A ala de ministros que defendem as investigações da
Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) já vislumbrou toda a queda da
operação na Corte.
Os atos de Sergio Moro no tríplex serão anulados pela
Segunda Turma do tribunal e Lula usará essa decisão para pedir, logo na
sequência, uma revisão criminal também no caso do Sítio de Atibaia.
O argumento utilizado pelo ex-presidente será, na avaliação
de ministros do STF, o de que Moro atuou na instrução do processo do sítio e
teria, também nesse caso, cometido irregularidades. Não faltarão magistrados na
Corte dispostos a conceder a liminar a Moro e enterrar também a condenação do
sítio.
“Toda a obra de Moro acabará”, diz um ministro. “Será uma
vergonha nacional”, complementa.
Se os casos forem ao plenário, para julgamento dos onze
ministros, não há mais certeza de que Moro e sua turma terão maioria para
sustentar as condenações contra Lula.
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo, disse, em entrevista à
BBC News Brasil, que a Operação Lava Jato "apoiou a eleição de Jair
Bolsonaro", "tentou interferir" no resultado eleitoral e
"agiu para perturbar o país" durante a gestão de Michel Temer.
Perto de liberar para julgamento a ação em que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pede a anulação da sua condenação no
caso do Tríplex do Guarujá, Gilmar Mendes afirmou também que o ex-juiz federal
e ex-ministro da Justiça Sergio Moro "fez tudo o que não condiz" com
o que se espera da relação entre juiz e Ministério Público numa investigação
criminal.
O julgamento do recurso de Lula teve início em dezembro de
2018 e foi interrompido por um pedido de vista de Mendes. Na época, dois
ministros chegaram a votar contra o pedido do ex-presidente: o relator Luiz
Edson Fachin e Cármen Lúcia. Segundo Mendes, o caso será liberado para votação
neste semestre.
Na ação, a defesa de Lula questiona a imparcialidade de Moro
e cita como uma das provas disso o fato de o juiz ter aceitado ser ministro da
Justiça do governo Bolsonaro.
Moro foi o primeiro a condenar Lula, em 2017, no processo em
que o ex-presidente é acusado de ter recebido a propriedade de um tríplex no
Guarujá da empreiteira OAS como parte de propina em troca de contratos da
empresa com a Petrobras. Depois a condenação foi confirmada pelo Tribunal
Regional Federal (TRF) da 4ª Região e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
"A Lava Jato tinha candidato e tinha programa no
processo eleitoral", disse Mendes à BBC News Brasil.
"Primeiro a Lava Jato atua na prisão do Lula. Prestes à
eleição, a Lava Jato divulga o chamado depoimento ou delação do Palocci,
tentando influenciar o processo eleitoral. Depois, o Moro vai para o governo
Bolsonaro, portanto eles não só apoiaram como depois passam a integrar o
governo Bolsonaro", exemplificou o ministro.
Questionado se uma eventual anulação da condenação de Lula
não poderia gerar efeito cascata, beneficiando os demais réus da Lava Jato, o
ministro do STF disse que cada caso será analisado individualmente.
Ele destacou, porém, que condenações que se basearam na
colaboração informal entre procuradores da Lava Jato e autoridades estrangeiras
podem ser reavaliadas. E disse haver "indicações de que houve vícios nos
acordos de delação premiada e induções de declarações" dos réus na Lava
Jato.
Aliados apelam para
Moro retornar ao cenário eleitoral para 2022
Líderes partidários e defensores da Operação Lava Jato
passaram a fazer apelos públicos na tentativa de convencer o ex-ministro e
ex-juiz Sergio Moro a se posicionar como potencial candidato na disputa pelo
Palácio do Planalto em 2022.
Com um perfil discreto, Moro submergiu desde que se tornou
sócio-diretor da consultoria americana Alvarez & Marsal no ano passado, mas
tem mantido conversas reservadas "como cidadão" sobre o cenário
nacional com parlamentares aliados.
Nesses diálogos, Moro resiste a dar sinais claros sobre suas
pretensões políticas, mas não descarta uma futura candidatura. O ex-ministro
demonstra desconforto com o que interlocutores chamam de "progressiva
deterioração" do País e dos mecanismos anticorrupção.
Os entusiastas da candidatura do ex-juiz voltaram a se
mobilizar após a decisão da maioria da Segunda Turma do STF de liberar o
compartilhamento da íntegra das mensagens vazadas da Lava Jato com a defesa do
ex-presidente Lula.
A expectativa do julgamento sobre a suspeição de Moro no
caso do triplex do Guarujá (SP) deu munição à narrativa dos partidários de
Lula, mas também aglutinou as correntes dissidentes do bolsonarismo que apostam
no discurso contra a corrupção para formar uma frente eleitoral em 2022.
"Uma reviravolta (nas decisões da Lava Jato) chocaria a
população que votou contra a corrupção em 2018 e beneficiária uma eventual
candidatura do Moro, que simboliza esse sentimento. As cartas para 2022 ainda
não foram apresentadas em sua plenitude, mas ele já tem visibilidade",
disse o senador Alvaro Dias (Podemos-PR).
O parlamentar, que disputou à Presidência em 2018, conversou
com Moro pela última vez após a eleição para a presidência da Câmara. Na mesma
linha, a deputada Renata Abreu (SP), presidente nacional do Podemos, disse
acreditar que Moro sai maior a cada "ataque" que sofre. "O povo
sabe que ele, sozinho, tem reafirmado seu papel de herói nacional. Mesmo diante
de mensagens hackeadas, obtidas de forma ilegal, o conteúdo revela a cautela e
a seriedade que fez dele, no auge da operação, um orgulho de todos os
brasileiros", afirmou a dirigente.
O Podemos está em compasso de espera e considera o ex-juiz o
seu "plano A" para 2022. Outra legenda que mantém as portas abertas
para Moro é o PSL, que planeja um processo de expurgo da ala bolsonarista.
"O PSL é um partido moderado e de centro-direita. Estamos buscando
construir pontes com ele. Moro é o nome mais consistente do ponto de vista
eleitoral. Ele aglutina os lavajatistas, antipetistas e aqueles que pregam a ética
na política. Ou seja: as três vertentes da sociedade que o Bolsonaro
abdicou", disse o deputado federal Junior Bozzella (SP), vice-presidente
nacional do PSL.
Em suas redes sociais, a deputada estadual paulista Janaína
Paschoal (PSL) fez um apelo para que Moro entre no tabuleiro eleitoral de 2022.
"Haja vista o inferno que estão transformando a vida dele, não vejo outro
caminho para Sérgio Moro além de se candidatar à Presidência da República em
2022", escreveu a parlamentar no Twitter.
Horizonte
No ano passado, apoiadores de Sergio Moro no Congresso viram
na sua contratação por uma consultoria americana e em manifestações recentes
sinais de que o ex-ministro está reticente quanto a uma eventual candidatura em
2022. A interlocutores nos últimos meses, Moro indicou que não está determinado
a ser protagonista em um projeto eleitoral neste momento.
Mas apesar da discrição, ele tem participado de articulações
por uma candidatura de centro-direita, em oposição ao presidente Jair Bolsonaro
(sem partido). Em setembro, ele jantou com o governador de São Paulo, João
Doria (PSDB). Segundo o tucano, foi uma conversa "sem prerrogativa de
nomes, mas sim de princípios". Depois do encontro, Moro se reuniu com o
apresentador Luciano Huck, que também se movimenta para disputar a Presidência –
Veja.
Carlos Magno
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