Dez dias antes de morrer após ser ferida no peito com um
tiro, a empresária cearense Jamile de Oliveira Correia assinou uma procuração
em que dava direitos ao namorado, o advogado Aldemir Pessoa Júnior, para
representá-la na Justiça no processo do inventário do ex-marido, morto em
acidente de trânsito em 2017.
A morte da empresária era tratada como suicídio mas a
polícia passou a cogitar a possibilidade de feminicídio cujo suspeito é Aldemir
Pessoa. A mudança na investigação ocorreu após a descoberta de vídeos que
mostram o namorado carregando Jamile ferida no elevador do prédio onde moravam
e, em outra ocasião, agredindo-a dentro do carro. A defesa do advogado mantém a
tese de que a empresária tirou a própria vida e afirma que o cliente tentou
evitar o tiro disparado por ela, mas não conseguiu.
Aldemir Júnior representava a namorada no processo do
inventário do ex-marido de Jamile, José Aluísio Correia Neto, que morreu aos 54
anos em um acidente na Avenida Engenheiro Santana Júnior, em Fortaleza, no dia
3 de agosto de 2017.
O G1 teve acesso à procuração. A mulher concedeu poderes ao
namorado para representá-la em qualquer tribunal, 'podendo, inclusive, requerer
o que se fizer preciso, propondo as ações necessárias, contestar, replicar,
interpor recursos, assinar termos, fazer acordo, desistir, retificar,
ratificar, dar quitação e passar recibo'.
Ex-marido deixou
patrimônio
Uma familiar de Jamile já havia revelado, sob a condição de
não ser identificada, que Aldemir vinha ameaçando a empresária e já havia
formulado um documento para que a vítima assinasse, autorizando repassar a ele
todos os seus bens.
"Tudo isso me abala muito. A única coisa que ele queria
dela era o patrimônio dela, quando o marido dela faleceu, ele deixou um
patrimônio alto. Na minha cabeça, ele arquitetou tudo. Fez confusão e matou
ela. Ele tinha uma folha onde dizia para ela passar todo o patrimônio dela para
ele. Ela disse que ele podia matar ela e ela não passava. Ela dizia para mim
que ele era um carrapato, que mandava ele sair do apartamento e ele não
saía", afirmou a entrevistada.
Aldemir Pessoa Júnior disse que ele e Jamile estavam
apaixonados e prestes a casar. "Patrimônio por patrimônio, eu tenho o meu.
Não se trata disto. Nós íamos casar agora dia 18, no dia do aniversário dela.
Foi um suicídio e, de qualquer forma, tenho minha consciência tranquila",
disse.
O casal namorava há cinco meses e morava junto no
apartamento de Jamile, em um condomínio de luxo no Bairro Meireles, em
Fortaleza. Foi lá que a mulher foi baleada, na noite de 29 de agosto.
Jamile foi levada pelo advogado e pelo filho de 14 anos ao
Instituto Doutor José Frota (IJF), no início da madrugada do dia 30. A família
de Jamile soube que ela estava no hospital apenas naquela noite. Na manhã do
dia 31, a empresária morreu com uma hemorragia.
O laudo cadavérico da Perícia Forense do Ceará (Pefoce)
sobre a morte de Jamile afirma que o tiro disparado contra a vítima "se
deu de cima para baixo". Segundo um dos médicos que atendeu a empresária,
a trajetória da bala levanta a hipótese de o tiro ter sido disparado por outra
pessoa.
Família sob ameaça
Familiares de Jamile alegam que estão recebendo ameaças nos
últimos dias, desde que o caso passou a ser noticiado. "São ligações
estranhas. Eles dizem: 'A família da Jamile vai pagar por isso'. A gente está
abrindo o 'bocão', dizendo tudo que sabe. O que queremos é justiça",
contou uma parente da empresária.
Outra familiar de Jamile destacou que uma das amigas tem
sofrido intimidações diariamente e acredita saber quem faz as ameaças.
"Não foi ele (Aldemir) diretamente quem ameaçou, foi um amigo dele que
sempre está no nosso meio, se passando de amigo do marido falecido da
Jamile", afirmou.
Agressões constantes
Em depoimento, o filho de Jamile de Oliveira afirmou que as
agressões do advogado contra a mulher eram comuns. O adolescente estava na
residência no momento do disparo, mas se escondeu no closet ao ouvir barulhos
durante a discussão do casal. Ele não soube precisar quem segurava a arma e
quem foi responsável pelo tiro – G1.
Carlos Magno
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