Pesquisadores do Citizen Lab, da Universidade de Toronto, no
Canadá, afirmaram que o software espião "Pegasus" foi utilizado
contra jornalistas no México. O Pegasus é um software de espionagem altamente
sofisticado, capaz de monitorar praticamente toda a atividade do celular, e é
desenvolvido pela NSO Group, uma empresa de Israel que diz comercializar o
programa apenas para autoridades policiais.
A NSO garante que seus clientes são fiscalizados para que o
uso do software ocorra exclusivamente em investigações policiais e ações
antiterrorismo, mas o Citizen Lab e a Anistia Internacional vêm divulgando
casos em que o Pegasus é usado contra ativistas políticos e jornalistas.
O ativista canadense Omar Abdulaziz, que teve contato com o
jornalista Jamal Khashoggi, morto em um consulado saudita em outubro, também
foi vítima do Pegasus e moveu uma ação contra a empresa israelense por
acreditar que o hacking foi realizado ilegalmente por autoridades sauditas. No
México, são conhecidos 22 casos do uso do software e as vítimas incluem
ativistas anticorrupção, advogados, políticos e até o filho de uma jornalista.
O novo caso aumenta a lista de vítimas mexicanas para 24 com
dois colaboradores do jornal "Rio Doce", uma publicação fundada por
Javier Valdez Cárdenas para investigar o crime organizado e o tráfico de
drogas. Ele foi assassinado com 12 tiros em maio de 2017. Dois dias depois do
assassinato, Andrés Villarreal, um colega de Cárdenas, recebeu uma mensagem
afirmando que o assassino havia sido identificado.
A mensagem estava acompanhada de um link que, se fosse
acessado, teria instalado o Pegasus no celular de Villarreal, de acordo com o
Citizen Lab. Posteriormente, o diretor do "Rio Doce", Ismael Bojórquez,
também receberia mensagens semelhantes. As mensagens nem sempre tinham temas
diretamente ligados ao assassinato: uma delas, recebida por Villarreal dizia:
"sei que falhei contigo e prometi me afastar, mas esta foto de nós juntos
me fez lembrar de você". Algumas das mensagens teriam se disfarçado também
de avisos de cobrança.
Os dois suspeitaram das mensagens e contratam a Artigo 19 e
a Rede de Defesa de Direitos Digitais (R3D), duas organizações mexicanas
parceiras do Citizen Lab. O caso foi remetido aos pesquisadores canadenses, que
conseguiram identificar que a mensagem possuía links para uma infraestrutura
digital previamente atribuída à NSO.
A NSO diz possuir um Comitê de Ética para garantir que seu
produto não seja utilizado de forma indevida. Para o Citizen Lab, a
continuidade dos problemas no México mostra que a NSO não está tomando medidas
para impedir o uso abusivo do seu produto de espionagem.
Embora o Pegasus já tenha sido usado contra um alvo
brasileiro, no momento não há indícios de que qualquer autoridade brasileira
tenha ligações com a empresa – G1.
Carlos Magno