A Polícia Federal afirmou ao Supremo Tribunal Federal que
pretende tomar o depoimento do presidente Jair Bolsonaro no inquérito sobre
supostas interferências na corporação. A informação consta no despacho da
delegada Christiane Correa Machado, chefe do Serviço de Inquéritos Especiais no
STF, em que pede mais trinta dias para a realização de novas diligências e
conclusão das investigações.
O ministro Celso de Mello encaminhou o pedido para
manifestação do Procurador-Geral da República, Augusto Aras.
Como presidente, Bolsonaro pode optar pelo depoimento por
escrito, como foi autorizado a Michel Temer em 2017 no inquérito sobre a
gravação de Joesley Batista. Neste cenário, as perguntas são formuladas pela
Polícia Federal e enviadas ao presidente. No caso do emedebista, ministro Edson
Fachin, relator do caso, deu prazo de 24 horas para resposta.
O presidente Jair Bolsonaro participa de videoconferência da
posse de Carlos Alberto Vilhena para o cargo de Procurador Federal dos Direitos
do Cidadão. Foto: Marcos Corrêa/PR
O inquérito apura as declarações do ex-ministro Sérgio Moro
sobre 'interferências políticas' do presidente no comando da PF. O ex-juiz foi
o primeiro a prestar depoimento no caso, na qual revelou as declarações de
Bolsonaro na reunião ministerial do dia 22 de abril. A gravação se tornou
peça-chave do caso e foi divulgada na semana passada por ordem do ministro
Celso de Mello.
Entre palavrões e ameaças, as imagens mostram o presidente
afirmando que não vai esperar alguém 'foder a minha família toda' e que já
havia tentado 'trocar gente da segurança no Rio'. A versão do Planalto é que
Bolsonaro se referia a sua segurança pessoal enquanto Moro alega que se tratava
da Superintendência da PF fluminense, foco de interesse do governo.
"Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo
com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de
Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder
a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu (sic), porque eu não posso
trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa.
Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe
dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira",
disse Bolsonaro.
Três ministros palacianos listados por Moro como testemunhas
foram ouvidos pela PF: Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e
Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). No caso de Heleno, a PF solicitou
provas do Gabinete de Segurança Institucional que provariam a versão do
presidente sobre 'insatisfação' com a sua segurança pessoal.
A PF quer que o ministro apresente todas as eventuais trocas
de comando na chefia do Escritório Regional do GSI no Rio de Janeiro entre 2019
e 2020, o detalhamento de eventuais óbices ou embaraços a nomes escolhidos para
a segurança pessoal de Bolsonaro e seus familiares no período e informações sobre
eventual extensão desde o ano passado da segurança pessoal do presidente –
Estadão.
Carlos Magno
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