Até meados do século XIX em toda a Província da Paraíba os
mortos eram enterrados nas Igrejas. Não havia cemitérios públicos. O primeiro
campo santo que existiu foi construído em Piancó, no começo de 1855.
A febre amarela desde 1850 desolava a Paraíba. Os surtos e
as epidemias constantes pelas vilas do interior impuseram grave
responsabilidade aos poderes constituídos.
Em 1856 irrompeu em Campina Grande o colera morbus, levando à óbito
1.547 pessoas da Vila. Uma vez que não
havia espaço no recinto das igrejas e das povoações próximas, improvisaram
cemitérios cercados de madeira em diversos sítios da redondeza.
Nesta ocasião, por iniciativa do Cônego Luís Aves Pequeno,
vigário da Matriz, teve início o Cemitério das Boninas, posteriormente chamado
de Cemitério Velho, em contraposição ao novo Campo de Nossa Senhora do Carmo,
localizado no Monte Santo. Este
cemitério ficava na atual Rua Félix Araújo. De tamanho reduzido, continha trinta
metros de frente por outros tantos de fundo, possuindo dezenas de túmulos. Foi
demolido em 1931.
Foi neste contexto vivido aqui que a imagem de São Sebastião
foi doada à Igreja Matriz como promessa cumprida pelo livramento de tamanha
desgraça. Como se sabe, o mártir do cristianismo antigo que fora soldado romano
foi associado, na devoção popular, ao santo recorrido para aplacar as
intempéries da fome, da peste e da guerra.
A imagem de São Sebastião foi trazida para a Matriz em 1856
– precisamente no ano da calamidade pública – por doação dos fiéis. Segundo Esmeraldina Agra, “a imagem veio em
procissão da Fazenda Tanques até a cidade, acompanhada a pé”. Muitos doentes
foram salvos pela intercessão do santo protetor e com o auxílio do “purgante”
homeopático do Dr. Sabino.
De todas estas experiências convém destacar a audácia deste
quase desconhecido vigário chamado Cônego Luís Alves Pequeno, que num curto
tempo exerceu o sacerdócio em Campina Grande.
Viveu aqui apenas quatro anos e posteriormente renunciou a paróquia,
indo residir em Pocinhos. Foi eleito Deputado Provincial para o exercício de
1864-1865, e mais tarde naquela mesma localidade (à época distrito), santamente
faleceu.
Em tempos difíceis a coragem deste cônego fez acudir os
habitantes da Vila, defendendo-lhes a dignidade do corpo humano. Na velha
necrópole quadrilátera das Boninas ele foi arauto da sacralidade da vida. Na Igreja Matriz, devotando louvores a São
Sebastião acendeu uma chama de esperança e de gratidão no coração dos fiéis.
Assim o destemido vigário pastoreou os nossos pais nesta
Serra da Borborema. Nos 250 anos da
Matriz trazer presente esta memória é significativo para fazer lembrar o que
corriqueiramente esquecemos. O cuidado com os mortos é o cuidado com os vivos,
ontem e hoje, pois a sensibilidade e a atitude valem para as duas faces do
mesmo mistério que abarcam a condição humana sobre a terra, condição esta para
os cristãos sempre aberta ao Cristo Jesus, Senhor do tempo e da eternidade.
Pe. Luciano Guedes do Nascimento Silva
Vigário Geral e Pároco da Catedral
Carlos Magno
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