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26/12/2020

Britânico que mora em São Paulo cogita vender carro para se vacinar contra Covid-19 no Reino Unido caso vacinação no Brasil demore


Motivo de comemoração em todo o mundo, a vacinação contra a Covid-19 ainda é uma incerteza para o professor britânico Clifton Preene.

 

Morando no Brasil há quase seis anos, ele vê sua terra natal começar a aplicar as doses e avançar com um plano que promete imunizar toda a nação.

 

Enquanto isso, embora tenha lançado um programa nacional de vacinação, o governo brasileiro sequer tem data para começar a aplicar as doses.



 

Cliff mora em Mogi das Cruzes e conta que cogita voltar para a Inglaterra apenas para tomar a vacina, ainda que seja preciso vender seu carro, caso a imunização demore para começar no Brasil. Porém, sua esposa é brasileira e o professor teme que ela não consiga ser imunizada no país europeu. Desacreditado que será vacinado no Brasil, agora, ele convive com a incerteza e diz que, enquanto o coronavírus for uma preocupação, vai buscar uma oportunidade para ser vacinado.

 

“É mais provável que tenhamos que pegar o vírus aqui no Brasil. Não me parece que haverá vacina aqui, o que não é impossível. Então sim, nós voltaríamos para a Inglaterra com certeza [se a vacina no Brasil demorar ou não chegar]. Se tivermos que vender nosso carro para fazer isso, nós vamos, pois isso é importante. Só então vamos nos sentir um pouco seguros”.

 

No último dia 16 o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, apresentaram o plano nacional de operacionalização da vacinação contra o novo coronavírus.

 

De acordo com o documento, a vacinação no Brasil deve ser concluída em 16 meses, sendo quatro para os grupos prioritários e 12 para a população em geral. O plano nacional não apresenta uma data específica, mas diz que haverá vacinação de grupos prioritários no primeiro semestre de 2021.

 

Um dia depois, Pazuello afirmou que o Brasil prevê receber 93,4 milhões de vacinas contra a Covid-19 entre janeiro e março de três fabricantes: AstraZeneca (vacina de Oxford), Instituto Butantan/Sinovac e Pfizer.



 

Injeção de incertezas

 

A vacinação contra a Covid-19 no Reino Unido teve início no dia 8 de dezembro. O programa busca, em um primeiro momento, proteger os mais vulneráveis e os mais expostos, permitindo a volta à “normalidade” somente quando grande parte da população estiver imunizada. Entre os primeiros vacinados, estão profissionais de saúde, pessoas que trabalham em asilos e idosos.

 

Clifton não faz parte desses grupos, mas acredita que, seguindo o cronograma do país, a população correspondente a sua faixa etária será vacinada a partir de fevereiro. Ele tem direito de receber a vacina se estiver lá quando isso acontecer, mas o cenário não é o mesmo para sua esposa. Ela tem passaporte europeu, mas Cliff diz que isso não a concede os direitos de um cidadão britânico.

 

Com a saída do Reino Unido da União Europeia, prevista para o final deste ano, a preocupação é ainda maior. “Embora sejamos casados, ela não é uma cidadã britânica. Ela não tem direitos automáticos para isso. Com a Inglaterra deixando a União Europeia esse mês, pode haver algum problema com o passaporte dela também, que talvez nem dê a ela algum direito [para a vacinação]. Isso é algo que a gente pensa sobre, nós precisamos ver como isso se sairá”, diz o professor.

 

“Provavelmente haverá muita burocracia para que ela também seja vacinada, o que eu considero muito injusto. Até porque não haverá possibilidade de fugir das filas e pagar pela vacina. Não vai funcionar dessa maneira”.

 

Enquanto não vê alternativa para que a companheira brasileira seja vacinada na Inglaterra, Preene espera, pessimista, pela vacinação no Brasil. O britânico teme que a imunização ocorra de forma inadequada, sem atingir toda a população, ou que sequer aconteça.

 

“Eu tenho esperança na raça humana, pois as vacinas estão chegando. Porém, se elas não vir para o Brasil ou não, essa é outra questão. No Brasil eu tenho uma preocupação sobre o que está acontecendo por trás. Sabemos que há muito dinheiro envolvido nessas vacinas. É político, mas, infelizmente, não é justo para o povo brasileiro", afirma.



 

O comportamento da população preocupa

 

O professor diz que se sente incomodado com o ‘negacionismo’ de parte da população em ambos os países sobre os riscos e consequências do coronavírus.

 

Ele lembra que o Reino Unido tentou fazer um lockdown para que os índices da doença caíssem até o Natal. O problema é que, logo após a última flexibilização, a população voltou às ruas, se expondo massivamente à doença.

 

Ele afirma ver o mesmo no Brasil. Segundo Cliff, o país nunca teve um lockdown restrito como o do Reino Unido, mas registra aumento nas aglomerações sempre que há uma nova flexibilização.

 

O professor também lamenta que algumas pessoas insistam em desrespeitar cuidados básicos, como o uso da máscara, além de dar espaço para notícias falsas que questionam a seriedade da doença.

 

“Essas pessoas são nossos problemas. Essas pessoas estão indo por aí sem cuidados, não estão usando mascaras, não estão lavando as mãos. Apenas andando por aí. É uma atitude tão estranha. Eles esquecem que essas atitudes são ruins para todo mundo”.

Ele diz, ainda, que o mundo já sofreu o suficiente e é hora de dar espaço à informação. Se os protocolos sanitários continuarem sendo desrespeitados, mesmo após a vacina, novas mortes ainda devem acontecer, acredita Preene.

 

“Houve um período, no começo, em que nós não sabíamos nada sobre o vírus. Nenhum de nós sabia bem o que ia acontecer. Mas agora nós já sofremos o suficiente para sabermos como e o quão rápido ele afeta todos nós”, aponta.

 

“Uma vez que eles liberam as pessoas do lockdown, dizem: ‘apenas vá, faça o que quiser’, sabemos o quão rápido isso volta e quantas pessoas morrem todas as vezes que eles fazem isso. Isso tem acontecendo no Reino Unido. Vai acontecer de novo”, teme – G1.

 

Carlos Magno

 

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