O Plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (15) o
Projeto de Lei (PL) 4.372/2020, que regulamenta, já a partir de janeiro de
2021, como devem ser aplicados os recursos do novo Fundo de Desenvolvimento da
Educação Básica (Fundeb), agora de caráter permanente. Com a aprovação, o texto
volta à Câmara dos Deputados, pois foi alterado no Senado.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já adiantou que votará
a proposta ainda nesta semana, pois a regulamentação precisa ser aprovada este
ano para que os recursos do Fundeb, que chegaram a R$ 160 bilhões em 2020,
possam ser direcionados a estados e municípios já a partir de janeiro de 2021,
devidamente reajustados.
Escolas públicas
O relator, senador Izalci Lucas (PSDB-DF), optou por
resgatar o texto original apresentado pelo deputado Felipe Rigoni (PSB-DF),
relator na Câmara. Isso porque no plenário da Câmara o texto passou por
alterações, abrindo a possibilidade de que escolas privadas, como as vinculadas
ao Sistema S, as confessionais, comunitárias e filantrópicas, também recebessem
recursos do Fundeb. Mas esta possibilidade sofreu forte rejeição no Senado e,
após negociações, optou-se por aprovar a versão final de Izalci Lucas,
reservando o Fundeb para a educação pública.
— Aqui preservam-se os recursos para a escola pública. A
Câmara distorceu um pouco, colocando recursos do Fundeb para pagamento de folha
até de terceirizados de escolas públicas, assim como nas escolas confessionais
e comunitárias. Estamos tirando isso, e também o Sistema S. O Sistema S pode
fazer convênio com qualquer estado ou município, desde que não seja com
recursos do Fundeb. Então vai continuar fazendo o que vem fazendo. Da
mesma forma, as escolas comunitárias e confessionais — explicou Izalci.
Segundo dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores da
Educação (CNTE), apresentados pelo senador Paulo Paim (PT-RS), o texto, como
saiu da Câmara, tiraria, já a partir de 2021, R$ 16 bilhões do ensino público.
Tal possibilidade foi rejeitada pelos senadores. O texto de Izalci foi aprovado
de forma unânime, em votação simbólica.
— Seria um golpe sem precedentes contra a escola
pública e seus profissionais. O ensino privado, que já recebe R$ 6,7 bilhões de
dinheiro público, teria mais R$ 16 bi do Fundeb, reajustado anualmente. Uma
farra. É a escola pública que atende mais de 80% dos estudantes
brasileiros. Com menor investimento no Fundeb, os mais pobres pagariam a
conta outra vez — afirmou Paulo Paim.
O senador Sergio Petecão (PSD-AC) manifestou opinião
semelhante.
— Se for aprovado o texto como veio da Câmara, vai ser o
caos. Milhares de prefeitos não vão poder pagar a folha de pagamento dos
professores. É isso o que eu ouvi desde a semana passada no Acre — disse.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi na mesma linha.
— Uma das poucas boas notícias que o Brasil comemorou
em 2020 foi transformarmos o Fundeb em um fundo permanente, passando de 10%
para 23% o percentual de participação da União. Isso representa R$ 12 bilhões.
Mas o texto da Câmara, como veio, retira todo este avanço e um pouco mais. Ou
seja, demos com uma mão e estávamos retirando com duas — afirmou Simone Tebet.
O presidente da Comissão de Educação (CE), senador Dário
Berger (MDB-SC), ressaltou a penúria de grande parte das escolas públicas.
— 26% das escolas públicas ainda não têm fornecimento
de água tratada. 5% não têm ligação de energia elétrica. 60% não têm ligação de
esgoto com a rede pública. 70% não têm bibliotecas e 33% não têm internet.
Então o Fundeb tem que ir exclusivamente para o ensino público e seus 2,5
milhões de professores e professoras. Precisamos recuperar o atraso estrutural
— apelou Dario Berger.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) conclamou a população a
manter a pressão sobre os deputados para garantir os recursos à escola pública.
— A guerra não terminou, porque na Câmara as mesmas
forças que alteraram o texto original estarão presentes. Apelo à sociedade
civil, que buscou os senadores, nos mandaram milhares de mensagens para que
resgatássemos o texto original, para que continuem a batalha agora na
Câmara. Vocês precisam estar vigilantes — alertou Esperidião Amin.
Também o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, apoiou o
relatório de Izalci. "Após a manifestação de representantes do setor
da educação e parlamentares, o Senado Federal reverteu as modificações feitas
pela Câmara ao texto de regulamentação do Fundeb. Os senadores garantiram a
destinação de recursos para o ensino público do país, área que mais
carece", escreveu no Twitter.
Distribuição de
recursos
No relatório, Izalci Lucas destaca que a regulamentação do
Fundeb garante, dentro de cada estado, maior equidade na distribuição do
dinheiro, beneficiando as cidades com menores possibilidades financeiras. O
texto ainda reserva 50% dos recursos para a educação infantil.
O projeto cria o Valor Aluno/Ano Resultado (VAAR),
determinando que 2,5% da complementação da União devem ser distribuídos às
redes educacionais que tiverem melhorias nas taxas de atendimento e no
aprendizado, e redução das desigualdades de aprendizado.
Outro indicador determinado pelo projeto é o do Valor
Aluno/Ano Total (VAAT), que redistribui o dinheiro diretamente nas redes
educacionais que têm o Valor Aluno/Ano menor. Entre as condicionalidades para
receber os recursos, estarão o compromisso contra a desigualdade racial, a
distribuição do ICMS de acordo com resultados educacionais, e a aprovação de
currículos alinhados com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – Agência Senado.
Carlos Magno
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