O nome dele era Giuseppe Berardelli, de Bergamo, norte da
Itália, onde a doença está ceifando vidas de maneira trágica (6.077 em todo o
país, no momento em que esta matéria foi produzida). Don Giuseppe morreu após
testar positivo para o coronavírus, mas não exatamente por isso. Ele resolveu
se sacrificar por outra pessoa, segundo a mídia local.
Aos 72 anos, o religioso abriu mão do respirador de que
precisava e que sua comunidade havia comprado apenas para ele. Deu o aparelho
para um desconhecido usar, mais jovem que ele.
“Don Giuseppe morreu como padre. E estou profundamente
comovido com o fato de que ele ajudou alguém mais novo”, disse um trabalhador
de saúde da casa de repouso de San Giuseppe. Don Giuseppe Berardelli morreu no
hospital de Lovere.
A morte do Padre Giuseppe foi relatada nas redes sociais pelo
Padre Marcondes, da Diocese de Campina Grande, atualmente residindo, estudando e
exercendo o seu sacerdócio no norte da Itália.
28 sacerdotes
católicos já morreram na Itália
Dioceses da Itália confirmaram na sexta-feira, 20, a morte
de 28 sacerdotes católicos diagnosticados com a Covid-19, doença provocada novo
coronavírus. Outros dois casos não chegaram a ser testados para doença. A
maioria atuava na região norte do país, a primeira a ser castigada pela
epidemia e a que concentra o maior número de testes positivos e de óbitos.
A Itália apresenta a situação mais crítica do mundo. O total
de mortes no país ultrapassou os da China na quinta-feira 19 e, quando alcançou
3.405. Há mais de 41.000 casos confirmados de contaminação.
Em Bérgamo, no norte, 10 padres morreram e 15 padres foram
hospitalizados, segundo a diocese local. O papa Francisco telefonou ao
arcebispo Francesco Beschi na quarta-feira 18 para dar seu “apoio aos padres,
aos enfermos, aos que cuidam dos pacientes e a toda nossa comunidade”. “Ele estava muito impressionado com o
sofrimento que padecem, pela morte solitária, sem a companhia das famílias, tão
dolorosa”, acrescentou Beschi em um comunicado.
Assim como acontece com a maioria das vítimas fatais do
coronavírus na Itália, os sacerdotes morrem sem acesso aos rituais religiosos
que lhes são caros. Ao lado de médicos e enfermeiras, os padres têm prestado
auxílio espiritual aos enfermos, uma missão necessária nessa região da Itália
particularmente religiosa. Apesar dos riscos, o pontífice considera que “as
medidas draconianas nem sempre são boas” e pediu aos bispos e padres que não
deixem os fiéis sozinhos ante o coronavírus.
“Equipados com máscara, gorro, luvas, blusa e óculos, os
padres caminham pelos corredores como zumbis”, conta Claudio del Monte, padre
de uma paróquia de Bérgamo, à agência italiana Adnkronos.
A rádio da Conferência Episcopal Italiana (CEI), InBlu,
explicou que devido às medidas para evitar a propagação do coronavírus, os
padres devem evitar a extrema-unção, o ritual de preparação para a morte, no
qual o enfermo terminal é ungido com o óleo bento.
“Um padre que perdeu o pai me ligou. Ele está em quarentena,
a mãe está em quarentena sozinha em outra casa, seus irmãos estão em quarentena
e os funerais estão proibidos. Será enterrado no cemitério sem que ninguém
possa participar de um momento de piedade humana e cristã”, contou o arcebispo
Beschi. O religioso considera o número de padres mortos em sua diocese
“realmente alto”, assim como o daqueles que estão em “condição particularmente
grave”.
“É doloroso ver os padres ficando doentes, às vezes por
dever pastoral, e passando pela porta da triagem (dos pacientes) onde,
naturalmente, ninguém pode entrar. Depois, alternando esperanças e recaídas,
nos deixam para sempre”, afirmou o bispo de Parma, Enrico Solmi, ao jornal
Avvenire.
O governo italiano proibiu a celebração de missas,
casamentos e funerais. Centenas de falecidos, inclusive sacerdotes, tem sido
conduzidos por militares do Exército, em caminhões, para cemitérios e
crematórios no norte do país. Em Milão, os necrotérios não têm espaço para
acomodar os caixões e os enviam diretamente para o cemitério.
“Não sabemos mais onde colocar os mortos. Utilizamos algumas
igrejas. Tudo isso diz respeito aos sentimentos mais profundos” afirmou o
arcebispo Beschi, entrevistado pelo Vatican News – com informações de Veja, DCM
e AFP.
Carlos Magno
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