Quem adentra hoje à Catedral de Campina, percebe logo uma
bela tela da Sagrada Família em destaque do seu lado direito. Pois bem! Esse
lugar guarda a história de muitas pessoas e famílias da cidade que tiveram os
seus casamentos abençoados nesse espaço sagrado.
Os altares da Igreja Matriz foram inicialmente zelados pelas
beatas da Casa de Caridade, fundada em Campina Grande pelo Padre Mestre
Ibiapina, nos idos de 1868. Havia atrás da Igreja Matriz, um jardim cultivado
pelo Monsenhor Sales, de onde as mesmas beatas recolhiam as flores necessárias
à ornamentação semanal do templo. Mais tarde, com o desaparecimento destas,
foram as famílias da cidade e as zeladoras do Apostolado da Oração, que aos
sábados assumiram este ofício.
De acordo com Esmeraldina Agra , em seu memorial, o Altar da
Sagrada Família, era composto de duas partes: a parte superior, onde estava
entronizada a tela da Sagrada Família e na parte inferior, havia um nicho onde
se colocava a imagem de Nossa Senhora da Boa Morte.
Preparando a celebração dos 250 anos da Igreja Matriz,
escutamos a Sra. Eurides Gomes Borborema, do alto dos seus 107 anos de idade.
Com a sua máquina de costura confeccionou, inclusive, os vestidos das noivas
que suntuosamente entravam na bela Matriz de Nossa Senhora da Conceição para
diante do Altar da Sagrada Família receberem as bênçãos nupciais.
Eurides, proveniente do município de Cabaceiras em 1922,
esclareceu-nos com palavras arrancadas do fundo da alma, a compreender o valor
sagrado do patrimônio religioso da Catedral.
“Eu era uma filha de Maria. Casei no altar da Sagrada
Família. Parece que foi com Emanuel.” (Entrevista concedida em 23/04/2019)
Recordar um lugar como expressão da própria vida e do
relacionamento mais profundo é o que captamos do seu testemunho. Embora, os
silêncios da memória ponham em suspensão a própria identidade do cônjuge,
instalou-se definitivamente em seu registro, o Altar da Sagrada Família como
selo da sua aliança matrimonial.
Na Semana Nacional da Família celebrada pela Igreja
católica, de 11 a 17 de agosto, fará bem retomar o significado do templo e dos
símbolos que marcam a decisão das pessoas. Quando diminuem os enunciados ou a
conexão dos fatos– em razão do tempo –, permanece a força das imagens que deram
forma e sentido para a existência sobre a terra.
Sem lugares e sem sinais evidentes, onde e em que se
apoiarão as nossas humanas palavras? Num mundo povoado de larga comunicação e
de um paralelo esquecimento como se caracteriza nossa época, redescobrir o
valor dos lugares sagrados poderá salvar a nossa memória afetiva e as coisas
mais importantes.
Padre Luciano Guedes é Pároco da
Catedral de Nossa Senhora da Conceição e Vigário Geral da Diocese de Campina
Grande
Coluna publicada originalmente no site
Paraibaonline.
Carlos Magno
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