O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta
segunda-feira, 26, que há preocupação sobre a falta da 2ª dose da vacina
Coronavac. Em audiência pública no Senado, ele citou atrasos na entrega de
novos lotes do imunizante contra a covid-19 envasado pelo Instituto Butantan.
Sem entrar em detalhes, o ministro disse que irá divulgar nota técnica sobre a
aplicação da vacina neste cenário.
No fim de março, o governo federal passou a orientar que não
era mais preciso reservar metade dos lotes da Coronvac para garantir a segunda
dose. No último dia 13, a Saúde disse que mais de 1,5 milhão de pessoas não
retornaram para a receber o complemento da vacinação dentro do prazo.
"Agora, em fase de retardo do insumo, há dificuldade com essa segunda dose",
disse o ministro. Segundo Queiroga, nova entrega da Coronavac só deve ocorrer
em 10 dias.
O ministro citou decisão da Justiça para garantir o estoque
da vacina complementar em João Pessoa (PB). "Só que se todos
judicializarem, não tem doses para todo mundo. Não é a judicialização que vai
resolver esse problema", declarou.
O ministério tem cobrado que municípios se organizem para
garantir que o intervalo entre as aplicações das vacinas da covid-19 seja
respeitado. Segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM),
divulgado no último dia 16, cerca de 1.426 municípios não reservaram a segunda
dose da vacina. A entidade recebeu cerca de 3 mil respostas sobre o tema.
Na mesma reunião, o secretário de Vigilância em Saúde,
Arnaldo Medeiros, disse que o ministério tem se esforçado para equilibrar o
envio de vacinas destinadas para cada etapa da imunização. "Estamos
monitorando aqueles Estados com déficit da segunda dose. Hoje o quantitativo de
segunda dose que estamos 'devendo' é relativamente pequeno", afirmou
Medeiros. "O quantitativo para repor está dentro do prazo vacinal (da
segunda aplicação)", completou.
Queiroga também disse aos senadores que mudanças feitas por
prefeitos e governadores na ordem de prioridades da vacinação atrapalham a
campanha nacional contra a covid-19. O ministro pediu respeito à lista
elaborada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). "Ocorre que na
'bipartite' (reunião entre Estados e municípios), às vezes se muda orientação
para incluir um grupo ou outro. Isso termina por alterar a harmonia do nosso
programa. Atrapalha o processo de vacinação", disse o ministro.
Segundo Queiroga, não há razão para criar polêmica sobre a
diferença entre vacinas distribuídas e já utilizadas, pois muitas foram
reservadas para a segunda aplicação ou estão em rota de entrega até os
municípios. "Tudo o que não precisamos nesse momento é polêmica",
disse. Essa diferença tem sido usada por apoiadores do presidente Jair
Bolsonaro para criticar o desempenho de governadores de prefeitos.
O secretário-executivo da Saúde, Rodrigo Cruz, disse que o
grupo prioritário (cerca de 77,2 milhões de pessoas) deve receber a segunda
dose até setembro. Na primeira quinzena de junho, todo esse grupo já terá
recebido a primeira vacina, segundo Cruz. Assim, a partir desse período há
expectativa de que o restante da população já comece a receber as vacinas.
Segundo Cruz, o ministério negocia com Pfizer e Janssen
doses para campanhas de 2021 e do próximo ano. 2,5 milhões de doses da Pfizer
devem ser entregues em maio, disse Cruz.
Uso de máscaras
O ministro foi questionado por senadores sobre as
aglomerações promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro, além da falta de
campanha eficaz de comunicação do governo federal sobre o uso de máscara e o
distanciamento social. Na sua resposta, Queiroga ignorou o comportamento do
presidente e disse que as campanhas devem ser ampliadas. "A gente ainda
não conseguiu convencer a população brasileira em relação aos malefícios dessas
aglomerações fúteis", afirmou.
Na semana passada, o ministro acompanhou Bolsonaro em
agendas em Manaus (AM) e Belém (PA). O presidente desrespeitou o distanciamento
social e se aglomerou com apoiadores, mesmo após o governo do Amazonas alertar
sobre risco de nova alta da doença no Estado.
Queiroga chegou a citar que o senador Izalci Lucas (PSDB-DF)
andava de bicicleta, sem máscaras, no momento da audiência, mas ponderou que
não era uma crítica. O senador, então, disse que há "muita dúvida"
sobre a possibilidade de dispensar a máscara ao praticar esportes em locais
abertos. "A gente não sabe, porque não há uma campanha, como deveria
ter", disse Izalci. Queiroga respondeu que há "controvérsia"
sobre a "real utilidade" da máscara nessas situações, mas que o
ministério irá editar um protocolo como se comportar em transportes públicos,
por exemplo.
A reunião no Senado ocorreu na véspera da escolha de
presidente e relator da CPI da Covid-19. Queiroga esteve na sessão por cerca de
1 hora. Em seguida, deixou seus auxiliares respondendo aos questionamentos dos
parlamentares. Presidente da comissão mista da covid-19, senador Confúcio Moura
(MDB-RO) disse que o ministro teve de deixar o debate para se reunir com a
Pfizer. Ao deixar a audiência, Queiroga afirmou que iria a uma agenda no
Palácio do Planalto. O governo negocia a compra de 100 milhões de vacinas para
a covid-19 da empresa para a campanha de 2022.
Queiroga afirmou que há uma redução de casos e óbitos da
covid-19 no Brasil, mas não mostrou dados sobre o cenário da pandemia. Ele
reconheceu que os números ainda são "muito elevados". O ministro
também disse que a escassez de oxigênio medicinal "não tem sido tão forte
como foi há 1 mês" e prometeu a entrega de mais medicamentos usados para a
intubação de pacientes graves da covid-19.
Cronograma das vacinas
O ministro afirmou que não reduziu metas de vacinação, mas
que retirou do cronograma de entrega as previsões sobre doses que não receberam
ainda o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como a
indiana Covaxin e a russa Sputnik V. No sábado, 24, o ministério voltou a
apresentar esse calendário após mais de 1 mês e por ordem do Supremo Tribunal
Federal (STF). A atualização do documento tem previsão de 22% de doses a menos
ao primeiro semestre.
Segundo Queiroga, o ministério mantém diálogo com empresas e
embaixadas para conseguir a compra de novos imunizantes. Ele citou que há
negociação com marcas chinesas, mas disse que não pode dar detalhes sobre as
conversas.
O ministro também declarou que há conversas
"técnicas" sobre a viabilidade de produzir vacinas contra a covid-19
em fábricas de imunizantes para animais. "É uma excelente
alternativa". Queiroga minimizou o corte de recursos paro desenvolvimento
de uma vacina nacional e disse que irá tratar sobre o tema com o ministro da
Economia, Paulo Gudes, "no momento oportuno".
Queiroga disse que irá pedir para a Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) avaliar a criação de um protocolo
clínico para a covid-19, que trate desde casos leves aos graves. O ministro
afirmou que a Saúde não irá "emitir juízo de valor sobre fármacos",
no primeiro momento, pois a pasta pode ser acionada em recurso contrário à
decisão da Conitec.
O ministério deve pedir para a comissão avaliar se inclui
neste protocolo desde drogas com aval da Anvisa para a covid-19, como o
coquetel Regen-Cov2, além da cloroquina, que não tem eficácia para a covid-19,
mas se tornou bandeira do governo Bolsonaro – Estadão.
Carlos Magno
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