Após a aprovação do uso emergencial pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, foi a
primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 no Brasil. Ela recebeu o
imunizante Coronavac, desenvolvido no país pelo Instituto Butantan, no Hospital
das Clínicas de São Paulo, neste domingo (17).
Mulher, negra e
enfermeira da linha de frente
Mônica Calazans, de 54 anos, mora em Itaquera, na zona Leste
da capital paulista, e trabalha no hospital Emílio Ribas, referência no
tratamento de Covid-19 no país. Para chegar ao seu trabalho, de acordo com um
relato feito ao governo de São Paulo, ela leva cerca de uma hora e meia.
A enfermeira tem perfil de alto risco para complicações da
Covid-19: é obesa, hipertensa e diabética. Mesmo assim, em maio, quando a
pandemia atingia alguns de seus maiores picos, escolheu trabalhar no Emílio
Ribas, mesmo ciente de que a unidade estaria no epicentro do combate à
pandemia. Segundo ela, a vocação falou mais alto.
A profissional atuou como auxiliar de enfermagem durante 26
anos e resolveu fazer faculdade já mais adulta, e conseguiu o diploma de
enfermeira aos 47 anos.
Corintiana, Mônica é viúva e mora com o filho Felipe, de 30
anos, conta que é minuciosa nos cuidados de higiene e distanciamento no
trabalho e quando chega em casa.
"Quem cuida do outro tem que ter determinação e não
pode ter medo. É lógico que eu tenho me cuidado muito a pandemia toda. Preciso
estar saudável para poder me dedicar. Quem tem um dom de cuidar do outro sabe
sentir a dor do outro e jamais o abandona"
Heroína do ano
Mônica foi a vencedora do prêmio Notáveis CNN em 2020 pela
sua luta contra o novo coronavírus. Ao receber o prêmio, ela se emocionou.
"Eu não sei nem se essa palavra, heroína, cabe a mim. Falo por mim, por
todos os profissionais de saúde que ainda estão na linha de frente e aqueles
que não estão mais com a gente, que tentaram fazer um trabalho perfeito e foram
arrebatados pela doença", disse.
No país com o maior número de enfermeiros vítimas da
Covid-19 em todo o mundo, ela falou sobre como tem enfrentado a realidade da
pandemia. A equipe da premiação acompanhou Calazans antes de ela saber que
receberia o troféu.
"Desde o início, eu estou na linha de frente. Eu tenho
hipertensão, tenho diabetes e obesidade. Eu não sei por que eu não tenho medo.
Não consigo explicar isso. É uma profissão em que você não pode ter medo",
contou a enfermeira.
"Você segura a onda e tem que trabalhar. Você tem que
segurar o seu psicológico. Na realidade, você não pode se abalar com tudo o que
está acontecendo. Você tem que ser muito forte", diz ela, que já perdeu
quatro amigos para a Covid-19.
"Eu me considero vencedora, porque desde o início eu
estou me dando de peito aberto para cuidar das pessoas. Eu só tenho a
agradecer", revelou a enfermeira.
Ao receber o troféu, Calazans dedicou a homenagem a duas
colegas de trabalho e ao filho.
"Quero dedicar a duas pessoas em especial. Uma delas é
minha chefe, a Marli, enfermeira do Emílio Ribas. E a outra chefe é a
Elizabete, enfermeira do outro hospital em que eu trabalho. Elas foram essenciais
na minha vida nesse período. São pessoas admiráveis, pessoas ímpares",
contou – CNN.
Carlos Magno
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