Esta semana, todos nós que desfrutamos de amizade com Zélia
e Jarbas nos consumimos um pouco em meio às lágrimas pela perda irreparável e
prematura de Raissinha. Uma menina meiga, doce, agradável, linda, inteligente e
que lutou, até enquanto pôde, por permanecer entre nós aqui neste mundo.
A Mistagogia Divina nos faz pensar muito e entender pouco
sobre o papel determinado pelo Criador para que o estejamos cumprindo aqui
neste mundo. Ao se comunicar com a humanidade através dos profetas e, mais recentemente,
ao transmitir um pouco dos mistérios de Sua existência através de Seu Filho
Jesus Cristo, Deus nos faz entendedores do Seu Reino e nos dá a certeza de que
tudo está preparado para nós, para que possamos, um dia, compartilhar da vida
ao lado do Pai, na Morada Celestial.
A tristeza externada em lágrimas e palavras por Zélia; e em
zelo e preocupação por Jarbas, tem um sentido, é claro. A perda de um ente
querido acarreta sentimentos de solidão e desconforto. De um filho, então,
ainda mais. E para quem conhecia a cumplicidade entre Zélia e Raissinha, muito
mais ainda...
O mais confortante é trazido pelo próprio Deus, através da
Bíblia, que contem a Sua Palavra. E a Sagrada Escritura nos mostra que o
principal é saber que nem tudo acaba aqui. Pelo contrário, a morte significa o
nascimento para uma Vida Eterna. E se considerarmos o que Deus nos preparou e
nos transmitiu pela Sagrada Escritura, muito melhor do que esta que estamos a
desfrutar hoje.
Existem vários trechos da Bíblia que podem nos confortar em
momentos como este. A começar pelo Livro da Sabedoria. “As almas dos justos
estão nas mãos de Deus e nenhum tormento as alcançará” (Sb 3, 1a). No mesmo livro,
mais certezas para nós: “Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos:
seu desenlace é julgado como uma desgraça, e sua morte como uma destruição,
quando na verdade estão na paz” (Sb 3, 2-3).
A Sagrada Escritura também nos dá a certeza de que, ao
morrer, partimos daqui e nascemos, imediatamente, em uma Nova Vida, ao lado do
Pai Celestial. “Ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43), disse Jesus
ao ‘bom ladrão’, crucificado a seu lado.
Por outro lado, ainda que em algumas crenças a oração pelos
mortos seja sem sentido, para os cristãos católicos rezar por quem já não está
entre nós tem grande valia, considerando o que nos mostra a Sagrada Escritura.
Vejamos:
“Puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo
do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar
qualquer transgressão, ao ver diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que
foram mortos por causa dos pecados. Em seguida, fez uma coleta, enviando a
Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos
pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição,
porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e
supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda
os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que
ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas
faltas” (2Mac 12, 42-46)
Por isso, considerando que para nós, cristãos católicos, o
sacrifício por excelência é o sacrifício eucarístico; e a oração completa
também está presente neste sacrifício, que é a Santa Missa, devemos considerar,
respeitar e participar deste “sacrifício expiatório para que os mortos fossem
livres de suas faltas”, como descrito no final do trecho bíblico acima.
Portanto, vemos a importância que nós, católicos, damos à
Missa, pois nela escutamos a Palavra de Deus e nos alimentamos do Corpo e
Sangue de Cristo, o que nos permite estar unidos intimamente a Jesus e nos
possibilita nossa futura ressurreição:
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é
verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o
Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a
minha carne viverá por mim.” (Jo 6, 54-57).
Porém, mesmo com todas essas certezas, claro que a morte é
dolorosa. Jesus chocou diante da morte de seu amigo Lázaro, a quem muito amava.
Mas a dor deve sempre ser substituída pela certeza que nos dá Jesus Cristo,
através da Sagrada Escritura. “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida.
Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e
crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11, 25-26).
E para finalizar, o caminho para que possamos fortalecer
nossa fé e a esperança da vida eterna, o que nos traz conforto e alegria para a
alma: “Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos,
para que não vos entristeçais, como os outros homens que não têm esperança. Se
cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus
os que nele morreram” (1Tes 4, 13-14).
Que Jarbas, Zélia, demais familiares e os inúmeros amigos
que partilharam da dor e da angústia de uma mãe e de um pai que levaram sua
filha ao túmulo, possamos, todos, unidos, em oração, pedir a Deus o conforto
necessário; e a Nossa Senhora, aquela que tanto sofreu ao ver seu filho
maltratado, humilhado e morto na cruz, o auxilio na superação deste momento tão
difícil.
Maria na frente e Deus no comando. Sempre!
Carlos Magno