O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) formou nesta
quinta-feira (22) maioria a favor da manutenção da decisão da Segunda Turma da
Corte segundo a qual o ex-juiz Sergio Moro agiu parcialmente no processo em que
condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex em
Guarujá.
O julgamento foi suspenso em razão de pedido de vista (mais
tempo para analisar o processo) de Marco Aurélio Mello e será retomado depois
que o ministro devolver o processo e uma nova data for definida pelo presidente
do STF, ministro Luiz Fux.
No momento da interrupção, havia sete votos pela manutenção
da decisão da Segunda Turma (Gilmar Mendes, Nunes Marques, Alexandre de Moraes,
Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Rosa Weber) e dois pela
revogação (Edson Fachin e Luís Roberto Barroso). Faltam os votos de Marco
Aurélio Mello e Luiz Fux.
A decisão da Segunda Turma teve de ser apreciada pelo
plenário porque, ao anular as condenações de Lula, em decisão individual em 8
de março, o ministro Edson Fachin entendeu que, se a condenação estava anulada,
era descabido um pedido da defesa de declaração da suspeição do ex-juiz.
Mesmo assim, a Segunda Turma decidiu julgar o pedido, em 23
de março, e, por 3 votos a 2, declarou Moro parcial.
Isso gerou um conflito entre a decisão individual do
ministro e a decisão da turma, o que fez com que o caso fosse levado para decisão
do plenário.
Com a manutenção pelo plenário da decisão da Segunda Turma,
a suspeição de Moro fica mantida no processo do triplex. Assim, o caso
precisará ser retomado da estaca zero pelos investigadores. As provas já
colhidas serão anuladas e não poderão ser utilizadas em um eventual novo
julgamento pela Justiça Federal do Distrito Federal, para onde o caso foi
enviado (leia mais abaixo).
A decisão do plenário vale somente para o caso de Lula.
Advogados de outros condenados pelo ex-juiz poderão, eventualmente, tentar derrubar
as condenações dos clientes, mas terão de provar, nos casos específicos, que
Moro agiu com parcialidade.
Votos dos ministros
Edson Fachin - No
voto, Fachin defendeu que, como a Justiça Federal do Paraná foi considerada por
ele incompetente para julgar os processos de Lula, também o ex-juiz não poderia
ter conduzido as ações. Por isso, na interpretação dele, o questionamento sobre
a parcialidade perdeu o objeto e não poderia ter sido julgado. ”A consequência
é a extinção do habeas corpus [que discute a parcialidade] sem julgamento do
mérito”, disse.
Gilmar Mendes - O
ministro Gilmar Mendes, integrante da Segunda Turma, que declarou a suspeição
de Moro, pediu para votar antes dos colegas e divergiu de Fachin. O ministro
classificou o envio da questão ao plenário como “manobra”. “Não é decente, não
é legal, como dizem os jovens. Esse tipo de manobra é um jogo de falsos
espertos", afirmou. Para Gilmar Mendes, o plenário não pode modificar
decisão da Segunda Turma, "sob risco de violação do devido processo
legal". "Aquele passeio trôpego dos processos, a que já me referi, é
constrangedor, não é adequado", criticou.
Nunes Marques - O
ministro Nunes Marques acompanhou a divergência manifestada por Gilmar Mendes,
sob o argumento de que a própria Segunda Turma rejeitou enviar o tema ao
plenário. “Não vejo como declarar a nulidade de acórdão proferido pela Segunda
Turma”, afirmou.
Alexandre de Moraes
- O ministro Alexandre de Moraes também entendeu que o plenário não pode rever
uma decisão da Turma. “Não é possível ao plenário rever decisão da Turma nessa
hipótese”, argumentou, acompanhando o entendimento de Gilmar Mendes.
Luís Roberto Barroso
- Acompanhou o voto de Fachin. Disse que a suspeição de Moro poderia ter sido
julgada antes da decisão de Fachin, mas ficou “retida” em razão de pedido de
vista (mais tempo para analisar o caso) do ministro Gilmar Mendes. Afirmou que
a Lava Jato revelou um quadro “impressionante e assustador de corrupção,
estrutural, sistêmica e institucionalizada” e criticou o vazamento “criminoso”
de conversas de procuradores da operação. “Num show de hipocrisia, muitos se
mostraram horrorizados com aquilo a que indevidamente tiveram acesso, gente
cuja reputação não resistiria a meia hora de vazamento de suas conversas
privadas”, disse.
Ricardo Lewandowski
- Acompanhou integralmente o voto do ministro Gilmar Mendes. “A corrupção é um
mal a ser erradicado entre nós e de forma definitiva, porque tanto mal causa ao
progresso da nação. Isso é evidente. E não quero deixar a impressão de que os
que votaram a favor da suspeição do ex-juiz Sergio Moro são coniventes com a
corrupção”.
Dias Toffoli -
Acompanhou a divergência, entendendo que já há uma decisão a favor da defesa de
Lula na Segunda Turma. “Nem seria necessário estamos aqui discutindo. É algo
desnecessário”, afirmou. “A defesa já tem um provimento favorável no âmbito da
Segunda Turma”, declarou.
Cármen Lúcia -
Também considerou válida a decisão da Segunda Turma, e acompanhou o voto
divergente de Gilmar Mendes. “Considero prejudicado, uma vez que já houve
julgamento”, afirmou.
Rosa Weber -
Ministra também acompanhou a divergência, “considerando que o plenário não é
instância revisora de decisão da turma” – G1.
Carlos Magno
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