Motivo de comemoração em todo o mundo, a vacinação contra a
Covid-19 ainda é uma incerteza para o professor britânico Clifton Preene.
Morando no Brasil há quase seis anos, ele vê sua terra natal
começar a aplicar as doses e avançar com um plano que promete imunizar toda a
nação.
Enquanto isso, embora tenha lançado um programa nacional de
vacinação, o governo brasileiro sequer tem data para começar a aplicar as
doses.
Cliff mora em Mogi das Cruzes e conta que cogita voltar para
a Inglaterra apenas para tomar a vacina, ainda que seja preciso vender seu
carro, caso a imunização demore para começar no Brasil. Porém, sua esposa é
brasileira e o professor teme que ela não consiga ser imunizada no país
europeu. Desacreditado que será vacinado no Brasil, agora, ele convive com a
incerteza e diz que, enquanto o coronavírus for uma preocupação, vai buscar uma
oportunidade para ser vacinado.
“É mais provável que tenhamos que pegar o vírus aqui no
Brasil. Não me parece que haverá vacina aqui, o que não é impossível. Então
sim, nós voltaríamos para a Inglaterra com certeza [se a vacina no Brasil
demorar ou não chegar]. Se tivermos que vender nosso carro para fazer isso, nós
vamos, pois isso é importante. Só então vamos nos sentir um pouco seguros”.
No último dia 16 o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da
Saúde, Eduardo Pazuello, apresentaram o plano nacional de operacionalização da
vacinação contra o novo coronavírus.
De acordo com o documento, a vacinação no Brasil deve ser
concluída em 16 meses, sendo quatro para os grupos prioritários e 12 para a
população em geral. O plano nacional não apresenta uma data específica, mas diz
que haverá vacinação de grupos prioritários no primeiro semestre de 2021.
Um dia depois, Pazuello afirmou que o Brasil prevê receber
93,4 milhões de vacinas contra a Covid-19 entre janeiro e março de três
fabricantes: AstraZeneca (vacina de Oxford), Instituto Butantan/Sinovac e
Pfizer.
Injeção de incertezas
A vacinação contra a Covid-19 no Reino Unido teve início no
dia 8 de dezembro. O programa busca, em um primeiro momento, proteger os mais
vulneráveis e os mais expostos, permitindo a volta à “normalidade” somente
quando grande parte da população estiver imunizada. Entre os primeiros
vacinados, estão profissionais de saúde, pessoas que trabalham em asilos e
idosos.
Clifton não faz parte desses grupos, mas acredita que,
seguindo o cronograma do país, a população correspondente a sua faixa etária
será vacinada a partir de fevereiro. Ele tem direito de receber a vacina se
estiver lá quando isso acontecer, mas o cenário não é o mesmo para sua esposa.
Ela tem passaporte europeu, mas Cliff diz que isso não a concede os direitos de
um cidadão britânico.
Com a saída do Reino Unido da União Europeia, prevista para
o final deste ano, a preocupação é ainda maior. “Embora sejamos casados, ela
não é uma cidadã britânica. Ela não tem direitos automáticos para isso. Com a
Inglaterra deixando a União Europeia esse mês, pode haver algum problema com o
passaporte dela também, que talvez nem dê a ela algum direito [para a
vacinação]. Isso é algo que a gente pensa sobre, nós precisamos ver como isso
se sairá”, diz o professor.
“Provavelmente haverá muita burocracia para que ela também
seja vacinada, o que eu considero muito injusto. Até porque não haverá
possibilidade de fugir das filas e pagar pela vacina. Não vai funcionar dessa
maneira”.
Enquanto não vê alternativa para que a companheira
brasileira seja vacinada na Inglaterra, Preene espera, pessimista, pela
vacinação no Brasil. O britânico teme que a imunização ocorra de forma
inadequada, sem atingir toda a população, ou que sequer aconteça.
“Eu tenho esperança na raça humana, pois as vacinas estão
chegando. Porém, se elas não vir para o Brasil ou não, essa é outra questão. No
Brasil eu tenho uma preocupação sobre o que está acontecendo por trás. Sabemos
que há muito dinheiro envolvido nessas vacinas. É político, mas, infelizmente,
não é justo para o povo brasileiro", afirma.
O comportamento da
população preocupa
O professor diz que se sente incomodado com o ‘negacionismo’
de parte da população em ambos os países sobre os riscos e consequências do
coronavírus.
Ele lembra que o Reino Unido tentou fazer um lockdown para
que os índices da doença caíssem até o Natal. O problema é que, logo após a
última flexibilização, a população voltou às ruas, se expondo massivamente à
doença.
Ele afirma ver o mesmo no Brasil. Segundo Cliff, o país
nunca teve um lockdown restrito como o do Reino Unido, mas registra aumento nas
aglomerações sempre que há uma nova flexibilização.
O professor também lamenta que algumas pessoas insistam em
desrespeitar cuidados básicos, como o uso da máscara, além de dar espaço para
notícias falsas que questionam a seriedade da doença.
“Essas pessoas são nossos problemas. Essas pessoas estão
indo por aí sem cuidados, não estão usando mascaras, não estão lavando as mãos.
Apenas andando por aí. É uma atitude tão estranha. Eles esquecem que essas
atitudes são ruins para todo mundo”.
Ele diz, ainda, que o mundo já sofreu o suficiente e é hora
de dar espaço à informação. Se os protocolos sanitários continuarem sendo
desrespeitados, mesmo após a vacina, novas mortes ainda devem acontecer,
acredita Preene.
“Houve um período, no começo, em que nós não sabíamos nada
sobre o vírus. Nenhum de nós sabia bem o que ia acontecer. Mas agora nós já
sofremos o suficiente para sabermos como e o quão rápido ele afeta todos nós”,
aponta.
“Uma vez que eles liberam as pessoas do lockdown, dizem:
‘apenas vá, faça o que quiser’, sabemos o quão rápido isso volta e quantas
pessoas morrem todas as vezes que eles fazem isso. Isso tem acontecendo no
Reino Unido. Vai acontecer de novo”, teme – G1.
Carlos Magno
VEJA TAMBÉM:
- Cheirar pum pode prevenir câncer, AVC,
ataque cardíaco, artrite e demência, diz estudo de universidade do Reino Unido
- Assassinato de moradores de rua em
Campina Grande-PB gera comoção: radialista faz artigo em homenagem a
"Maria Suvacão"
- UEPB vai ganhar curso de Medicina no campus de
Campina Grande. Veja detalhes
-Cliente que passar mais de 20 minutos em fila de
banco na Paraíba receberá indenização
- Jovem forja a própria morte para saber
"quais pessoas se importariam com sua ausência" e vem a público pedir
desculpas