O Vaticano emitiu, nesta segunda-feira (17), um documento
que recomenda à Igreja Católica que considere ordenar homens mais velhos,
casados e que tenham famílias constituídas, como padres em regiões remotas da
Amazônia. A medida se aplicaria àqueles que tiverem, de preferência,
ascendência indígena.
O documento também pede que seja identificado algum tipo de
ministério oficial que possa ser conferido às mulheres.
Segundo agências internacionais, o documento é a menção mais
direta em um documento do Vaticano à possibilidade de que homens casados possam
ser padres. Hoje, eles podem exercer a função de diáconos — o diaconato é um
dos ministérios da Igreja.
"Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja,
pede-se que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da
ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e
reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e
estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e
sustentem a vida cristã", diz o documento.
O Papa Francisco afirmou, em entrevista ao jornal alemão
"Die Zeit" há cerca de dois anos, que era preciso
"refletir" sobre a possibilidade de ordenar os chamados "Viri
probati", expressão em latim para "homens provados" que se refere
a homens maduros envolvidos na Igreja e casados.
"Também teríamos que definir que tarefas eles poderiam
desempenhar, por exemplo, em comunidades remotas", afirmou Francisco.
Soluções para a
Amazônia
O documento publicado nesta segunda-feira (17) é um
instrumento de trabalho para o Sínodo dos Bispos, marcado para outubro, no
Vaticano. O encontro vai discutir a presença da Igreja Católica na região
amazônica.
A discussão sobre a possibilidade de homens casados serem
ordenados vem de necessidades ouvidas das próprias comunidades da Amazônia,
explica Dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima e segundo vice-presidente
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O principal, diz Dom Mário Antônio, é que pessoas de
comunidades distantes, principalmente indígenas, tenham acesso à eucaristia.
"Teremos a possibilidade maior de ministros ordenados
nas próprias comunidades, e, assim, maior frequência das celebrações eucarísticas",
explica o bispo. Apesar de homens casados poderem se tornar diáconos, a função
não permite que ele ouça confissões, ministre a unção dos enfermos (também
conhecida extrema-unção) ou a eucaristia.
Ele afirma que há interesse por parte de lideranças
indígenas na ordenação."Há interesse e capacidade. Muitos homens podem ser
catequistas ou evangelizadores", diz.
Dom Mário Antônio ressalta, entretanto, que o objetivo não é
abrir a possibilidade de que padres já ordenados se casem, pois o próprio documento
ressalta que "o celibato é uma dádiva para a Igreja."
Olhem para as
mulheres, diz organização que defende a ordenação feminina
A esperança, diz Kate McElwee, da organização Women's
Ordination Worldwide, que defende a ordenação feminina na Igreja Católica, é
que a discussão que ocorrerá em outubro aprofunde o reconhecimento da presença
da mulher na instituição.
"As mulheres estão ministrando às suas comunidades
pelas margens", diz McElwee. "Em nossa crise atual, a Igreja seria
sábia em olhar para o chão, olhar para as mulheres. Esperamos que este
compromisso de incluir as mulheres nos papéis de decisão se estenda ao próprio
Sínodo, permitindo que as mulheres tenham o direito de votar em documentos ao
lado de seus pares masculinos", declarou ao G1.
O Sínodo
O Sínodo é uma assembleia de bispos que representam o
conjunto de todos os bispos da Igreja Católica e tem a missão de ajudar o Papa
no governo da entidade. Ele também pode oferecer orientações sobre a doutrina
católica que podem ser transformadas em lei pelo pontífice; foi estabelecido em
1965 pelo Papa Paulo VI.
No final do mês passado, o Papa Francisco nomeou, pela
primeira vez na história, mulheres para ocuparem cargos na secretaria-geral do
Sínodo.
Dom Mário Antônio explica que a discussão sobre o ordenamento
de mulheres não está na pauta do encontro, mas existe a possibilidade de que a
participação delas seja discutida, sem necessariamente discutir a ordenação.
Em 2016, Francisco também declarou, a bordo do avião papal,
que a proibição de mulheres se tornarem padres na Igreja Católica é para sempre
e não deve ser alterada – G1.
Carlos Magno
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