Quando falamos da Catedral e do seu significado histórico
para Campina Grande precisamos pensá-la também sob a perspectiva do seu
horizonte missionário, na sua abrangência social como promotora de vida e de
dignidade humana, sobretudo em favor dos mais pobres e abandonados de nossa
região. Para além do seu sentido simbólico e ritual como primeiro templo
religioso do lugar, ela exerceu ao longo do tempo uma importante tarefa no
âmbito da cidadania pelo esforço e liderança de seus vigários.
Em 1856, o Cônego Francisco Alves Pequeno construiu, com
ajuda do povo, o Cemitério das Boninas, a fim de socorrer a calamidade do surto
de cólera que dizimou significativa parte da população da Vila. O cólera morbus
vitimou 1.547 pessoas, entre elas o tenente-coronel José Luís Pereira da Costa.
Uma vez que não havia espaço no recinto das igrejas, foram improvisados
cemitérios cercados de madeira em diversas localidades (sítios) para sepultamento
imediato dos corpos.

Foi nesse contexto de extremo luto e perda que teve início a
construção do Cemitério das Boninas, trezentas braças ao noroeste da Igreja
Matriz. Administrado pela Igreja local, o campo santo foi chamado
posteriormente de Cemitério Velho e situava-se na esquina das ruas Índios
Cariris e Teodósio de Oliveira Ledo.
Mais tarde, em 1885, a primeira preocupação do
recém-empossado na Matriz de Campina Grande Monsenhor Sales foi acudir a falta
de água no povoado de Queimadas, capela assistida pela sua jurisdição
paroquial, construindo com a cooperação da comunidade o açude de São Pedro
D’Orleans. Narra o vigário que “deu começo, com auxílio do povo, a construir
ali um açude, dito no Boqueirão, que dá passagem aos que vão desta cidade para
o mesmo povoado de Queimadas; recomendando ao povo que, em atenção do dia de
São Pedro D’Orleans, ficasse conhecendo aquele açude com o nome do grande
santo”.
No século passado – idos de 1960 – excepcional obra
caritativa e social desempenhou o Padre José Bonifácio com o seu valoroso
apostolado em favor dos necessitados que margeavam o centro urbano campinense.
Foi de sua iniciativa a construção da Capela de São Pio X, a construção da
Igreja e Escola de São Sebastião no Alto Branco, a construção da Capela de
Santa Madalena como espaço para profissionalização e promoção das mulheres na
Feira Central, a direção do Instituto Pio XII, a criação da Escola Primária
patrocinada pela União das Filhas de Maria, no prédio onde atualmente funciona
a Faculdade de Direito, próxima ao Açude Velho.
Este gênio
empreendedor do Padre Bonifácio é descrito por Maria Rodrigues (Sra. Isaurina)
ao afirmar que “ele era muito apostólico, idealizador e um grande líder. Além
das grandes atividades, como vigário da Catedral, ele dava especial assistência
a toda Ação Católica. Através dele, a JOC – Juventude Operária Católica –
masculina e feminina se expandiu por vários bairros desta cidade e funcionava
semanalmente de forma apostólica e fiel. Havia a JOC central com a sua
diretoria animada e dinâmica, com tardes mensais de formação geral. Funcionava
no prédio dos Moços Católicos, onde atualmente localiza-se o Secretariado
Diocesano”.
Observamos nestes relatos, a ação pastoral de uma Igreja
continuamente identificada com o serviço da caridade e com as causas da
população; quando não havia na Paraíba do século XIX sequer os entes públicos,
ou seja, os munícipios e suas secretarias para gerirem as demandas básicas
relacionadas à sobrevivência e dignidade humana, – como o abastecimento d’água,
o cuidado com os mortos, as escolas, a defesa das mulheres e dos órfãos, –
sendo a ação efetiva dos missionários e dos párocos das Vilas uma resposta a
estas problemáticas e flagelos sociais.
Não podemos esquecer a figura emblemática do Padre Mestre
Ibiapina, fundador e dirigente espiritual da Casa de Caridade em Campina
Grande, entre tantas outras, liderada após a sua morte pelo cuidado pastoral do
Monsenhor Sales, que por sua vez, integrou a vida das beatas remanescentes ao
ofício sagrado da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a fim de dar-lhes
dignidade, acolhimento e sustentação material.
Paralelo a estes fatos, é interessante destacar que o
processo de modernização das cidades estava em curso no Brasil desde o Segundo
Reinado, contudo os equipamentos de melhoria destinados ao usufruto dos centros
urbanos nem sempre alcançavam o tecido social em seu conjunto e complexidade,
sobretudo nos rincões mais afastados das capitais e nas periferias destes
mesmos centros. O exemplo da construção
do cemitério, do açude e das escolas instaladas no entorno da então freguesia
de Campina Grande demonstra a coragem destes curas de almas ao assumir
para seus próprios ministérios a
representação destas aflições humanas.
As políticas públicas que no Brasil imperial e republicano
chegavam com dificuldade aos cariris e sertões da Província, foram em muitos
instantes preenchidas pela atuação próxima e decisiva dos vigários do interior.
Compreendemos nesta dinâmica mais ampla o lugar social ocupado pela Catedral de
Nossa Senhora da Conceição em seu processo histórico, sendo refúgio e força
para os desamparados de toda sorte.
Pe. Luciano Guedes do Nascimento Silva
Vigário Geral e Pároco da Catedral Diocesana
Carlos Magno
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