O presidente Jair Bolsonaro (PSL) se disse nesta
quarta-feira (30) surpreso que um delegado de polícia do Rio de Janeiro tenha
ignorado os registros e áudios da portaria de seu condomínio e inventado o
depoimento do porteiro que citou seu nome nas investigações sobre a morte da
vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.
Para o presidente, essa "invenção" ocorreu
"por ordem e determinação do senhor governador Witzel", para tentar
prejudicá-lo.
"Tem o registro, sim, para casa outra. Agora, nos
surpreende a qualquer um a Polícia Civil, o delegado que tá fazendo o
inquérito, ignorar isso e inventar um depoimento, no meu entender por ordem e
determinação do senhor governador Witzel para tentar me prejudicar",
respondeu Bolsonaro.
"Não tem nada na sua casa, então, presidente?",
questiona um jornalista.
"Não tem. Já determinei... meu filho foi na portaria,
pegou os registros de voz inclusive para aquele horário onde foi feita a
ligação. Não foi para a casa minha, e a voz que se apresenta lá está muito
longe de ser a minha", disse Bolsonaro.
O presidente fazia referência a imagem e áudio divulgados na
manhã desta quarta pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), filho do
presidente, no Twitter. A postagem foi compartilhada, sem seguida, pela conta do
presidente.
Segundo Carlos, os registros são do sistema que grava as
ligações feitas da portaria para as casas do condomínio.
O filho do presidente fez isso para contestar as informações
fornecidas à policia pelo porteiro e o registro manual de entrada no
condomínio, já analisado pela investigadores. A TV Globo teve acesso, com
exclusividade, a registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, onde
mora o principal suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista
Anderson Gomes, Ronnie Lessa – é o mesmo condomínio onde o presidente Jair
Bolsonaro tem casa.
O porteiro contou à polícia que, horas antes do assassinato,
em 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no
condomínio e disse que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro. E que
alguém na casa dele, a de número 58, liberou a entrada.
Os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que
Bolsonaro estava em Brasília no dia. Como o nome do presidente foi citado, a
lei obriga que o Supremo Tribunal Federal (STF) analise o caso.
No áudio mostrado pelo vereador nesta quarta, uma voz
anuncia a chegada de Élcio para a casa 65, onde morava o outro acusado, Ronnie
Lessa. O vereador conclui dizendo que há algo de errado nas informações
passadas para a Rede Globo.
Fontes ouvidas pela TV Globo dizem que há divergências entre
as entradas registradas no documento em papel com as exibidas no vídeo. São,
por exemplo, entradas que aparecem em um registro e não aparecem em outro.
As gravações de áudio estão em poder da polícia, mas não
foram periciadas porque os investigadores decidiram esperar por uma
manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF) em função da citação ao
presidente da República, Jair Bolsonaro.
Primeiras acusações
contra Witzel
Ainda na noite de terça-feira (29), horas após a revelação
feita pelo JN, Bolsonaro culpou Witzel por repassar as informações à imprensa,
o que o governador nega. Nesta quarta, mais cedo, Bolsonaro disse que Witzel
contou a ele no dia 9 de outubro sobre a citação do seu nome no caso Marielle.
"Deixar bem claro também: dia 9 de outubro, às 21h, eu
estava no Clube Naval no Rio de Janeiro. Chegou o governador Witzel e chegou
perto de mim e falou o seguinte: 'o processo está no Supremo'. Eu falei: 'que
processo?' 'O processo da Marielle.' 'Que que eu tenho a ver com a Marielle?'
'O porteiro citou teu nome.' Quer dizer: Witzel sabia do processo que estava em
segredo de Justiça. Comentou comigo", afirmou o presidente.
"No meu entendimento, o senhor Witzel estava conduzindo
o processo com o delegado da Polícia Civil pra tentar me incriminar ou pelo
menos manchar o meu nome com essa falsa acusação, que eu poderia estar
envolvido na morte da senhora Marielle", afirmou Bolsonaro.
Após as declarações do presidente, o governador disse que
não manipula o Ministério Público ou a Polícia Civil, e chamou as acusações
contra ele de "levianas".
"A Polícia Civil, no meu governo, tem independência, o
MP tem e sempre terá independência e, infelizmente, eu recebi com muita
tristeza essas levianas acusações." Witzel também negou ter vazado
qualquer informação sobre o processo.
Mais tarde, Witzel disse por meio de sua conta no Twitter
esperar que Bolsonaro peça desculpas ao povo do Rio de Janeiro.
Investigação sobre os
investigadores
Mais cedo, Bolsonaro disse que ia falar com o ministro da
Justiça, Sergio Moro, sobre a possibilidade de colher um novo depoimento do
porteiro – desta vez, pela Polícia Federal. Horas depois, o presidente voltou a
ser questionado sobre isso e afirmou:
"O Moro o, a AGU [Advocacia-Geral da União] defende o
governo nesses momentos, e obviamente a defesa não é do ministério ele
[inaudível]... Com toda certeza, tomará a medida cabível que é pedir uma
investigação dos que investigavam o caso Marielle através do Ministério
Público."
Elcio Queiroz
Jornalistas questionaram Bolsonaro se ele conhecia o
ex-policial militar Elcio Queiroz, suspeito de envolvimento na morte de
Marielle.
"Não vi, olha eu tiro foto com centenas, milhares de
policiais no Rio de Janeiro, de décadas... Por ocasião da campanha, tinha dia
que eu tirava mais de 500 fotografias. Pode ser que tenha foto com ele, mas
dentro do condomínio nunca frequentei, não é a casa dele, a casa de
ninguém", disse Bolsonaro.
Elcio foi preso junto com Ronnie Lessa em março deste ano.
Segundo as investigações da Polícia Civil do Rio, Ronnie é o autor dos 13
disparos que mataram Marielle e Anderson; ele estava no banco de trás do Cobalt
que perseguiu o carro da vereadora. Elcio é apontado como o motorista do Cobalt
na noite do crime – G1.
Carlos Magno
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