O filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, o senador
Flávio, comprou uma mansão de luxo por quase R$ 6 milhões num condomínio
fechado de Brasília. A informação foi revelada na noite de segunda-feira
(01/03) pelo site O Antagonista e logo levantou questionamentos sobre as
condições da transação.
Há mais de dois anos, negócios suspeitos de Flávio assombram
a família presidencial. O parlamentar é acusado de enriquecer graças a um esquema
de desvio de verbas públicas na época em que era deputado estadual no Rio de
Janeiro. Segundo investigações, há suspeita de que esses valores tenham sido
lavados na compra de imóveis.
De acordo com o Antagonista, Flávio Bolsonaro pagou parte do
imóvel, avaliado em R$ 5,97 milhões, com um empréstimo de R$ 3,1 milhões junto
ao Banco de Brasília (BRB), um instituição estatal do governo do Distrito
Federal (DF), que por sua vez é comandando por Ibaneis Rocha, um aliado do
presidente. O banco acumulou um longo histórico de escândalos de corrupção nas
últimas duas décadas e chegou a ter dois ex-presidentes presos. Já o atual
presidente da instituição, Paulo Henrique Costa, é um dos cotados, segundo
vários veículos da imprensa, para assumir a chefia do Banco do Brasil, uma
prerrogativa do governo federal.
A compra da casa milionária também provocou críticas em
redes sociais por ocorrer num momento de crise econômica, quando nenhum
auxílio-emergencial está sendo pago para famílias afetadas pela pandemia. A esposa
de Flávio, Fernanda, que é dentista, também consta como compradora.
Transação
O valor da transação da mansão também chamou a atenção, já
que está bem acima do patrimônio declarado pelo senador Flávio em 2018. No
pleito, o então candidato declarou possuir bens que totalizavam R$ 1,74 milhão.
Seu salário como senador é de R$ 33.763.
O pagamento do empréstimo de 3,1 milhões será feito em 360
parcelas. A certidão informa que as taxas de juro variam de 3,65% a 4,85% ao
ano. Dessa forma, as parcelas devem ficar em torno de R$ 18 mil, mais da metade
do salário líquido do senador.
Apesar de mansão ficar numa área de Brasília, Flávio
registrou o imóvel em um cartório de Brazilândia, uma empobrecida cidade
satélite de 50 mil habitantes a 50 km do Plano Piloto.
Outro lado
Em nota divulgada nesta terça-feira, Flávio indicou que
pagou mais de 2,8 milhões do valor da mansão com recursos da venda de um
apartamento no Rio de Janeiro.
"A casa adquirida pelo senador Flávio Bolsonaro em
Brasília foi comprada com recursos próprios, em especial oriundos da venda seu
imóvel no Rio de Janeiro. Mais da metade do valor da operação ocorreu por
intermédio de financiamento imobiliário. Tudo registrado em escritura pública.
Qualquer coisa além disso é pura especulação ou desinformação por parte de
alguns veículos de comunicação", afirmou a assessoria do senador.
Em um vídeo publicado em seu Twitter, Flávio ainda afirmou
que parte do valor foi pago graças a venda da sua participação na franquia de
chocolates no Rio.
A participação foi vendida no final de janeiro. A loja
estava justamente na mira dos investigadores do Ministério Público que apuram
as suspeitas de participação do senador no esquema das "rachadinhas"
em seus tempos de deputado. A loja, segundo os promotores, operava com volume
atípico de transações em dinheiro vivo e há suspeita de que o local era usado
para lavar dinheiro.
O caso das rachadinhas também evidenciou a ligação da
família Bolsonaro com milicianos do Rio, notadamente o ex-PM Adriano Magalhães
da Nóbrega, morto em 2020, cuja ex-mulher e mãe foram empregadas no gabinete de
Flávio e repassaram centenas de milhares de reais para Fabricio Queiroz, uma
espécie de "faz tudo" da família Bolsonaro. Além disso, a
primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também foi implicada no caso quando
apareceram valores depositados por Queiroz em sua conta.
Suspeitas
Flávio foi denunciado em novembro pelo Ministério Público
pelo seu papel nas suspeitas de desvios na Alerj, acusado de organização
criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Os desvios teriam somado R$ 6,1
milhões ao longo dos quatro mandatos de Flávio na Assembleia Legislativa do
Rio.
A denúncia ainda apontou que os valores desviados foram
ocultados com a compra de imóveis. Flávio, por exemplo, comprou em 2012 dois
imóveis em Copacabana a preços abaixo do mercado. Os apartamentos foram
comprados por 310 mil reais e revendidos meses depois com um lucro de 262%.
Sobre o caso, Flávio disse à época: "Ué, eu consigo comprar mais barato e
estou sendo julgado por isso?". Mas o baixo valor pago parece ter sido
artificial. No mesmo dia em que a transação foi oficializada, o dono original
dos imóveis depositou R$ 638,4 mil em dinheiro vivo na própria conta.
Ao todo, Flávio adquiriu 19 imóveis num intervalo de 16
anos, entre apartamentos e salas comerciais. A mansão em Brasília é o 20º
imóvel envolvendo o filho mais velho do presidente.
A mansão
O imóvel adquirido por Flávio Bolsonaro fica no Setor de
Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, uma área nobre de Brasília. O terreno soma 2,4
mil m². Já a construção tem 1.100 m².
Os detalhes da casa apareceram num vídeo divulgado pela
construtora. As imagens originais já foram retiradas do ar, mas foram logo
reproduzidas por contas em redes sociais.
São dois pavimentos, com jardim e piscina. O anúncio de
venda da casa descrevia que o andar inferior tem "salas de estar e de jantar
com pé direito duplo, escritório, lavabo, home-theater, cozinha, espaço gourmet
com ampla varanda, despensa, lavanderias coberta e descoberta, duas
dependências completas para empregadas e quarto de motorista".
Já o andar superior conta com "sala e copas íntimas,
uma brinquedoteca, quatro suítes amplas, sendo a máster com hidromassagem para
o casal, closet e academia".
"Na área externa, piscina e spa com aquecimento solar,
iluminação em led e deck, banheiros do espaço gourmet, depósito, quatro vagas
de garagem cobertas e mais quatro descobertas", indicava o anúncio – DW.
Carlos Magno
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