A nova Política Nacional de Educação Especial (PNEE) do
governo federal foi publicada na quinta (1º) com o objetivo de ampliar o
atendimento a 1,3 milhão de estudantes com demandas específicas. A adesão de estados
e municípios é voluntária e prevê repasses.
O documento cita o ambiente acolhedor e inclusivo, mas
também fala sobre turmas e escolas especializadas, que atendem apenas
estudantes com deficiência, o que é visto por alguns como fator de exclusão.
Nessa visão, todas as crianças são matriculadas em escolas
regulares e recebem orientação adequada conforme surgirem as dificuldades. A
convivência entre os estudantes das redes de ensino gerais poderia reduzir
estigmas.
Já defensores das salas de aula ou de escolas específicas
para pessoas com deficiência afirmam que este tipo de abordagem pode garantir
um ensino voltado às especificidades desta parcela da população.
"Um dos principais norteadores dessa política nacional
é a valorização das singularidades e dos direitos dos estudantes e das famílias
no processo de decisão sobre as alternativas mais adequadas para o atendimento
educacional especializado", afirmou o ministro da Educação, Milton
Ribeiro, em cerimônia no Planalto, segundo a Agência Brasil.
Para o professor da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), Régis Henrique dos Reis Silva, doutor em filosofia e história da
educação, a nova política retoma práticas que já foram implementadas no Brasil
nos anos 1970 e 1980 e, aos poucos, foram dando espaço para a inclusão de todos
os alunos.
"Não é uma ruptura, mas a diferença é o modo como isso
vai ser organizado e estruturado. Além disso, chama a atenção a
responsabilidade que o documento dá para a decisão das famílias, delega a
escolha para elas", afirma.
Com isso, as famílias podem se sentir pressionadas a
matricularem os filhos em instituições especializadas, e pode levar ao
enfraquecimento da inclusão na escola regular.
Nesta sexta, deputados federais apresentaram projetos de
decreto legislativo para derrubar, no Congresso, o decreto do presidente Jair
Bolsonaro que cria a nova PNEE.
Luiza Correa, coordenadora de advocacy do Instituto Rodrigo
Mendes, organização que defende que toda pessoa com deficiência tenha uma
educação de qualidade na escola comum, a política é um "um imenso retrocesso".
"A gente vem caminhando há anos, lutando pela inclusão,
e essa política vem no sentido inverso", analisa.
Correa defende que as deficiências sejam vistas como
características do aluno. "Cada indivíduo é diferente do outro. Não vemos
a deficiência, vemos a pessoa com características individuais de
aprendizagem", afirma.
"A inclusão é boa para estudantes com deficiência
porque eles aprendem a conviver em sociedade. Mas não é só isso. Ela é
pedagogicamente melhor", avalia Correia.
Ela diz que, por ser um decreto presidencial, o texto não
tem força de lei e pode ser que estados e municípios não participem da
proposta.
O Instituto Jô Clemente, antiga Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais (Apae) de São Paulo, publicou nota em que se diz indignado com
o decreto. "Não é pertinente que os alunos público-alvo da Educação
Especial sejam separados nem privados de convívio com outros alunos, já que é
confirmado que se aprende em coletividade", diz a entidade, em nota.
O que diz o MEC
Questionado sobre as críticas de especialistas, o MEC emitiu
a seguinte nota:
"A PNEE
apresentada pelo Governo Federal amplia a área da educação especial, oferece
aos sistemas educacionais possibilidades de criar alternativas educacionais
além das escolas comuns inclusivas, como: escolas e classes especializadas,
escolas e classes bilíngues de surdos, amplia alternativas para viabilizar o
atendimento educacional especializado como uma diretriz constitucional (art.
208 da Constituição Federal de 1988).
Um dos princípios fundamentais
é o direito do estudante e da família na escolha da alternativa mais adequada
para a educação do público-alvo desta Política.
O objetivo é garantir
aos estudantes com deficiência, com transtorno globais do desenvolvimento e com
altas habilidades uma formação integral." – G1.
Carlos Magno
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