Um homem de família católica e que sofria havia vários anos
com depressão. Assim o atirador que matou quatro pessoas e feriu outras duas a
tiros antes de se suicidar em Campinas nesta terça-feira (11) é descrito por
amigos e familiares.
Na juventude, Euler Fernando Grandolpho, 49, criticava a
atuação do pai na Igreja Católica, mas seguia valores conservadores. Era tido
pelo grupo de amigos como um "cara cabeça", "um jovem de beleza
estupenda, muito inteligente", segundo contou à reportagem uma
ex-namorada, que conviveu com ele dos anos 1980 ao início dos anos 2000.
Euler, que não trabalhava desde 2014, morava com seu pai em
um condomínio de classe média em Valinhos, cidade próxima de Campinas. A mãe
dele morreu anos atrás.
Nesta terça (11), a Polícia Civil apreendeu papeis,
documentos, cartas e um notebook na casa. O delegado José Henrique Ventura diz
que familiares descreveram Euler como uma pessoa retraída, de pouca conversa.
Eles disseram não ter conhecimento que ele tivesse arma.
"Houve algum problema com ele, com certeza, porque ele
não tinha nada de criminoso", disse à reportagem o primo Ricardo Barão,
40, apesar do pouco contato com Euler
ultimamente. "Desde a última vez que tive contato, anos atrás, tinha essa
questão de depressão. Ele passou por tratamento médico e tudo", afirmou.
No condomínio onde Euler morava, o acesso à imprensa é
restrito. Porteiros dizem que, abalada, a família se assustou com a presença de
jornalistas.
Do lado de fora, alguns vizinhos afirmaram que Euler
costumava ser visto passeando com um cachorro pela rua e uma irmã dele também
era vista com frequência.
O pai do atirador, Eder Grandolpho, aparentava estar
debilitado após a morte da esposa, de acordo com vizinhos. Ele era frequentador
assíduo da Igreja Católica. Em um post no Facebook, escreveu que era ministro
de eucaristia na paróquia Santo Cura D'Ars, em Campinas, há dez anos.
Euler era pouco assíduo nas redes sociais -sua página no
Facebook tem só oito amigos. Até 2014, ele trabalhou como auxiliar de
promotoria no Ministério Público de São Paulo.
A escrevente Rita Franco, 46, diz que ficou surpresa ao
perceber que o atirador da catedral era o Euler com quem namorou na juventude.
Ela conta que ele cresceu em uma família de classe média, "bem
estruturada", no bairro fabril Swift, na zona sul de Campinas -a 5 km de
Valinhos. Passou para o concorrido Cotuca, o colégio técnico da Unicamp, e
depois se formou publicitário na Unip (Universidade Paulista).
À época, fazia sucesso com as mulheres, diz Rita. "Era
mais encorpado, com olhos azuis, chamava a atenção. Dizíamos que era o
Christopher Reeve [o ator de Super-Homem]", afirmou à reportagem.
Ela se surpreendeu ao ver a nova fisionomia de Euler e
"como está magro, devia estar passando por problemas, talvez de
depressão".
Rita disse que o único ponto fora da curva no comportamento
de Euler era que ele externava ódio pela Igreja Católica. Isso porque o pai,
cristão fervoroso, passava muito tempo na igreja, fazendo trabalho voluntário.
"Ele dizia que o pai ficava sendo enfiado dentro da
igreja 'ajudando pobre', que 'dentro de casa não varre um chão'".
Embora demonstrasse ódio pela religião, Rita diz que nunca
achou que Euler "fosse atingir essa dimensão, não sei o que aconteceu
nesse meio tempo" –a última vez em que o viu foi em 2004.
Euler, segundo ela, era de opiniões fortes e seguia à risca
valores conservadores. À exemplo da contrariedade do uso de drogas –chegava a cortar
relações com quem mantivesse o hábito. Segundo Rita, o ex-namorado já chegou a
manifestar posições racistas. "Ele dizia 'odeio aquela negra que gosta de
mim', em relação a uma menina, morena, de cabelos cacheados", afirma – com
informações da Folhapress.
Carlos Magno