
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta
sexta-feira (10), que, a partir de agora, a classe média também passa a ser
assistida pelos programas de habitação do país. Lula anunciou o novo modelo de
crédito imobiliário, que reestrutura o uso da poupança para ampliar a oferta de
crédito, especialmente para essa parte da população que ganha mais de R$ 12
mil.
Durante participação no evento Incorpora 2025, em São Paulo
(SP), um dos maiores do setor habitacional, Lula disse que sempre teve “uma
inquietação” para atender à necessidade de moradias da classe média.
“Um trabalhador metalúrgico, um bancário, um químico, um
gráfico, um trabalhador da Caixa Econômica, um professor [...] Essas pessoas
não têm direito a comprar casa, porque elas nem são pobres, não estão na faixa
1, nem na faixa 2 [do Minha Casa, Minha Vida]”, disse.
“Esse programa foi feito pensando nessa gente, pensando em
dar àqueles que ainda não têm direito, o direito de ter a sua casinha um pouco
melhor”, afirmou.
Para o presidente, a classe média pode escolher onde morar.
“Ele não quer uma casa de 40 metros quadrados, ele quer uma
casa de 80 metros quadrados. Ele não quer morar no Cafundó do Judas, ele quer
morar no lugar mais próximo onde ele está habituado a morar. O que nós vamos
tentar fazer é adequar as dificuldades econômicas das pessoas levando em conta
o respeito à dignidade humana de morar no lugar aonde pensa que é bom morar”,
disse.
O novo modelo de crédito imobiliário do país reestrutura o
uso da poupança para ampliar a oferta de crédito.
Veja regras:
- Valor máximo do imóvel passa de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25
milhões
- Famílias com renda familiar entre R$ 12 mil e R$ 20 mil
terão acesso ao novo financiamento
- Operações feitas pelo Sistema Financeiro de Habitação
(SFH), com juros limitados a 12% ao ano
- Caixa volta a financiar 80% do valor do imóvel
Fim do compulsório
Após um período de transição, o total dos recursos
depositados na caderneta de poupança será referência para uso no setor
habitacional, com o fim dos depósitos compulsórios no Banco Central (BC). Além
disso, o valor máximo do imóvel financiado no Sistema Financeiro da Habitação
(SFH) passará de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões.
Hoje, famílias com renda até R$ 12 mil são atendidas pelo
Minha Casa, Minha Vida, com juros menores, e, desde o início do seu terceiro
mandato, Lula defende alternativa de financiamento para a classe média.
A previsão é que, com essa mudança, a Caixa Econômica
Federal financie mais 80 mil novas moradias até 2026.
Atualmente, 65% dos recursos captados pelos bancos da
poupança precisam ser direcionados ao crédito imobiliário; 15% estão livres
para operações mais rentáveis e 20% ficam com o Banco Central na forma de
depósito compulsório.
Os financiamentos via SFH vinham perdendo espaço no mercado
em meio a saques da caderneta de poupança, principal fonte de recursos para
crédito habitacional no país
Em 2023 e 2024, as retiradas líquidas da poupança foram R$
87,8 bilhões e R$ 15,5 bilhões, respectivamente. Em 2025, caderneta já tem
resgate líquido de R$ 78,5 bilhões. Entre as razões para os saques está a
manutenção da Selic – a taxa básica de juros – em alta, o que estimula a
aplicação em investimentos com melhor desempenho.
Transição até 2027
A reforma anunciada hoje “moderniza as regras” de
direcionamento do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), com o
objetivo de maximizar a poupança como fonte de financiamento.
“Na medida em que mais valores são depositados em poupança,
mais crédito será disponibilizado para financiamento imobiliário, o que tende a
ampliar a oferta de crédito, considerando ainda as captações de mercado, por
exemplo, via LCIs (Letras de crédito imobiliário) e CRIs (Certificados de
recebíveis imobiliários)”, explicou o governo, em comunicado.
Após um período de transição, o direcionamento obrigatório
de 65% dos depósitos da poupança acabará e os depósitos compulsórios no Banco
Central referentes a esse tipo de aplicação também. O total dos recursos
depositados na caderneta de poupança passará a ser referência para o volume de
dinheiro que os bancos devem destinar ao crédito habitacional, incluindo as
modalidades do SFH e do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI).
Quando estiver plenamente implementado o novo modelo, se uma
instituição captar no mercado, por exemplo, R$ 1 milhão e direcionar
integralmente esse montante para financiamento imobiliário, ela poderá usar a
mesma quantia captada na poupança, que tem custo mais baixo, para aplicações
livres por um período predeterminado.
Para isso, 80% dos financiamentos habitacionais deverão ser
feitos pelas regras do SFH, que têm juros limitados a 12% ao ano.
“O novo modelo aumenta a competição, pois incorpora os
depósitos interfinanceiros imobiliários ao direcionamento, o que permite que
instituições que não captam poupança também concedam crédito habitacional em
condições equivalentes às demais”, argumenta o governo.
A transição será gradual, iniciando ainda este ano. O novo modelo
deverá ter plena vigência a partir de janeiro de 2027. Até lá, fica valendo o
direcionamento obrigatório de 65% dos recursos captados na poupança para
operações de crédito habitacional.
Dos 35% restantes, pelas regras atuais, 20% são recolhidos
ao Banco Central a título de depósito compulsório e 15% vão para operações
livres. Durante a transição, o volume dos compulsórios será reduzido para 15% e
os 5% serão aplicados no novo regime.
Andréia Verdélio/Lilian Beraldo – Agência Brasil