A relação próxima desenvolvida pelo juiz Sergio Moro e pelo
procurador Deltan Dallagnol durante as investigações da Operação Lava-Jato
abriu espaço para um companheirismo digno de colegas de trabalho.
O diálogo inédito faz parte do material analisado por VEJA
em parceria com o site The Intercept Brasil. Só uma pequena parte havia sido
divulgada até agora — e ela foi suficiente para causar uma enorme polêmica. A
reportagem realizou o mais completo mergulho já feito nesse conteúdo. Foram
analisadas pela 649.551 mensagens. Palavra por palavra, as comunicações
examinadas pela equipe são verdadeiras e a apuração mostra que o caso é ainda
mais grave.
Moro cometeu, sim, irregularidades. Fora dos autos (e dentro
do Telegram), o atual ministro pediu à acusação que incluísse provas nos
processos que chegariam depois às suas mãos, mandou acelerar ou retardar
operações e fez pressão para que determinadas delações não andassem. Além
disso, revelam os diálogos, comportou-se como chefe do Ministério Público
Federal, posição incompatível com a neutralidade exigida de um magistrado. Na
privacidade dos chats, Moro revisou peças dos procuradores e até dava broncas
neles.
São vários os exemplos. Em 14 de dezembro de 2016, Dallagnol
escreve ao parceiro para contar que a denúncia de Lula seria protocolada em
breve, enquanto a de Sérgio Cabral já seria registrada no dia seguinte (o que
de fato ocorreu). Moro responde com um emoticon de felicidade , ao lado da
frase: “um bom dia afinal”.
Nota da redação: procurados por VEJA, Deltan Dallagnol e
Sergio Moro não quiseram receber a reportagem. Ambos gostariam que os arquivos
fossem enviados a eles de forma virtual, mas, alegando compromissos de agenda,
recusaram-se a recebê-los pessoalmente, uma condição estabelecida por VEJA.
Mesmo sem saber o conteúdo das mensagens, a assessoria do Ministério da Justiça
enviou a seguinte nota: “A revista Veja se recusou a enviar previamente as
informações publicadas na reportagem, não sendo possível manifestação a
respeito do assunto tratado. Mesmo assim, cabe ressaltar que o ministro da
Justiça e Segurança Pública não reconhece a autenticidade de supostas mensagens
obtidas por meios criminosos, que podem ter sido adulteradas total ou
parcialmente e que configuram violação da privacidade de agentes da lei com o objetivo
de anular condenações criminais e impedir novas investigações. Reitera-se que
o ministro sempre pautou sua atuação pela legalidade” – Veja.
Carlos Magno
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