A Secretaria de Justiça e Cidadania de São Paulo abriu um
processo administrativo para apurar o caso de discriminação racial contra um
motoboy de Valinhos (SP). O caso ganhou repercussão nacional após o vídeo
mostrar o morador de um condomínio de casas humilhando o entregador. O
processo, que ocorre independente de instância criminal, pode condenar o
agressor a uma multa de R$ 28 mil.
Titular da pasta, Paulo Dimas Mascaretti destaca que a
sanção administrativa em casos de discriminação é possível por conta de uma
legislação estadual.
"Nós consideramos que esse tipo de discriminação em
razão da cor, da raça, pode representar crime e também infração administrativa.
Isso por conta de uma lei estadual, que temos desde 2010, que permite esse tipo
de punição. Esse processo administrativo é instaurado e tem o seu desfecho
independentemente de uma eventual sanção criminal que ocorra no âmbito
judiciário", pontua.
Com a abertura do processo, Mateus Almeida Prado terá um
prazo para apresentar sua defesa e só após a comissão irá decidir se houve a
infração e qual sanção será aplicada. O G1 tentou contato com a defesa dele,
mas não obteve sucesso.
Sobre a investigação criminal, uma vez que o motoboy decidiu
representar por injúria racial contra Prado, a Polícia Civil informou que
aguarda os laudos de sanidade mensal do agressor para concluir o inquérito e
encaminhar à Justiça.
O caso
Um vídeo mostra o momento em que o homem ofende o motoboy
Matheus Pires Barbosa e diz que ele tem "inveja disso aqui",
apontando para a própria pele. O caso ocorreu em 31 de julho e as imagens
viralizaram no dia 7 de agosto.
Durante a discussão, o rapaz ainda ofendeu o entregador, o
chamando de "semianalfabeto"; repete que ele tem inveja da vida que
as pessoas que moram no condomínio dele têm; e diz que o profissional não tem
onde morar nem "nunca vai ter" nada do que ele estava mencionando. O
vídeo foi gravado por um vizinho.
"Eu falei pra ele que ele não podia fazer mais isso
porque ninguém gostava desse tipo de atitude. O que ele faz é pra se mostrar
superior as pessoas. Teve um momento que ele cuspiu em mim, jogou a nota no
chão e disse que eu era lixo. Na frente da polícia, ele continuou com as
agressões, me chamou de favelado", contou Matheus Pires Barbosa.
Na delegacia, o pai do agressor apresentou um atestado
médico de tratamento. O homem disse que "Mateus recebeu educação para
tratar com respeito o próximo, independente de classe social, credo ou raça.
Valores que lhe foram furtados pela esquizofrenia". A nota da família
ainda pede desculpas ao motoboy e todos os trabalhadores que se sentiram
atingidos com o episódio.
Protesto da categoria
O condomínio Vila Bela Vista, onde o fato ocorreu, colocou
uma faixa de repúdio contra o morador ao lado da portaria. No dia 8 de agosto,
motoboys da região de Campinas (SP) fizeram uma manifestação pacífica em frente
ao local, com um buzinaço. O condomínio fica no bairro Chácaras Silvania.
Barbosa agradeceu as manifestações a seu favor e reiterou o
desejo para que elas continuem pacíficas. Em entrevista ao Fantástico, o
motoboy detalhou a discussão e as ofensas sofridas pelo morador. O profissional
afirmou que, em outra oportunidade, o homem já havia sido grosseiro por ele não
ter achado o endereço da residência.
Por conta do episódio, o motoboy ficou conhecido na internet
e já está com 2 milhões de seguidores no Instagram. Ele conseguiu um novo
emprego e recebeu recursos de internautas após uma vaquinha na internet – G1.
Carlos Magno
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