níveis
recordes de baixa de desocupação e alta de ocupação. Sinais que mostram o
mercado de trabalho forte, bom para o trabalhador.”
A Selic, taxa básica de juros da economia está em 15% ao
ano, maior patamar desde julho de 2006 (15,25%).
Uma face do juro alto é o efeito contracionista, que combate
a inflação. A elevação da taxa faz com que empréstimos fiquem mais caros – seja
para pessoa física ou empresas ─ e desestimula investimentos, uma vez que pode
valer mais a pena manter o dinheiro investido, rendendo juro alto, do que
arriscar em atividades produtivas. Esse conjunto de efeitos freia a economia.
Caged
A Pnad é divulgada no dia seguinte a outro indicador de
comportamento do mercado de trabalho, o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e
que acompanha apenas o cenário de empregados com carteira assinada.
De acordo com o Caged, o mês de agosto apresentou saldo
positivo de 147.358 vagas formais. Em 12 meses, o balanço é positivo em 1,4
milhão de postos de trabalho formais.
Bruno de Freitas Moura/Maria Claudia – Agência Brasil