As revelações do jornal The Intercept Brasil começam a
mostrar ao ministro da Justiça, Sergio Moro, o que significou tirar o manto de
magistrado e vestir a fantasia de político. Pesquisa exclusiva da empresa Atlas
Político mostra que o ex-juiz da Operação Lava Jato perdeu parte do seu capital
popular após as reportagens que apontam sua ligação estreita com o procurador
Deltan Dallagnol no processo que condenou mais de 1000 pessoas, entre eles o
ex-presidente Lula que cumpre pena há um ano em Curitiba.
Em pesquisa da Atlas realizada em maio, Moro tinha uma
imagem positiva para 60% dos entrevistados. Na pesquisa realizada entre os dias
10 e 12 de junho, o ministro havia perdido quase dez pontos percentuais –
manteve o mesmo prestígio entre 50,4% dos entrevistados –, mas recebeu avaliação negativa de 38,6%,
contra 31,8% no levantamento do mês passado. Apesar do desgaste, Moro ainda é o
político mais popular do Brasil, e tem o respeito da maioria dos brasileiros.
O levantamento, feito online com 2.000 pessoas, mostra que
73,4% dos entrevistados tomaram conhecimento das conversas entre Moro e
Dallagnol, divulgadas no último domingo, dia 9, pelo jornal The Intercept
Brasil. Desses, 58% reconhecem que a prática de um juiz aconselhar e manter
conversas privadas com membros da acusação ou defesa de um réu, sem o
conhecimento da parte adversa, é incorreta. Somente 23,4% consideram esse
comportamento correto. Outros 18,6% não opinaram.
Os diálogos divulgados até aqui pelo jornal, e que não foram
desmentidos pelo atual ministro, mostram que Moro mantinha intensas conversas
privadas com o coordenador da Lava Jato pelo aplicativo Telegram com
orientações, broncas, elogios e até dicas de fontes que a força tarefa deveria
ouvir nas investigações que os procuradores conduziram para condenar o
ex-presidente Lula. Esse comportamento fere princípios constitucionais e do
Código Penal Brasileiro. Vai contra, ainda, uma posição que o próprio Moro
sempre adotou.
“Eu não tenho estratégia de investigação nenhuma. Quem
investiga e quem decide o que vai fazer é o Ministério Público e a Polícia
[Federal]. O juiz é reativo, o juiz normalmente deve cultivar virtudes
passiva... e até me irrita ver críticas infundadas dizendo que eu sou um juiz
investigador”, disse ele em palestra na Associação Nacional dos Auditores
Fiscais em Curitiba, há três anos.
Mesmo com um avalanche de notícias que colocam em dúvida sua
atuação, a pesquisa da Atlas Político mostra que as opiniões se dividem quase
igualmente sobre eventuais abusos de Moro na época da Lava Jato quando entra o
nome do ex-presidente Lula. Para 41,9% dos internautas ouvidos, o ex-juiz
cometeu abusos na condução do processo do ex-presidente. Mas para 40,8%, não.
Outros 17,2% deixaram de responder a essa pergunta.
Seja como for, a pesquisa mostra uma certa metamorfose na
opinião pública brasileira sobre a imagem da prisão do ex-presidente petista.
Ainda que uma maioria dos brasileiros se mostre a favor da prisão de Lula
(49,4%) neste mês de junho, a Atlas mostra que essa certeza já foi maior. Em
abril, a empresa fez a mesma pergunta em pesquisas para medir o impacto da
entrevista concedida pelo ex-presidente Lula ao EL PAÍS e ao jornal Folha de
São Paulo depois de um ano preso em Curitiba. Na ocasião, 57,9% dos internautas
ouvidos se diziam favoráveis à pena de prisão de Lula, e 33,10% contra. Neste
mês os contrários à pena do ex-presidente subiu para 38,4%. Outros 12,3%
preferiram não responder a essa questão no levantamento deste mês (em abril 9%
não haviam se posicionado).
A mudança de posição sobre Lula não pode ser atribuída à
publicação das reportagens do The Intercept. Desde abril o ex-presidente vem
concedendo entrevistas que, se não ganharam maiores destaques na televisão,
foram amplamente divulgadas nas redes sociais.
Governo Bolsonaro
A avaliação sobre o Governo do presidente Jair Bolsonaro se
mantém praticamente no mesmo patamar do mês passado, com 37,4% das opiniões
entre ruim e péssimo (em maio era 36,2%) e 30,4% entre bom e ótimo (era 28,6%
no mês passado). Outros 29,8% consideram sua gestão regular e 2,4% preferiram
não opinar. Apesar do retrato do momento, o presidente Bolsonaro ainda tem uma
imagem positiva para 50,3% dos entrevistados, um resultado que o coloca
praticamente em empate com seu ministro da Justiça.
Hábil no marketing pessoal, Bolsonaro decidiu testar sua
popularidade e a de Sergio Moro num ambiente bem propício: uma partida de
futebol no estádio Mané Garrincha. Com Flamento e CSA pelo Campeonato
Brasileiro, o presidente apareceu na tribuna de honra ao lado de um engravatado
Moro. Bolsonaro chegou a erguer o braço do seu ministro. Este se mostrou
embaraçado, mas, pela imagem, disposto ao 'sacrifício' de encarar a opinião
popular. Ambos vestiram a camiseta do Flamengo e receberam aplausos. Quiçá não
em massa como nas manifestações de rua dos eleitores do Governo Bolsonaro, mas
sem dúvida uma cena simpática para um momento delicado.
Bolsonaro, até o momento, não falou abertamente sobre o
episódio que envolve Moro. Preferiu seguir a tática dos gestos solidários, como
na entrega da medalha da Ordem Naval nesta terça, em que vários ministros foram
agraciados, mas só Moro ficou ao seu lado o tempo todo. Na noite de quarta, um
vídeo de ambos no estádio foi partilhado no twitter do presidente – El País.
Carlos Magno
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