Desde a metade de junho, o Brasil tem ocupado o segundo
lugar em número de mortes absolutas pela covid-19, atrás apenas dos Estados
Unidos. Nesta quarta-feira, 26, o País superou os norte-americanos em outro
recorte estatístico: o número de mortes causadas pelo novo coronavírus por 100
mil habitantes. De acordo com os números da Johns Hopkins University,
referência mundial no estudo da pandemia, o Brasil apresenta 55,05 mortes e os
Estados Unidos, 54,18. O Brasil ocupa o 10º lugar no ranking.
No estudo que aponta a relação dos óbitos e a população de
cada país, o ranking da universidade norte-americana aponta San Marino na
liderança com 124,32 mortes a cada 100 mil habitantes. Em seguida vem a Bélgica
(87,51), Peru (86,48), Andorra (68,83) e Reino Unido (62,44). Depois de superar
os Estados Unidos, o Brasil está próximo dos números da Suécia (57,08) e Itália
(58,65).
Embora a proximidade de posição entre Brasil e Estados
Unidos desperte comparações, o ranking completo da universidade
norte-americanas apresenta algumas distorções, na opinião dos especialistas.
Paulo Lotufo, epidemiologista da USP, vê os dados com cautela em função da
diferença de população entre os países. San Marino tem uma população de 33 mil
habitantes, por exemplo. Isso significa que o número de óbitos e de casos
promove distorções estatísticas em função do tamanho reduzido da amostra.
"Esses números são relativos. San Marino não tem relevância, não conta,
pois tem menos gente do que o bairro de Pinheiros", brinca o especialista.
Médico da Clínica de Epidemiologia do Hospital Universitário
da USP, Marcio Bittencourt afirma que os números são significativos, mas também
aponta ressalvas. “Os dados mostram que estamos progredindo mais rápido que os
Estados Unidos no momento, mesmo com o ajuste populacional”, opina. “Mas a
comparação é limitada quando feita durante a progressão do surto. O índice por
população somente é útil para a comparação de índices estáveis, como mortes por
doenças crônicas. No caso de doenças agudas, ele só permite uma comparação
adequada após o término da pandemia”, avalia.
Similaridades entre
os dois países
Eliseu Alves Waldman, professor da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo, vê similaridades do Brasil com os Estados
Unidos. "A comparação entre os dois países é válida, pois eles apresentam
áreas extensas e várias epidemias ocorrendo simultaneamente em seus
territórios. Mas o Brasil apresenta uma população vulnerável maior e grande
quantidade de pequenos municípios com capacidade restrita de enfrentar a
pandemia", opina. "O Brasil deve se distanciar estatisticamente por
causa desses fatores'.
O virologista Rômulo Neris, mestre em Microbiologia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conhece bem as duas realidades.
Ele atuou na Universidade da Califórnia como pesquisador visitante até o mês de
maio. Mas decidiu retornar ao Brasil para trabalhar na força-tarefa contra a
covid-19. “No início da pandemia, os dois países tinham déficit na capacidade
de exames, mas os EUA conseguiram aumentá-la. Eles adquiriram respiradores e
máscaras, em alguns casos de maneira até questionável. Mas se preocuparam em
acumular recursos para enfrentar a pandemia. O Brasil continua com déficit na
capacidade de exames”, opina.
Para os especialistas, o fato de os países viverem momentos
diferentes no enfrentamento da pandemia também deve ser considerado quando o
assunto é o ranking mundial. Enquanto na Europa as curvas apontam para uma
queda significativa do número de casos e mortes, o Brasil ainda enfrenta uma
situação difícil, com média de cerca de mil mortes registradas por dia.
“Bélgica, Itália e Suécia já retornaram à normalidade. Por outro lado, Brasil,
Índia, EUA e México têm movimento ascendente de mortes”, exemplifica. "Por
isso, não dá para comparar", conclui.
As estações climáticas também representam uma variável
importante nas predições sobre a pandemia, opina. O inverno costuma se
caracterizar por aumento das doenças respiratórias. "Aqui, a pandemia está
crescendo em estados menos populosos, onde há aumento da mortalidade nesta
época do ano. Lá, nos Estados Unidos, está ocorrendo o oposto. A doença avança
em estados populosos, onde a mortalidade é menor nestes meses", compara.
Conforme os dados do consórcio de veículos de imprensa
formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL, o país registrou 1.215
mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 116.666 óbitos
na noite desta terça-feira. Com isso, a média móvel de novas mortes no Brasil
nos últimos 7 dias foi de 950 óbitos, uma variação de -3% em relação aos dados
registrados em 14 dias – Estadão.
Carlos Magno
VEJA TAMBÉM:
- Cheirar pum pode prevenir câncer, AVC,
ataque cardíaco, artrite e demência, diz estudo de universidade do Reino Unido
- Assassinato de moradores de rua em
Campina Grande-PB gera comoção: radialista faz artigo em homenagem a
"Maria Suvacão"
- UEPB vai ganhar curso de Medicina no campus de
Campina Grande. Veja detalhes
-Cliente que passar mais de 20 minutos em fila de
banco na Paraíba receberá indenização
- Jovem forja a própria morte para saber
"quais pessoas se importariam com sua ausência" e vem a público pedir
desculpas