O abre e fecha do comércio e as incertezas sobre os rumos da
economia em meio à pandemia de covid-19 tem impulsionado a contratação de
trabalhadores temporários no Brasil. O número de admissões realizadas por meio
da modalidade chegou a mais de 2 milhões em 2020, um aumento de 34,8% em
relação a 2019, segundo a Associação Brasileira de Trabalho Temporário
(Asserttem). A prática, que era bastante utilizada aos finais de ano por conta
da demanda das festas, virou a solução do mercado para tempos de pouca
previsibilidade e crise sanitária. Para especialistas, a tendência deve seguir
forte neste ano.
Em 2020, a busca por esse tipo de contratação teve um perfil
diferente: 65% delas ocorreram na Indústria, para atender a uma demanda maior
de trabalho em segmentos como, por exemplo, alimentos, farmacêutica, embalagens
e agronegócio. “Historicamente, o comércio é que sempre puxou as contratações
de temporários. Mas em 2020 foi a Indústria, um dos setores que mais chamou
atenção foi o da alimentação”, diz Marcos Abreu, presidente da Asserttem. De
acordo com ele, esse tipo de modalidade de trabalho acaba sendo eficaz e segura
para as empresas que estão avaliando se a demanda que receberam é temporária ou
não.
Abreu explica ainda que esse tipo de contratação foi
utilizado para substituir funcionários do grupo de risco do coronavírus e
também os que foram infectados pela covid-19 e precisaram ser afastados. “Os
frigoríficos de frango foram os campeões de substituição e de afastamentos. Se
já houvesse suspeita, a pessoa era afastada por 15 dias”.
Camila Costa trabalha como temporária desde de dezembro de
2020. Ela foi contratada para o cargo de auxiliar de Recursos Humanos (RH) no
Grupo Polar, já que a empresa ―que oferece soluções para manter a temperatura
de produtos farmacêuticos, como gelo e embalagem, durante o transporte e
armazenamento― viu a demanda crescer durante a pandemia e precisou recrutar
mais colaboradores. Além de medicamentos, o grupo está atendendo pedidos para o
transporte das vacinas contra a covid-19 autorizadas no Brasil, que necessitam
uma temperatura específica.
“Para mim, foi uma excelente oportunidade. Estava
desempregada há mais de um ano e meio e tenho um filho de 8 meses, o que
parecia um empecilho em várias empresas que fiz entrevista. É a primeira vez
que sou contratada como temporária e espero depois ser efetivada”, afirma.
Ariana Lira, coordenadora de RH do grupo, conta que
atualmente dos 110 trabalhadores da empresa, 19 foram contratados pelo regime
temporário. “Precisamos de mais pessoas nesse momento que a demanda da vacina é
forte, mas sabemos que é uma demanda passageira”, explica.
Como temporária, Costa possui os mesmos direitos dos demais
empregados. Recebe, por exemplo, férias e 13° salário, embora proporcionais ao
tempo do contrato. A diferença está nos direitos após o término do contrato.
Uma vez que existe um prazo para o fim da prestação de serviço, o trabalhador
não tem tem direito a aviso prévio, seguro-desemprego e nem a indenização
correspondente a 40 % do Fundo de Garantia (FGTS).
O contrato de trabalho temporário possui prazo limite de até
180 dias corridos, podendo o trabalho ser prestado consecutivamente ou não. Ele
pode ser prorrogado apenas uma vez, por até 90 dias corridos. Esse tipo de
contratação só é permitido em casos de necessidade transitória de substituição
de pessoal ou demanda complementar de serviços da empresa.
Jéssica Mendes Bertuci, diretora da agência Moderna emprego,
que presta serviço de recursos humanos para mais de 200 empresas, explica que,
no início da pandemia, em março, as contratações foram tão escassas que
chegaram a pensar em fechar. Porém, já em abril e maio, alguns setores
enfrentaram uma demanda tão alta que precisaram admitir mais funcionários.
“Empresas de limpeza, agronegócio, alguns tipos de consumo como alimentação.
Mas como há muita instabilidade, essa procura foi por temporário”, diz.
O número de demissões em massa durante o ano passado também
foi grande devido a todo o impacto econômico gerado pela crise sanitária. “O
que percebemos é que as empresas que estão conseguindo retomar parte dos
profissionais agora estão optando, primeiro, pela modalidade temporário já que
o custo é menor caso tenham que demitir. A incerteza ainda é grande diante dos
repiques de casos de coronavírus ”, diz.
Marcos Abreu, da Asserttem, concorda que a tendência nesse
ano é que a modalidade continue em alta. “A pandemia da covid-19 ainda traz
insegurança às empresas, que devem se apoiar na modalidade para garantir maior
flexibilidade de gestão e conseguir se manter no mercado”, diz.
O rumo incerto da economia em 2021, no entanto, torna mais
difícil a efetivação dos profissionais temporários. “Geralmente é uma grande
oportunidade para o profissional se efetivar. Mas agora o momento é de mais
cautela dos contratantes”, explica Bertuci.
O mercado de trabalho passa por um momento bastante
delicado. A taxa de desemprego, que foi de 14,1% no trimestre de setembro a
novembro de 2020 e atingiu 14 milhões de pessoas, pode dar um salto com o fim
da transferência do auxílio emergencial. Muitas pessoas que perderam seus
postos de trabalho não voltaram a procurar outro por conta da pandemia e as
regras de quarentena, mas agora voltam para fila do desemprego. O total de
pessoas ocupadas no país caiu 9,4% na comparação com o trimestre encerrado em
novembro de 2019, o que representa uma redução de 8,8 milhões de pessoas,
segundo o IBGE – EL PAÍS.
Carlos Magno
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