“A minha amiga!” O grito assustou os alunos no primeiro dia
de aula da turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que funciona na Escola
Estadual João Pires de Camargo, em Araraquara (SP). Era Sílvia Aparecida de
Oliveira espantada em ver entrando na sala sua amiga de infância Iraci Hermínio
Alves. As duas fizeram escola rural juntas e há 41 anos perderam contato quando
deixaram de estudar.
“Já estava todo mundo sentado e eu cheguei atrasada e
direcionei o olhar para o fundo da sala pensando onde eu ia sentar, aí escutei
o grito e gritei de volta: Nossa!”, contou Iraci.
As duas se conheceram muito novas no assentamento rural Bela
Vista, onde moraram na infância. Nas décadas de 1960 e 1970 frequentaram a
mesma escola, mas pararam os estudos por pressão da família.
Agora, aos 55 anos de idade e com os filhos criados,
retomaram – ao mesmo tempo – o sonho de concluir os estudos e foram
surpreendidas ao se reencontrarem na sala de aula.
“Eu lembro que a mãe dela era merendeira da escola e fazia
uma comida muito gostosa. E a mãe dela morava próximo à escola e, às vezes, nós
íamos à casa dela “, contou Iraci. “Nossa, eu lembro de um bolo que sua mãe
fazia (diz olhando para Silvia), muito bom. Eu ia na casa dela interessada na
mãe dela e isso aí contribuiu para nossa amizade (risos).”
Com a amizade renovada, as duas devem concluir juntas o
ensino médio mais de 40 anos depois de terem deixado a sala de aula e a vida
uma da outra.
Vidas separadas, mas
iguais
A separação aconteceu em 1978, quando as meninas tinham 14
anos. Mesmo longe uma da outra, as duas seguiram trajetórias muito parecidas.
Deixaram a escola depois de completarem o ensino fundamental para se casarem e
foram absorvidas pela vida familiar até que, com a saída dos filhos de casa,
retomaram o sonho de concluir os estudos.
“Como se diz, primeiro eu era do pai e depois eu fui do
marido. O pai sempre achando que não precisava estudar, mas sempre gostei e sou
frustrada por não ter seguido. Eu acho que iria pela área da educação ou da
saúde que eu gosto muito", afirma Iraci.
Já Silvia contou que sempre gostou de ler e estudar, mas
deixou a escola quando se casou.
“Sempre dizia que um dia ia voltar, queria voltar. E ver a
minha amiga voltando também foi muito bom, foi incrível, foi uma coisa muito
legal. Muitos anos sem ir à escola e aí você volta e tem uma pessoa assim, que
conviveu, que gosta bastante.”
Reencontro de almas
Os mais de 40 anos que Silvia e Iraci ficaram afastadas
parece que não existiram. O reencontro aconteceu no primeiro dia de aula do
EJA, em 31 de julho, e pouco depois, as duas já trocaram confidências e
marcaram de fazer os trabalhos escolares juntas.
"Você ficou 40 anos sem ver, mas aí tem uma coisa na
sua vida que você conta para ela. Você convive com as pessoas, mas não consegue
contar, mas para ela eu consigo. É uma coisa legal", diz Silvia.
“Eu acho que é uma amizade sincera, é uma sintonia que
ficou, que a gente se gostava mesmo, desde aquele tempo, é uma coisa sincera
mesmo, é de alma”, diz Iraci.
“É de alma, falou tudo”, confirma Silvia – G1.
Carlos Magno
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