Na semana com os piores números da pandemia da covid-19 no
Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 4, que é
preciso "enfrentar o problema de peito aberto" e parar de
"frescura". Bolsonaro voltou a apelar para que governadores e
prefeitos não adotem medidas restritivas para conter a crise sanitária.
O chefe do Executivo também disse que gostaria de ter o
poder para definir a política de enfrentamento ao vírus. Contrário a medidas de
fechamento, Bolsonaro voltou a elogiar o "homem do campo" por ter
continuado a produzir durante a pandemia da covid-19. "Vocês (produtores
rurais) não ficaram em casa, não se acovardaram, nós temos que enfrentar os
nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?
Temos que enfrentar os problemas", disse em evento de inauguração de
trecho da ferrovia Norte-Sul, em São Simão (GO).
"Respeitar, obviamente, os idosos, aqueles que têm
doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos? A própria
bíblia diz, em 365 citações, ela diz: não temas", declarou. O presidente
repetiu o argumento de que foi impedido de decidir sobre políticas de combate
ao vírus no País, apesar da fala não ser verdadeira.
Desde o ano passado, Bolsonaro alega que o Supremo Tribunal
Federal tirou dele a possibilidade de agir na pandemia, deixando isso para os
Estados e municípios. A Corte decidiu em abril de 2020, contudo, que a União,
Estados, municípios e o DF têm "competência concorrente" na área da
saúde pública para realizar ações que reduzam o impacto da covid-19.
"Eu apelo aqui, já que foi me castrada a autoridade,
para governadores e prefeitos: repensem a política de fechar tudo, o povo quer
trabalhar", afirmou. "Vamos combater o vírus, mas não de forma
ignorante, burra, suicida. Como eu gostaria de ter o poder, como deveria ser
meu, para definir essa política. Para isso que muitos de vocês votaram em
mim", disse.
Ontem, após um ano de pandemia, Bolsonaro afirmou em
entrevista à imprensa que tinha um plano próprio e pronto para o enfrentamento
da doença, mas se recusou a dar detalhes. Ele argumentou que para colocar o
plano em prática precisaria de autoridade e que para tal aguardava uma
autorização do STF. Hoje, Bolsonaro afirmou que foi eleito para "comandar
o Brasil" e disse esperar "que esse poder seja restabelecido".
"Até quando vamos ficar dentro de casa? Até quando vai
se fechar tudo? Ninguém aguenta mais isso. Lamentamos as mortes, repito, mas
tem que ter uma solução", indagou em sua fala no evento desta quinta.
"Se nós destruirmos a nossa economia, pode esquecer um montão de coisa.
Vamos ser algo como países colônias no passado, e não queremos isso. Vamos de
peito aberto enfrentar o problema", declarou.
Sobre a compra de vacinas, Bolsonaro disse que o governo é
responsável e está "fazendo o que é certo". Ele citou a chegada de 20
milhões de imunizantes neste mês e outras 40 milhões de doses em abril.
"Nunca nos afastamos de buscar vacinas, mas eu sempre disse uma coisa,
elas têm que passar pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária)", disse.
O presidente participou nesta quinta-feira do evento de
inauguração de trecho de 172 quilômetros da ferrovia Norte-Sul entre os
municípios de São Simão (GO) e Estrela DOeste (SP). Na cerimônia, o governo
também entregou um ponto do programa Wi-fi na Praça, iniciativa do Ministério
das Comunicações. Acompanharam a inauguração os ministros Tarcísio de Freitas
(Infraestrutura), Fábio Faria (Comunicações), Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral)
e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) – Estadão.
Carlos Magno
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