Pesquisadores da China e da Califórnia, nos Estados Unidos,
desenvolveram um novo exame de sangue capaz de detectar 5 tipos de câncer de
forma precoce, segundo pesquisa publicada nesta terça-feira (21).
O teste conseguiu detectar os cânceres colorretal, de
estômago, esôfago, pulmões e fígado até 4 anos antes que métodos convencionais.
Os resultados do estudo foram publicados na revista "Nature
Communications", do grupo "Nature", um dos mais importantes do
mundo.
Chamado de "PanSeer", o teste conseguiu detectar
câncer em 95% das pessoas que foram diagnosticadas com a doença de 1 a 4 anos
depois de fazer o exame, mas ainda não tinham sintomas na época da coleta. O índice de acerto foi de 91% no câncer de esôfago, e chegou
a 100% no câncer de fígado.
Além disso, o exame também encontrou a doença em 88% das
pessoas que já tinham um diagnóstico de câncer na época do teste. O
"PanSeer" foi capaz, ainda, de reconhecer amostras que não tinham a
doença em 95% dos casos.
Os cientistas alertaram, entretanto, que o teste não
funciona para prever quem terá ou não câncer. O exame provavelmente identifica
quem já têm algum tipo de tumor, mas continua assintomático para os métodos de
detecção atuais, e mais estudos são necessários para confirmar a capacidade do
teste de detectar a doença nesses casos.
Para o oncologista Fernando Maluf, da Beneficência
Portuguesa e do Hospital Albert Einstein, ambos em São Paulo, a descoberta, se
tiver a eficácia confirmada em outros testes, é bastante positiva.
"Quanto mais cedo diagnostica, melhor é o prognóstico.
O teste só tem vantagem se se confirmar", avalia. Esses cinco tumores são
muito graves, e só um deles tem rastreamento. Nos outros, o rastreamento nunca
foi tão interessante", explica.
O único exame de rastreamento disponível é a colonoscopia a
partir dos 45 anos, e, no caso dos superfumantes, a tomografia, explica Maluf.
Para os outros tipos de câncer, o que normalmente ocorre é que o paciente,
procurando outra doença, acaba achando o tumor.
"Se o teste se configurar útil, provavelmente vao
avaliar os mesmos mecanismos em outros tumores. Vai ser um dos maiores avanços
possíveis: conseguir detectar e diagnosticar um câncer de forma tão precoce que
a chance de cura é de quase 100%", avalia.
Detecção precoce tem
ressalvas
O primeiro autor do estudo, Kun Zhang, da Universidade da
Califórnia em San Diego, explicou que o "objetivo final seria realizar
exames de sangue como esse rotineiramente durante check-ups anuais, mas o foco
imediato é testar pessoas com maior risco, com base no histórico familiar,
idade ou outros fatores de risco conhecidos".
Mas o oncologista Artur Katz, do Hospital Sírio-Libanês, em
São Paulo, alerta que a detecção precoce só é válida se vier junto com um tratamento
que permita mudar o curso da doença.
"Esse tipo de informação passa a ter valor se você
conseguir demonstrar claramente que, ao se antecipar, consegue curar mais gente
ou aumentar o controle da doença. A simples detecção dessas células – se você não
consegue saber onde está e como tratar – pode tornar a vida da pessoa um
inferno", pondera Katz.
O oncologista explica que, do ponto de vista científico, os
resultados são "extremamente relevantes e bem-vindos", mas, para a
prática clínica, precisam ajudar a salvar vidas.
"Existem, obviamente, vantagens no diagnóstico precoce.
A questão é o quão mais precoce", lembra.
"Se o exame sugere que tem um tumor de mama, mas a
ressonância não vê, a tomografia não vê, qual é a conduta? Tirar as duas mamas?
Se eu descobrir a doença um ano depois, será que não conseguiríamos o mesmo
resultado com um procedimento cirúrgico menos agressivo?", ressalva Katz.
Amostras chinesas
As amostras dos pacientes haviam sido coletadas como parte
de um estudo maior, lançado pela Universidade Fudan, em Xangai, na China. A
pesquisa reuniu amostras de mais de 120 mil pessoas, coletadas ao longo de dez
anos, entre 2007 e 2017, e os pacientes passaram por exames regulares.
O teste foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade
Fudan, em Xangai, da Universidade da Califórnia em San Diego e da Singlera
Genomics, uma start-up em ambos os países que pertence a alguns dos cientistas
e agora quer comercializar os testes. A empresa já vinha trabalhando, ao longo
dos anos, em exames capazes de diagnosticar precocemente o câncer – G1.
Carlos Magno
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